1. Início
  2. / Economia
  3. / Brasil aumenta exposição ao Golfo do México em agosto, diesel russo perde fôlego e ANP revela a virada que pode mexer no preço
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

Brasil aumenta exposição ao Golfo do México em agosto, diesel russo perde fôlego e ANP revela a virada que pode mexer no preço

Escrito por Geovane Souza
Publicado em 23/08/2025 às 09:35
Brasil aumenta exposição ao Golfo do México em agosto, diesel russo perde fôlego e ANP revela a virada que pode mexer no preço
Foto: De 1º de julho a 14 de agosto de 2025, os EUA responderam por 30,5% das importações brasileiras de combustíveis, a Rússia por 21%.
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

A ANP registra avanço dos EUA nas importações de combustíveis entre 1º de julho e 14 de agosto: 30,5% do total, contra 21% da Rússia. Com o spread praticamente zerado o diesel dos EUA voltou a ser a rota competitiva.

O Brasil mudou a composição das importações de combustíveis nas últimas semanas. Com a diferença de preços entre os produtos dos Estados Unidos e da Rússia praticamente zerada, importadores aumentaram as compras de derivados das refinarias americanas em agosto, especialmente diesel importado.

Os números são da ANP e mostram um redesenho recente das origens do suprimento, com potencial impacto em custos logísticos, estoques e formação de preços no país.

O que mostram os dados mais recentes da ANP sobre a importação de combustíveis

De 1º de julho a 14 de agosto de 2025, os EUA responderam por 30,5% das importações brasileiras de combustíveis, a Rússia por 21% e os países do Golfo Pérsico por 12,6%. Ou seja, os Estados Unidos ganharam espaço no período mais recente em relação à média do último ano e meio. Segundo a ANP, a participação americana é também mais diversificada por produto do que a de outros fornecedores.

No mesmo relatório, a agência detalha que o diesel segue sendo o produto mais importado, tendo aumentado sua participação entre os itens que entram no país. Esse crescimento ajuda a explicar por que a variação por origem aparece mais nítida justamente no diesel, item de maior peso na balança de compras externas.

A metodologia da ANP parte de dados do SISCOMEX e considera os valores de aquisição em dólar no local de embarque (preços FOB). Esses valores não incluem frete, seguros, tarifas aduaneiras ou impostos, nem operações não efetivadas, ponto importante para entender os spreads comparados por origem.

Por que os derivados dos EUA ficaram mais competitivos para o Brasil

Em agosto, o diferencial médio de preço do diesel EUA x Rússia ficou ao redor de US$ 0,02 por litro, de acordo com o monitoramento da ANP. Com a vantagem russa praticamente dissipada, traders e distribuidoras passaram a “testar outros mercados”, direcionando parte das compras para as refinarias americanas. Quando o spread encurta, fatores como frete e prazo ganham peso e podem favorecer rotas já consolidadas com o Golfo do México.

Esse movimento não nega o protagonismo que a Rússia ganhou desde 2022 no fornecimento ao Brasil, mas indica um reajuste tático: com o preço mais alinhado, aumenta o incentivo para diversificar fornecedores, reduzir riscos operacionais e negociar melhores condições comerciais. De acordo com o relatório da ANP, a pauta americana é ampla e vai de diesel e óleo bruto a GLP e metanol, o que fortalece a resiliência do abastecimento.

Empresas do setor sinalizam que há folga de alternativas. A Vibra Energia afirmou que consegue manter o abastecimento de diesel mesmo se as importações da Rússia forem interrompidas, por comprar principalmente do Golfo do México e ter acesso a outras origens no Oriente Médio. A avaliação reforça a leitura de que a rede de suprimento está menos dependente de um único fornecedor.

Geopolítica, reuniões em Washington e o efeito no preço do Brent

O pano de fundo internacional também pesou. Enquanto sinais diplomáticos dos EUA para tentar destravar o conflito no leste europeu oscilam, analistas ressaltam que o mercado de petróleo tende a reagir mais à política de sanções do que a gestos pontuais. Segundo a Reuters, ainda que haja esforços de Washington para avançar negociações sobre a Ucrânia, o impacto direto nos fluxos de energia segue limitado sem mudanças materiais nas restrições.

No curto prazo, o preço do barril refletiu essa combinação. Em 19 de agosto, o Brent fechou em US$ 65,79 com queda de 1,22%, num dia em que investidores ponderaram as expectativas de diálogo com a realidade do mercado físico e dos estoques. O movimento foi reportado por veículos financeiros que citam dados consolidados de pregão.

Para a semana seguinte, houve tentativa de recuperação após perdas recentes, mas sem gatilhos definitivos. Em paralelo, a leitura de consultorias como a Rystad Energy é que a probabilidade de sanções mais duras dos EUA contra a Rússia diminuiu, o que contribui para normalizar expectativas de oferta no médio prazo.

Impactos no Brasil: estoques, preço na bomba e as novas misturas E30 e B15

No plano doméstico, a ANP relata que as importações de diesel adicionaram até 11,2 dias de vendas em julho, ajudando a formação de estoques e a segurança de suprimento. Em grande parte, essa almofada vem justamente do ciclo recente de compras externas mais fortes. Mais estoque reduz vulnerabilidade a choques de curto prazo.

Para o consumidor, a mudança de origem não garante queda imediata na bomba. A formação de preço incorpora câmbio, cotações internacionais, logística, biocombustíveis e tributos. Além disso, o avanço da mistura obrigatória a partir de agosto para E30 (gasolina com 30% de etanol anidro) e B15 (diesel com 15% de biodiesel) também interfere no custo final e no balanço entre importação e produção local.

A mensagem central, no entanto, é de redução de risco: com spreads menores e rotas alternativas ativas, o sistema de abastecimento fica menos exposto a interrupções unilaterais. Essa leitura é consistente com os dados de diversificação por produto e origem apresentados pela ANP e com a fala da Vibra sobre acesso a múltiplos fornecedores.

OMC, tarifa de 50% e etanol de aviação

No tabuleiro comercial, os Estados Unidos aceitaram o pedido do Brasil para abrir consultas na OMC sobre a tarifa de 50% aplicada a produtos brasileiros, mas argumentaram que a medida se enquadra em “segurança nacional”, tese que costuma dificultar uma solução rápida. O caso corre em paralelo às sobretaxas de 10% já em vigor e pode influenciar cadeias de combustíveis e biocombustíveis se houver escalada ou distensão.

Enquanto governos discutem contramedidas e cooperação setorial, a indústria brasileira pressiona por abertura de mercados para etanol e, especialmente, para combustível sustentável de aviação no médio prazo, onde a parceria Brasil–EUA é vista como estratégica por exportadores e companhias aéreas. O desfecho das consultas na OMC e qualquer ajuste tarifário podem redefinir vantagens relativas em rotas comerciais relevantes.

No front de petróleo, vale acompanhar se o spread EUA x Rússia permanece próximo de zero. Se a diferença voltar a abrir a favor dos russos ou se o frete encarecer, a matriz de importação pode se ajustar de novo. Por ora, os dados oficiais indicam ganho de participação dos EUA, com diesel no centro dessa virada recente.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Geovane Souza

Geovane Souza é especialista em criação de conteúdo na internet, ações de SEO e marketing digital. Nas horas vagas é Universitário de Sistemas de Informação no IFBA Campus de Vitória da Conquista.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x