Brasil firma acordos estratégicos com Rússia e China para ampliar cooperação em infraestrutura, finanças e meio ambiente, fortalecendo a atuação conjunta no BRICS e no G20 e sinalizando movimentos diplomáticos com impacto global.
O governo brasileiro oficializou, no Diário Oficial da União desta segunda-feira (11), dois memorandos de entendimento com Rússia e China para criar mecanismos permanentes de diálogo econômico e financeiro.
Os documentos estabelecem canais estáveis de cooperação em fóruns multilaterais como Brics e G20 e abrem espaço para projetos conjuntos em infraestrutura e meio ambiente. Não há criação de obrigações jurídicas ou compromissos financeiros automáticos.
O que foi formalizado
Pelo lado russo, o memorando, assinado por Fernando Haddad e Anton Siluanov, institui um Diálogo Econômico e Financeiro bilateral.
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A coordenação ficará a cargo de representantes seniores dos dois ministérios, com reuniões presenciais ou virtuais e pauta definida de comum acordo.
O objetivo é reunir especialistas, trocar informações técnicas e integrar o debate às atividades já conduzidas pela Comissão Intergovernamental Brasil–Rússia de Cooperação Econômica, Comercial, Científica e Tecnológica.
No caso chinês, o memorando aprofunda entendimentos de 2024 e maio de 2025 para aproximar estratégias nacionais de desenvolvimento.
Do lado brasileiro, entram na agenda a Nova Indústria Brasil (NIB), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Plano de Transformação Ecológica e o Programa Rotas da Integração Sul-Americana; do lado chinês, a Iniciativa Cinturão e Rota.
A Cosban permanece como instância principal de coordenação bilateral.
Eixos de trabalho e confidencialidade
Os memorandos elencam áreas prioritárias de cooperação que abrangem políticas macroeconômicas em níveis nacional, regional e global; enfrentamento de desafios econômicos e discussão de reformas; cooperação tributária; financiamento de infraestrutura; novas frentes de cooperação bilateral; e atuação coordenada em fóruns como Brics, G20 e instituições financeiras internacionais, além de outros temas de interesse comum.
As partes comprometem-se a custear as próprias despesas e a manter confidenciais as informações trocadas, salvo autorização expressa.
Diálogo Brasil–Rússia: canal técnico permanente
O arranjo com Moscou cria um canal técnico para acompanhamento contínuo da conjuntura, intercâmbio de experiências e desenho de potenciais iniciativas conjuntas.
A proposta é que as reuniões sirvam para ouvir especialistas e alimentar as discussões já em curso no mecanismo intergovernamental Brasil–Rússia, de forma a acelerar encaminhamentos práticos em temas econômicos e financeiros.
Trata-se de um marco político voltado à coordenação e não de um tratado com obrigações compulsórias.
Além de reforçar a cooperação tributária e o debate sobre financiamento de projetos, o diálogo pretende alinhar posições em organismos multilaterais e aprofundar a cooperação no âmbito financeiro do Brics.
A diretriz é manter a comunicação aberta e previsível entre os ministérios, com flexibilidade de formato e periodicidade.
Eixo Brasil–China: integração de estratégias e finanças
O memorando com Pequim enfatiza a cooperação em finanças e explicita o apoio chinês ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre, iniciativa brasileira com expectativa de ganhar tração como entrega central da COP30, que será realizada em Belém (PA).
O texto também ressalta a importância de que países desenvolvidos contribuam para mecanismos internacionais de proteção das florestas tropicais.
A sinalização de aporte da China ao fundo, reportada em julho, reforça o esforço brasileiro de diversificar as fontes de financiamento climático, atraindo também economias emergentes para além das contribuições tradicionais.
A arquitetura do mecanismo, apresentada por Brasília em 2023, prevê incentivos financeiros vinculados à preservação de áreas de floresta, com governança multilateral.
BRICS e G20: coordenação em fóruns multilaterais
Os documentos reiteram a intenção de coordenar políticas e posições em debates críticos no Brics e no G20, a partir de uma agenda que inclui estabilidade macroeconômica, financiamento ao desenvolvimento e reforma da governança financeira internacional.
Em 2025, o Brasil tem papel de destaque na articulação do pilar financeiro do Brics, o que ajuda a explicar a priorização de canais técnicos com parceiros estratégicos.
Ainda que os memorandos não detalhem projetos específicos nem definam metas quantitativas, a ênfase em infraestrutura e integração regional sinaliza interesse de longo prazo.
A coordenação poderá, por exemplo, acelerar estudos e modelagens para iniciativas que se encaixem nos planos nacionais de investimento, respeitando as salvaguardas e as regras de cada país.
Sem obrigação legal nem valores fixados
Os dois entendimentos deixam claro que não criam obrigações jurídicas ou compromissos financeiros automáticos.
Cada parte assume seus próprios custos nas atividades conjuntas e a troca de informações seguirá regras de confidencialidade.
Essas cláusulas são recorrentes em memorandos desenhados para abrir portas e organizar o diálogo antes da negociação de instrumentos vinculantes ou de contratos específicos.
Na prática, o efeito imediato é institucional: criar rotinas de trabalho e pontos focais para acelerar a tomada de decisão quando surgirem oportunidades, seja em obras de infraestrutura, seja em cooperação tributária, seja em iniciativas ambientais com impacto regional.
O detalhamento de projetos, orçamentos e cronogramas dependerá de etapas futuras.
Próximos passos e expectativa ambiental
Com a COP30 no horizonte e a pauta climática no centro das prioridades diplomáticas brasileiras, a confirmação de apoio ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre ganha relevo.
A parceria com a China pode ampliar o leque de financiadores, ao mesmo tempo em que o Brasil tenta construir convergência com outras economias, emergentes e desenvolvidas, para viabilizar aportes e regras de desembolso focadas em resultados de conservação.
Enquanto isso, o canal com a Rússia oferece previsibilidade para temas sensíveis da agenda econômica, do acompanhamento do quadro macro às alternativas de financiamento.
A evolução concreta dependerá da capacidade de transformar o diálogo técnico em iniciativas negociadas caso a caso, compatíveis com as legislações e as prioridades nacionais.