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Brasil entra no “encanamento” financeiro da China e CIPS pode driblar sanções e baratear exportações

Escrito por Geovane Souza
Publicado em 26/08/2025 às 13:36
Brasil entra no “encanamento” financeiro da China e CIPS pode driblar sanções e baratear exportações
Foto: Esse avanço acontece em paralelo ao crescimento do uso do yuan fora da China.
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O CIPS, sistema de pagamentos transfronteiriços da China, cresce em volume e alcance e já tem bancos no Brasil conectados. Entenda como contratos em RMB (yuan) podem cortar custos no agro, mineração e energia.

O CIPS (Cross-Border Interbank Payment System) é a infraestrutura criada pelo Banco Popular da China para compensação e liquidação de pagamentos internacionais em renminbi (RMB). Em 2024, o sistema processou RMB 175,49 trilhões e manteve disponibilidade de 99,999%, segundo dados oficiais, um salto que o coloca no radar de exportadores que vendem para a China.

Além do volume, o CIPS opera em regime “5×24h + 4h”, ampliando a janela de processamento global e reduzindo atrito operacional quando comparado a arranjos com múltiplos bancos correspondentes. Na prática, é menos reenvio de mensagens, menos reconciliação e mais previsibilidade para quem fatura em RMB.

Esse avanço acontece em paralelo ao crescimento do uso do yuan fora da China. Em julho de 2025, a SWIFT manteve o RMB como 6ª moeda em pagamentos globais por valor (2,88%), mas mostrou aceleração no trade finance, onde o yuan atingiu 7,70% de participação, sinal de que a moeda avança mais rápido no financiamento ao comércio que na liquidação de todas as faturas.

Para o Brasil, maior exportador de soja, minério e petróleo para o mercado chinês, receber em RMB via CIPS pode baratear custos e reduzir riscos de cadeia. Mas é preciso entender como o CIPS funciona, quem já está conectado aqui, e quais limites permanecem.

Entenda melhor como funciona o CIPS (o “Swift chinês”)

O CIPS é a “espinha dorsal” para pagamentos transfronteiriços em RMB, com participantes diretos e indiretos no mundo inteiro. Ele não é idêntico ao SWIFT (rede de mensageria global), nem ao CHIPS (liquidação em dólares nos EUA). O CIPS foca em RMB e, em muitos fluxos, usa SWIFT para mensageria, o que explica por que não substitui de imediato as redes ocidentais. Resumo: o CIPS reduz a exposição ao dólar, mas não elimina a interdependência com a infraestrutura global.

No aspecto operacional, a segunda fase do CIPS expandiu a janela para 5×24h + 4h, aumentando a sobreposição de horários com Américas, Europa e Ásia. Isso ajuda a encurtar prazos e padronizar rotas para pagamentos de comércio exterior com a China.

O crescimento é constante: o site do CIPS traz contadores de participantes (176 diretos e 1.531 indiretos em 25/08/2025) e destaca o volume anual de 2024. Já a FXC Intelligence calcula que o número de transações no ano passado chegou a 8,2 milhões (+24% a/a), reforçando a tendência de adoção.

RMB nos pagamentos e no trade finance, dados mais recentes da SWIFT

Nos pagamentos globais, o RMB manteve 2,88% de participação em julho de 2025 (6ª posição), segundo o RMB Tracker da SWIFT. É um patamar modesto frente a USD e EUR, mas estável em 2025 após oscilações no primeiro semestre.

Onde o avanço é mais visível é no trade finance. A edição de agosto de 2025 do RMB Tracker mostra que, em julho, o yuan alcançou 7,70% de participação nos instrumentos documentários (MT 400/700), atrás do USD e muito próximo do euro — um salto em relação a 2023. Para o exportador, isso indica mais bancos e contrapartes dispostos a financiar carta de crédito e cobrança documentária em RMB.

Esse pano de fundo se conecta a movimentos de bancos globais que entram no CIPS como participantes diretos, caso do HSBC Hong Kong — sinal de que o ecossistema de liquidez e serviços em RMB está se adensando fora da China.

Brasil no CIPS, banco de compensação e participantes

O Brasil já tem “encanamento” local para RMB. Em fev/2023, o Banco Popular da China designou o ICBC Brasil como banco de compensação de RMB no país — é ele quem liquida e compensa pagamentos em moeda chinesa no território nacional, reduzindo fricções. Isso é crucial para cortar intermediários e prazos.

Na lista de participantes diretos do CIPS aparecem o BOCOM BBM S.A. e o Bank of China (Brasil) S.A., além da referência ao ICBC (Brazil) RMB clearing bank. Em termos práticos, há instituições ativas no Brasil aptas a processar fluxos em RMB e a oferecer produtos de trade finance conexos.

Casos no Brasil já acontecem. Em abril de 2024, a CGN obteve financiamento de comércio em RMB (¥160 milhões) via ICBC Brasil para importar módulos solares de um projeto no Ceará — um exemplo concreto de cadeia de energia operando em yuan, com redução de exposição ao dólar.

Agro, mineração e energia: ganhos e limites de sanções e hedge

No agro, contratos de soja, carne e açúcar podem evitar dupla conversão (RMB→USD→BRL), reduzindo custo e volatilidade entre pedido e recebimento. Mineração (minério de ferro, níquel) tende a se beneficiar em acordos de longo prazo com compradores chineses, simplificando a liquidação. Na energia, o trade finance em RMB já aparece na importação de módulos solares e pode se expandir para óleo e hidrogênio conforme o ecossistema amadurece.

Sanções: o que o CIPS muda (e não muda). O CIPS diminui a dependência de infraestruturas ligadas ao dólar e cria rotas alternativas — mas não imuniza empresas contra sanções secundárias. Estudos do CSIS e de centros europeus lembram que o CIPS ainda se apoia no SWIFT para grande parte da mensageria e que bancos fora da China podem evitar riscos quando há pressão regulatória. Resumo: o CIPS reduz exposição, mas o compliance continua mandatório.

Hedge em RMB: exportadores podem travar CNH com NDF/forwards ou estruturar swaps alinhados ao ciclo de caixa (embarque, entrega, recebimento). Em geral, faz sentido cobrir parcialmente fluxos em RMB e comparar o custo de proteção direta em CNH versus via USD, levando em conta spreads, basis e prazos oferecidos pelo banco.

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Geovane Souza

Geovane Souza é especialista em criação de conteúdo na internet, ações de SEO e marketing digital. Nas horas vagas é Universitário de Sistemas de Informação no IFBA Campus de Vitória da Conquista.

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