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Bill Gates propõe plano para bloquear o Sol e conter o aquecimento global, mas ideia levanta questionamentos

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 12/11/2024 às 12:01
Foto: Reprodução

Plano controverso de Bill Gates visa bloquear parte da luz solar para frear o aquecimento global – Entenda os riscos e custos

Nos últimos anos, testemunhamos a intensificação dos esforços para combater o aquecimento global, mas as soluções tradicionais – como a redução das emissões de carbono – estão sendo vistas por algumas como insuficientes diante da emergência climática. No coração da mais recente controvérsia, encontramos a geoengenharia solar, um conceito de manipulação climática que visa resfriar o planeta de maneira artificial.

Empresas de tecnologia e empreendedores do Vale do Silício, como a startup Make Sunsets, estão tomando iniciativas ousadas para implementar essas técnicas, mas os riscos envolvidos são tão grandes quanto as promessas. Afinal, a geoengenharia solar é a solução definitiva para o aquecimento global, ou estamos brincando com forças que podem trazer consequências imprevisíveis e devastadoras?

O que é geoengenharia solar?

A geoengenharia solar é um campo de pesquisa que visa manipular o clima do planeta, refletindo a radiação solar de volta ao espaço, visando reduzir as temperaturas globais. A técnica mais conhecida e debatida é a “injeção de aerossóis estratosféricos” (SAI), onde partículas, como o sulfato, são liberadas na estratosfera para refletir a luz solar.

Essa abordagem é inspirada nos efeitos das grandes erupções vulcânicas, como a do Monte Pinatubo em 1991, que foi realizada em um resfriamento temporário da Terra.

No entanto, o que era antes uma teoria científica agora se tornou um campo de testes para startups financiadas por capital de risco. Empresas como a Make Sunsets, apoiadas por grandes nomes da tecnologia como o fundador da Microsoft, Bill Gates, e o CEO da OpenAI, Sam Altman, já estão lançando balões de aerossóis no México.

A ideia é vender “créditos de resfriamento” para empresas que desejam compensar suas emissões de carbono, oferecendo-lhes uma solução rápida e inovadora para combater o aquecimento global. Mas será que essa inovação é segura? Os especialistas estão divididos.

Os perigos e incertezas

Os críticos da geoengenharia solar apontam para as consequências prejudiciais catastróficas e imprevisíveis dessas técnicas. Pesquisadores de diversas áreas alertam que a manipulação do clima pode resultar em secas regionais, falhas nas colheitas e até mesmo mudanças nas correntes atmosféricas que afetam o clima globalmente.

Adrian Hindes, pesquisador da Universidade Nacional Australiana, explica que os esforços do Make Sunsets, por exemplo, estão muito longe de alcançar uma escala capaz de impactar o clima global de forma significativa.

Mesmo assim, ele não descartou a possibilidade de que, no futuro, experimentos como esses possam causar mudanças locais no clima que afetam a agricultura e a disponibilidade de água.

Outro crítico é o Dr. Shuchi Talati, da Universidade Americana, que vê o modelo de negócios da Make Sunsets como uma “forma especulativa de ‘crédito lixo‘”. Segundo ele, vender créditos de resfriamento pode não ter o efeito prático desejado, além de fomentar uma falsa sensação de segurança para as empresas que compram esses créditos.

Para Talati e outros, a implementação de técnicas de geoengenharia deveria ser altamente controlada e regulamentada, com uma governança internacional sólida. Mas, com empresas privadas liderando o movimento, isso parece estar longe de acontecer.

Experiências reais e lições passadas

Para entender melhor o impacto potencial da geoengenharia solar, vale a pena olhar para experimentos passados ​​e exemplos da realidade. Em 2021, um projeto apoiado por Bill Gates tentou lançar um balão carregado de pó de giz na estratosfera, na cidade sueca de Kiruna. A ideia era testar a dispersão de partículas para refletir a luz solar.

O teste usaria um balão científico de alta altitude (foto) para elevar cerca de 2 kg de pó de carbonato de cálcio – o tamanho de um saco de farinha – para a atmosfera a 12 milhas acima da superfície. Em abril passado, depois de enfrentar anos de críticas desse tipo, Harvard encerrou o projeto

No entanto, após anos de críticas e preocupações éticas, a Universidade de Harvard cerrou o projeto. Embora houvesse interesse acadêmico, ficou claro que o público e as autoridades não estavam prontos para aceitar tais experimentos, especialmente sem uma compreensão completa de seus riscos.

A aposta das elites tecnológicas

Não é surpreendente que figuras do Vale do Silício estejam investindo em geoengenharia solar. A tecnologia atrai aqueles que acreditam na capacidade de inovação e mercado para resolver problemas globais. Mas essa abordagem simplista pode falhar ao ignorar a complexidade dos ecossistemas e o impacto em comunidades locais e países vulneráveis.

Por exemplo, o Ministério do Meio Ambiente do México criticou duramente a Make Sunsets por conduzir experimentos sem a autorização do governo mexicano. Esse tipo de comportamento levanta questões sobre a ética e a responsabilidade das empresas de tecnologia ao lidar com questões globais.

Acima, o cofundador do Making Sunsets, Andrew Song, com um balão de teste 

Reflexões finais: a geoengenharia solar é uma solução?

À medida que o aquecimento global avança, é compreensível que novas soluções sejam exploradas, mas até que ponto estamos comprometidos em aceitar os riscos da geoengenharia solar? Especialistas como o Dr. David Kitchen lembram que essas técnicas são apenas soluções paliativas, projetadas para mitigar temporariamente os sintomas das mudanças climáticas, mas não suas causas.

Ele afirma que as soluções baseadas em geoengenharia refletem nossa falha em lidar com a verdadeira questão: a necessidade urgente de reduzir as emissões de carbono e fazer uma transição para uma economia sustentável.

Na última análise, a geoengenharia solar não resolve problemas fundamentais, como a acidificação dos oceanos, que ameaça os ecossistemas marinhos. Como o químico Frank Keutsch, da Universidade de Harvard, destacou que essas tecnologias necessárias são vistas como um último recurso para evitar cenários catastróficos de aquecimento, não como uma solução permanente.

O professor Stuart Haszeldine comparou a geoengenharia a uma droga viciante: uma vez que começamos, não podemos conseguir parar. Essa metáfora capta a essência da incerteza e da dependência que pensamos ao manipular o clima do planeta.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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