Níquel brasileiro vendido 400 milhões mais barato à China: bilionário fala em erro histórico e pede reação imediata
O avanço da China sobre os minerais estratégicos do Brasil ganhou um novo capítulo polêmico. O empresário turco Robert Yüksel Yıldırım, dono do grupo Yıldırım Holding e conhecido mundialmente como o “rei do cromo”, fez um duro alerta: segundo ele, o Brasil estaria “vendendo barato seu subsolo” e, ao permitir a entrada desenfreada de companhias estatais chinesas, pode estar comprometendo sua soberania econômica no futuro.
A declaração vem após uma disputa acirrada pela compra dos ativos de níquel da Anglo American no Brasil. A multinacional britânica optou por vender seus projetos à estatal chinesa MMG (China Minmetals Group) por US$ 500 milhões, rejeitando a proposta de US$ 900 milhões feita pela Corex Holding, empresa do grupo Yıldırım com sede na Holanda.
Uma negociação que virou caso internacional
Para o empresário, a operação representa uma “virada mundial” no comércio de níquel — mineral considerado essencial para a transição energética e a produção de baterias elétricas. O espanto, segundo ele, não foi perder para uma concorrente, mas sim o fato de a Anglo ter rejeitado uma oferta US$ 400 milhões mais alta.
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“Eu nunca vi isso em nenhuma das 58 aquisições que já fiz ao redor do mundo. Um vendedor recusar aumento de preço é algo inédito”, disse Yıldırım em entrevista. Ele afirma que chegou a oferecer garantias financeiras e ampliar os investimentos, mas a Anglo preferiu seguir com os chineses.
O caso levantou suspeitas sobre os critérios utilizados na decisão. A Anglo justificou que a MMG possuía histórico sólido em mineração e boas práticas de ESG. Yıldırım rebateu: “Também sigo todas as regras de ESG exigidas por bancos europeus e americanos. Se fosse apenas por governança e sustentabilidade, minha proposta cumpria todos os requisitos”.
Consequências para o Brasil
Segundo o empresário, a escolha da Anglo American terá impactos diretos no Brasil. Ele destaca que, sob sua gestão, 80% da produção seria destinada a mercados ocidentais como Estados Unidos, Europa e Brasil, deixando apenas 20% para a China. Com a venda para a MMG, no entanto, há risco de toda a produção brasileira de níquel ser direcionada a Pequim, ampliando o monopólio chinês sobre minerais críticos.
“Quem controla o níquel controla muito do futuro”, reforçou. Para ele, o Brasil está emergindo como ator central nessa disputa geopolítica por recursos estratégicos, mas corre o risco de se tornar apenas fornecedor barato para o mercado chinês.
O bilionário já acionou a Comissão Europeia pedindo investigação sobre a operação e anunciou que solicitará também ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) no Brasil que analise o negócio. “As autoridades brasileiras precisam refletir cinco vezes antes de aprovar essa venda. O Brasil não pode abrir mão de ativos tão importantes sem pensar no longo prazo”, afirmou.
Pressão chinesa e alinhamento político
A crítica de Yıldırım se conecta a um cenário mais amplo: a crescente influência da China sobre o mercado global de minerais estratégicos. Além do níquel, Pequim tem se posicionado como líder em setores como lítio, cobalto e terras raras, fundamentais para a indústria de alta tecnologia.
No caso brasileiro, o empresário aponta ainda o componente político. Como o Brasil é parte do BRICS e mantém uma relação próxima com Pequim, há dúvidas se o governo de Luiz Inácio Lula da Silva teria disposição para questionar uma transação que beneficia diretamente uma estatal chinesa. “Lula e Xi Jinping são muito próximos. Resta saber se haverá coragem para colocar limites a esse avanço chinês”, declarou.
Novos investimentos e disputa por minerais críticos
Apesar da frustração, Yıldırım segue expandindo seus negócios no Brasil. Recentemente, sua empresa venceu uma disputa pela aquisição de um projeto de cobre em Carajás (PA) por US$ 465 milhões. Ele afirma que pretende investir em refinaria e metalurgia no país, caso consiga acesso a eletricidade de baixo custo.
Além do níquel e do cobre, o grupo turco tem interesse em outros minerais estratégicos no Brasil, como vanádio e nióbio — este último considerado peça-chave para tecnologias de ponta, inclusive em projetos ligados à defesa e ao setor nuclear.
O cartão vermelho
Para o magnata, a única forma de o Brasil evitar uma dependência perigosa é reagir agora. Ele pede que o Cade e o governo brasileiro revisem a decisão, bloqueiem a venda e deem espaço para propostas mais vantajosas. “O Brasil precisa abrir os olhos e mostrar um cartão vermelho aos chineses. Há um investidor europeu disposto a pagar mais, investir no país e garantir que a produção não seja totalmente capturada pela China”, concluiu.