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Brasil deixa de ser consumidor e vira fornecedor de tecnologia de ponta para o CERN, com sistema OpenIPMC criado pela Unesp e fabricado em SP

Escrito por Carla Teles
Publicado em 06/10/2025 às 21:17
Brasil deixa de ser consumidor e vira fornecedor de tecnologia de ponta para o CERN, com sistema OpenIPMC criado pela Unesp e fabricado em SP
De consumidor a fornecedor: Brasil desenvolve tecnologia de ponta para o LHC do CERN. Saiba como o sistema OpenIPMC, criado pela Unesp, marca um novo capítulo para a ciência nacional.
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Criado pela Unesp e fabricado em São Paulo, o sistema OpenIPMC marca uma nova fase para o país no CERN, consolidando a transição de consumidor para desenvolvedor de tecnologia de ponta.

Pela primeira vez na história da colaboração com a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), o Brasil deixa de ser apenas um consumidor para se tornar um fornecedor estratégico de componentes críticos. Um sistema de tecnologia de ponta, totalmente desenvolvido no país, será integrado ao coração do Grande Colisor de Hádrons (LHC), o maior e mais potente acelerador de partículas do planeta. A informação, divulgada pelo Jornal da Unesp, destaca um marco para a ciência e a indústria nacional.

O projeto, batizado de OpenIPMC, foi concebido por pesquisadores do Centro de Pesquisa e Análise de São Paulo (SPRACE), sediado na Unesp, e está sendo fabricado por uma empresa em São Paulo. Essa mudança não apenas eleva o status do Brasil na comunidade científica global, mas também abre precedentes para que a indústria brasileira de alta tecnologia participe de futuras licitações em um dos laboratórios mais avançados do mundo.

O que é o OpenIPMC e qual sua função no CERN?

O sistema OpenIPMC funcionará como um cérebro de monitoramento para o CMS (Solenoide de Múon Compacto), um dos principais detectores do LHC. Sua missão é vigiar em tempo real o desempenho e a integridade das placas eletrônicas ATCA, que são responsáveis por processar a imensa quantidade de dados gerada a cada colisão de partículas. Em termos práticos, ele garante que tudo funcione perfeitamente, controlando variáveis críticas como temperatura, tensões e correntes elétricas.

Segundo o Jornal da Unesp, essa tarefa é fundamental para a operação do experimento. Qualquer falha ou anomalia é instantaneamente detectada pelo OpenIPMC, que pode tomar decisões autônomas, como desligar um componente para evitar danos por superaquecimento. É graças a esse nível de controle e precisão na coleta de dados que descobertas históricas, como a confirmação do bóson de Higgs em 2012, foram possíveis. O sistema brasileiro, portanto, será uma peça central para a confiabilidade das futuras pesquisas do CERN.

A inovação do código aberto: por que o Brasil liderou a mudança?

Sistemas de gerenciamento como o IPMC (Controlador Inteligente de Gerenciamento de Plataforma) já existem, mas eram, até então, tecnologias proprietárias. Conforme explicado por Luigi Calligaris, pesquisador que liderou o projeto no SPRACE, para utilizá-los era necessário comprar licenças e assinar acordos de confidencialidade rigorosos. Isso criava um grande obstáculo para a pesquisa acadêmica, pois limitava o acesso ao código-fonte, impedindo customizações essenciais e, principalmente, o envolvimento de estudantes.

Diante desse impasse, a equipe brasileira propôs uma solução disruptiva: criar o primeiro sistema IPMC de código totalmente aberto (open source). “Em atividades de pesquisa, os estudantes representam o futuro. É preciso treiná-los”, afirmou Calligaris ao Jornal da Unesp. A natureza aberta do OpenIPMC permite que qualquer pesquisador no mundo possa usá-lo, modificá-lo e adaptá-lo às suas necessidades, eliminando barreiras legais e financeiras. Essa iniciativa não só resolveu um problema do CERN, mas também disponibilizou a tecnologia para outras áreas, como computação quântica e setores de aeronáutica e telecomunicações.

Da universidade à indústria: a produção nacional da tecnologia

Primeiro lote de placas OpenIPMC: versão aberta do IPMC, desenvolvida no Brasil pelo SPRACE em parceria com a empresa Lynx. Diferentemente das soluções proprietárias, permite que pesquisadores acessem, modifiquem e adaptem livremente hardware, firmware e software, acelerando a inovação científica e tecnológica (foto: Cern/divulgação) Legenda: Agência Fapesp
Primeiro lote de placas OpenIPMC: versão aberta do IPMC, desenvolvida no Brasil pelo SPRACE em parceria com a empresa Lynx. Diferentemente das soluções proprietárias, permite que pesquisadores acessem, modifiquem e adaptem livremente hardware, firmware e software, acelerando a inovação científica e tecnológica (foto: Cern/divulgação) Legenda: Agência Fapesp

O sucesso do projeto não se limita ao desenvolvimento acadêmico. A fabricação dos componentes está sendo realizada inteiramente no Brasil pela empresa Lynx Tecnologia Eletrônica, com supervisão da Escola Politécnica da USP. Um lote de 1.100 unidades do OpenIPMC foi encomendado pelo CERN, sendo que as 100 primeiras já foram enviadas em agosto, validando a capacidade industrial do país de produzir tecnologia de ponta em larga escala.

Essa parceria estratégica é um dos frutos diretos do ingresso do Brasil como Membro Associado do CERN. Para manter esse status, o governo brasileiro investe anualmente cerca de US$ 12 milhões. Contratos como o firmado com a Lynx permitem que esse valor retorne ao país, fomentando a indústria nacional. “Estamos ajudando a transformar o Brasil de consumidor em fornecedor de tecnologia crítica na fronteira do conhecimento científico”, ressaltou o físico Sérgio Novaes, pesquisador responsável do SPRACE.

O futuro do LHC e o papel estratégico do Brasil

As placas com o sistema OpenIPMC serão instaladas entre 2027 e 2028, durante uma grande atualização do acelerador, que passará a ser chamado de High-Luminosity Large Hadron Collider (HL-LHC). Essa nova fase permitirá aumentar drasticamente o número de colisões de partículas, gerando dados com uma precisão sem precedentes e abrindo caminho para investigar alguns dos maiores mistérios do universo.

Com a atualização, os cientistas esperam testar os limites do Modelo Padrão da física e buscar respostas para fenômenos ainda não explicados, como a natureza da matéria escura. A contribuição brasileira será fundamental nesse esforço, com a tecnologia nacional garantindo a estabilidade e a eficiência da coleta de dados que poderá levar às próximas grandes descobertas da física. É a prova de que o conhecimento gerado na universidade pública pode posicionar o Brasil na vanguarda da ciência mundial.

A criação e produção do OpenIPMC é mais do que um avanço técnico; é uma declaração de capacidade e soberania tecnológica. Ao entregar uma solução inovadora e essencial para o maior experimento científico do mundo, o Brasil não apenas fortalece sua posição no cenário global, mas também demonstra que o investimento contínuo em ciência e educação é o caminho para um futuro de protagonismo e desenvolvimento.

Você concorda com essa mudança? Acha que isso impacta o mercado? Deixe sua opinião nos comentários, queremos ouvir quem vive isso na prática.

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Carla Teles

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