O Brasil depende de 60% do diesel russo, mas enfrenta pressão inédita: Trump ameaça impor sanções a quem continuar comprando e Putin anunciou cortes nas exportações, deixando o país em meio a um risco energético e diplomático crescente
Nos últimos anos, o Brasil se tornou um dos principais compradores marítimos de diesel russo, ao lado da Turquia. Segundo dados da LSEG, as exportações russas de diesel para o Brasil somaram cerca de 7,4 milhões de toneladas em 2024 — um aumento de 15% em relação ao ano anterior.
Essa dependência crescente não ocorreu por acaso: o diesel russo chega ao mercado brasileiro com preços muito competitivos, pressionando importações de outros fornecedores.
Entretanto, esse cenário confortável enfrenta novas ameaças. Por um lado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, renovou recentemente sua retórica de sanções ao anunciar que está disposto a impor penalidades a países que continuem comprando petróleo russo, mas condiciona essas medidas à adesão simultânea de aliados da OTAN.
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Por outro lado, a Rússia anunciou uma restrição parcial nas exportações de diesel até o fim de 2025, em resposta a ataques a refinarias e à necessidade de preservar abastecimento interno.
Tensões e ameaças: Trump, sanções secundárias e a esperança russa
Em meados de setembro de 2025, Trump afirmou que está “pronto” para impor sanções adicionais à Rússia — mas somente se todas as nações da OTAN deixarem de comprar combustíveis russos.
Essa estratégia funciona como uma espécie de “pegadinha diplomática”: ao exigir ação coletiva, ele evita agir unilateralmente contra países vulneráveis que mantêm laços comerciais.
Paralelamente, Moscou decidiu impor uma restrição parcial à exportação de diesel (afetando revendedores, mas não produtores diretos), estendendo também o banimento de exportações de gasolina.
A justificativa oficial é a pressão sobre o mercado interno e a manutenção de estoques estratégicos diante dos danos sofridos por refinarias (em decorrência de ataques ucranianos). Operadores do mercado, contudo, já observam que a medida pode ter impacto limitado no fluxo de diesel russo, já que grande parte dos volumes é embarcada por produtores diretamente via oleodutos.
Impactos esperados no Brasil: preços, fornecimento e riscos estratégicos
Para o Brasil, essa confluência de pressões externas e ajustes russos lança incertezas sérias. Em primeiro lugar, o risco de que novas sanções americanas (ou secundárias) atinjam empresas, portos ou seguradoras brasileiras envolvidas em cadeias que importam diesel russo.
Tal cenário poderia tornar operações mais onerosas, dificultar seguros marítimos e alterar decisões de investimento no setor de energia.
Em segundo lugar, com as exportações russas parcialmente tolhidas, o preço desse diesel irá incorporar prêmios de risco maiores — o que pode tornar mais competitivas origens alternativas, como o Golfo do México (EUA) e o Oriente Médio.
No entanto, essas rotas têm limitações logísticas, concernentes a disponibilidade de navios, prazos de entrega e contratos já fechados.
Além disso, empresas brasileiras, tradings e a Petrobras terão de se adaptar ao novo cenário do “mix de origem” de sua matriz, possivelmente reavaliando contratos de longo prazo e estratégias de hedge.
O mercado nacional poderá sentir reajustes, principalmente nos preços ao consumidor final e no custo do transporte rodoviário e agrícola, afetando ainda o escoamento da safra.
Qual será o desfecho?
Se as ameaças de Trump se transformarem em sanções efetivas, o Brasil enfrentará uma escolha difícil: manter o abastecimento com risco político ou renegociar com fornecedores menos arriscados — possivelmente a preços mais altos.
Já sob a ótica russa, as restrições de exportação podem aumentar seu poder de barganha em negociações energéticas, forçando compradores a aceitar preços menos favoráveis.
Em última análise, o Brasil está em um ponto vulnerável: sua estratégica dependência do diesel russo e exposição geopolítica colocam o país sob risco de sofrer consequências não apenas econômicas, mas diplomáticas, caso esse jogo entre Washington e Moscou escale.