Com US$ 94 bilhões em 2024, Brasil e China impulsionam o agro; soja lidera a pauta enquanto energia e ferrovias reduzem custos e ampliam acesso a mercado
O agro brasileiro reforçou sua relevância ao encontrar na China um destino com apetite contínuo por soja, carnes e milho, resultando em US$ 94 bilhões exportados em 2024 e numa relação que influencia preços, investimentos e decisões logísticas. Em junho de 2025, 80% da soja importada pela China teve origem brasileira, evidenciando uma complementaridade produtiva que dá lastro à balança comercial e reduz volatilidade na receita do produtor. Na relação entre Brasil e China, a soja ancora o agro exportador.
Conforme analista Manoel Perez, essa dinâmica vai além do embarque de grãos. Energia, ferrovias e transmissão elétrica formam a base da competitividade do agro ao encurtar rotas, reduzir perdas e permitir janelas de escoamento mais eficientes. O desafio estratégico está em agregar valor, elevando a participação de produtos processados, biocombustíveis e insumos industriais conectados à cadeia agrícola para diversificar receitas e mitigar riscos.
Comércio bilateral e peso do agro
A relação Brasil–China consolidou-se como pilar do comércio exterior brasileiro, com o agro respondendo por parcela significativa das vendas.
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A demanda chinesa estabiliza volumes, favorece contratos de longo prazo e melhora a previsibilidade de caixa para cooperativas e tradings que operam em múltiplas safras e regiões.
Ao mesmo tempo, o perfil dos embarques revela concentração em soja, carnes e milho.
Essa concentração garante escala e eficiência portuária, mas exige planejamento logístico fino para sincronizar plantio, colheita, armazenagem e janela de exportação, especialmente em corredores de alto fluxo.
A coordenação entre Brasil e China define janelas de embarque e financiamento logístico.
Soja líder e diversificação da pauta
A soja é o vetor dominante no agro, com forte tração no mercado chinês.
A presença de esmagadoras e cadeias de ração e proteína animal amplia a demanda por grão brasileiro, gerando efeitos multiplicadores sobre transporte, armazenagem e serviços de inspeção e qualidade.
Há sinais de diversificação gradual com carnes e milho, que ganham espaço em contratos e programas sanitários específicos.
Para consolidar essa ampliação, o agro precisa de padrões sanitários robustos, rastreabilidade e processos padronizados que assegurem consistência de entrega e performance industrial no destino.
Interdependência industrial e tecnologia
A China mantém liderança industrial em equipamentos, painéis solares e componentes amplamente utilizados no Brasil, criando um ciclo de interdependência.
O agro exporta alimentos e fibras, enquanto importa tecnologia, máquinas e sistemas que aumentam produtividade no campo e reduzem custos na pós-colheita.
Esse intercâmbio fortalece transferência tecnológica e eleva a exigência de qualificação de mão de obra para operar máquinas mais sofisticadas.
A decisão de investir em automação e energia limpa nos armazéns e terminais logísticos baixa o custo por tonelada, melhora a pegada ambiental e amplia a resiliência operacional.
Infraestrutura: energia e ferrovias como alavancas
Para o agro, energia confiável e ferrovias eficientes determinam o custo por tonelada. A competitividade do agro depende de energia confiável e de ferrovias com capacidade para volumes crescentes.
A expansão de linhas de transmissão e de corredores ferroviários reduz gargalos, encurta tempos de ciclo e diminui o frete na etapa mais sensível do escoamento.
Ao integrar portos modernizados com pátios ferroviários e terminais retroportuários, o Brasil ganha previsibilidade na janela de exportação e reduz custos logísticos que corroem margens.
Esse encaixe entre infraestrutura e produção eleva a competitividade externa e sustenta o crescimento do volume embarcado.
Agregar valor: do grão ao produto com marca
O próximo salto do agro é agregar valor com mais processados, biocombustíveis, ingredientes e embalados que capturem margens superiores e diluam riscos de preço do grão.
Clusters agroindustriais próximos às áreas de produção podem reduzir perdas, aproveitar calor residual, gerar empregos e fortalecer o ecossistema regional.
Para isso, políticas de inovação, financiamento e qualificação precisam alinhar incentivos a projetos de industrialização ancorados em logística eficiente e em contratos de energia competitiva.
O foco é transformar escala agrícola em escala industrial, mantendo a complementaridade com a demanda chinesa e ampliando o portfólio exportador.
Sustentabilidade e rastreabilidade como vantagem competitiva
A expansão do agro exige rastreabilidade, compliance ambiental e métricas claras de emissões para acessar mercados premium.
Sistemas digitais de origem e monitoramento atestam boas práticas e destravem prêmios por qualidade e sustentabilidade, especialmente em cadeias sensíveis como soja e carnes.
Ao incorporar energia renovável em armazenagem e processamento, e eficiência logística na multimodalidade, o agro melhora sua intensidade de carbono e posiciona o Brasil como fornecedor confiável para compradores que valorizam critérios ESG sem abrir mão de escala e regularidade.
A parceria Brasil–China movimenta o agro, amplia o mercado para soja, carnes e milho e acelera investimentos em energia e ferrovias que sustentam a competitividade.
O passo decisivo é agregar valor, internalizando etapas industriais e consolidando rastreabilidade para capturar margens e reduzir vulnerabilidades.
Qual é, na sua opinião, a prioridade número um para o agro brasileiro nos próximos 24 meses: ferrovias, energia competitiva ou industrialização perto da origem?



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