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Brasil e México: por que duas potências em tamanho nunca conseguiram ser potências de verdade no cenário mundial

Publicado em 31/10/2025 às 19:36
Brasil e México seguem grandes em território, mas sem se tornarem potências. Instituições frágeis limitam desenvolvimento e freiam produtividade duradoura.
Brasil e México seguem grandes em território, mas sem se tornarem potências. Instituições frágeis limitam desenvolvimento e freiam produtividade duradoura.
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Leituras históricas, escolhas institucionais e ciclos externos ajudam a explicar por que o Brasil e o México seguem grandes em território e população, mas não consolidaram influência global equivalente

O Brasil e o México pertencem ao grupo raro de países muito extensos, com recursos naturais abundantes e milhões de habitantes. Ainda assim, não converteram escala em poder global estável. A chave está menos no “quanto” e mais no “como”. Ao longo de dois séculos, escolhas de colonização, desenho institucional e estratégia econômica criaram trajetórias marcadas por avanços episódicos e recuos frequentes, mantendo ambos dependentes dos humores do ciclo mundial.

Na prática, o Brasil e o México alternam fases de crescimento acelerado com períodos de estagnação. Quando o vento externo favorece, as economias avançam; quando muda, os ganhos se desfazem. Essa volatilidade decorre de instituições que não conferem continuidade às políticas públicas, enfraquecendo planejamento, produtividade e sofisticação tecnológica de longo prazo.

Origem de colônia de exploração e seus efeitos prolongados

O ponto de partida importa. Brasil e México se organizaram como colônias de exploração, voltadas a extrair riqueza para metrópoles ibéricas, sem a criação de estruturas duráveis de autogoverno, urbanização e ciência.

O resultado foi a formação de economias primário-exportadoras, com baixa densidade institucional e um mercado interno que demorou a se integrar.

Mesmo após a independência, o padrão extrativo persistiu, com elites políticas e econômicas acomodadas em cadeias de commodities e receitas fiscais cíclicas.

Brasil e México avançaram quando a demanda externa puxou, mas raramente sustentaram políticas anticíclicas que blindassem orçamento, investimento e inovação quando o cenário global virou.

Industrialização tardia, avanços pontuais e desindustrialização

A industrialização ampla chegou tardiamente e de forma intermitente. Entre meados do século XX e meados dos anos 1980, houve expansão industrial relevante, urbanização acelerada e ganho de complexidade produtiva.

No entanto, faltou continuidade e política de Estado estável para consolidar produtividade, educação técnica e cadeias de valor mais sofisticadas.

A partir do final dos anos 1980, o processo de desindustrialização ganhou força, com perda relativa de participação da indústria e crescente primarização das exportações.

No Brasil, isso significou maior sensibilidade ao preço de commodities; no México, maior dependência do ciclo dos Estados Unidos, com efeitos diretos sobre emprego, crédito e balança comercial.

Dependência de ciclos externos e baixa coerência de longo prazo

Sem instituições que garantam continuidade de estratégias além de governos, Brasil e México tendem a reconfigurar direções a cada ciclo político.

Planos industriais, educacionais e tecnológicos são descontinuados antes de maturar, o que impede a acumulação de capacidades produtivas e tecnológicas necessárias para competir no topo da cadeia global.

Quando commodities sobem, o Brasil melhora termos de troca e arrecadação. Quando a economia dos EUA se aquece, o México acelera via comércio e investimentos.

Nos dois casos, a âncora vem de fora. Falta a engrenagem autônoma que mantém investimento, P&D e qualificação mesmo em maré baixa, reduzindo volatilidade e preservando trajetórias de produtividade.

O contraste com potências de referência

Potências consolidadas sustentam coerência intertemporal. China, Japão e Estados Unidos operam com objetivos nacionais que atravessam governos, preservando investimentos em educação, ciência, infraestrutura e inovação. A execução se ajusta, mas a rota permanece.

Esse fio condutor cria previsibilidade para o capital produtivo e encoraja projetos de décadas.

No Brasil, a alternância de rumos corrói a confiança e trava a escala. No México, a excessiva exposição a um único parceiro limita autonomia estratégica.

Sem um núcleo duro institucional que proteja políticas de longo prazo, qualquer agenda de sofisticação produtiva fica vulnerável a choques cíclicos e disputas de curto prazo.

Segurança jurídica, coordenação e capacidade de execução

Instituições confiáveis reduzem custo de capital e atraem investimento paciente. O que separa potência potencial de potência efetiva é a previsibilidade.

Quando regras mudam pouco, o setor privado amplia horizonte de planejamento, governos coordenam infraestrutura com uso do solo e educação, e ganhos de produtividade compõem ao longo do tempo.

No Brasil, ganhos locais e setoriais se perdem sem coordenação nacional estável. No México, cadeias integradas de exportação convivem com desigualdades regionais e vulnerabilidades institucionais.

Em ambos, a lacuna está na capacidade de execução contínua, que transforma metas em rotinas orçamentárias, metas educacionais e metas tecnológicas mensuráveis.

Caminho de saída: foco em produtividade e políticas que sobrevivem a governos

Superar o padrão cíclico exige blindar políticas de longo prazo: metas de aprendizagem com monitoramento anual, formação técnica em escala, ambiente regulatório que estimule P&D e integração logística que reduza custo Brasil e gargalos mexicanos. Sem inventar modas, a agenda é persistência.

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No Brasil, combinar agro competitivo com reindustrialização de média-alta tecnologia e serviços intensivos em conhecimento é caminho claro.

No México, diversificar dependências e subir degraus tecnológicos nas cadeias já integradas amplia autonomia. Em ambos, o ganho vem de acumulação lenta e previsível, não de saltos episódicos.

Território e recursos são condições de partida, não garantia de chegada. O Brasil segue grande, mas precisa ser coerente; o México é integrado, mas precisa ser mais autônomo.

Em comum, falta um núcleo institucional que proteja estratégias de décadas, blindando educação, ciência, indústria e infraestrutura das marés políticas e dos choques externos.

Na sua leitura, qual seria a primeira política de Estado que deveria atravessar governos para mudar o patamar do Brasil nos próximos 20 anos: educação básica com metas imexíveis, infraestrutura logística com cronogramas blindados ou P&D com compromisso plurianual?

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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