Dez anos após a tragédia em Mariana, o Brasil moderniza a gestão das barragens de mineração, ampliando a fiscalização, uso de tecnologia e descaracterização de estruturas de risco para garantir mais segurança
Dez anos depois do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), a segurança das barragens de mineração passou por uma verdadeira transformação, segundo uma matéria publicada.
A tragédia de 2015 impulsionou mudanças legais, estruturais e tecnológicas profundas na Agência Nacional de Mineração (ANM), que hoje atua de forma preventiva e integrada.
A criação de protocolos mais rigorosos, o uso intensivo de ferramentas digitais e a ampliação do efetivo técnico foram medidas decisivas para tornar o setor mais seguro.
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Desde então, o Brasil não registra nenhum desastre de grande porte, resultado de políticas públicas e de uma nova cultura de prevenção que envolve tanto o poder público quanto as empresas do setor mineral.
Fiscalização aprimorada e cultura de segurança consolidada
A fiscalização de barragens ganhou robustez com a Lei nº 14.066/2020, que alterou a Política Nacional de Segurança de Barragens.
Essa norma proibiu a construção de novas estruturas a montante, modelo utilizado em Mariana e Brumadinho, e determinou a descaracterização das existentes.
Entre 2019 e 2025, o número dessas barragens caiu de 74 para 46, conforme dados oficiais da ANM.
Além disso, a Resolução nº 220/2025 reforçou a definição de níveis de emergência e os planos de ação em caso de risco.
Agora, há protocolos claros para evacuação e rotas de fuga, com validações técnicas constantes.
Segundo o superintendente de Segurança de Barragens e Pilhas de Mineração, Luiz Paniago Neves, a fiscalização passou a ser mais preventiva, buscando detectar anomalias antes que elas evoluam para acidentes.
Esse novo paradigma reduziu significativamente as chances de colapso estrutural e elevou o padrão técnico de gestão da segurança.
Barragens de mineração e a importância do monitoramento remoto e presencial
A ANM fortaleceu sua atuação com a criação de equipes especializadas. Mais de 40 servidores foram incorporados exclusivamente à supervisão de segurança, todos com treinamento técnico específico. A atuação ocorre tanto de forma remota quanto em campo.
O monitoramento remoto é realizado pelo Sistema Integrado de Gestão de Barragens de Mineração (SIGBM), reconhecido internacionalmente como um dos dez bancos de dados mais eficientes do mundo entre 36 países mineradores.
O sistema permite o acompanhamento em tempo real das condições estruturais das barragens de mineração, integrando dados georreferenciados e históricos de inspeções.
Já nas fiscalizações presenciais, as equipes priorizam as estruturas classificadas com maior potencial de risco.
Entre 2022 e 2025, mais de mil inspeções foram realizadas em todo o território nacional, garantindo que os padrões de estabilidade e conformidade sejam respeitados.
Esse modelo misto de controle, remoto e presencial, tem se mostrado essencial para a redução de falhas e na manutenção de um ambiente minerário mais seguro.
Transparência pública e avanços tecnológicos na segurança das barragens
A transparência também se tornou um pilar fundamental da nova política de segurança.
Qualquer cidadão pode consultar o Cadastro Nacional de Barragens de Mineração no portal da ANM e acessar informações atualizadas sobre classificação de risco, localização e histórico de segurança.
Os painéis georreferenciados e dashboards do SIGBM oferecem uma visão ampla e acessível da situação de cada estrutura.
O uso de tecnologias avançadas, como drones termais e aplicativos de inspeção em campo, permite identificar alterações de temperatura e possíveis vazamentos, fornecendo dados instantâneos aos fiscais.
Essas ferramentas ampliam a capacidade operacional e tornam a resposta a possíveis incidentes muito mais rápida e precisa.
Segundo a própria ANM, os investimentos em tecnologia e qualificação de pessoal continuam sendo prioridades, com foco na modernização do sistema e no fortalecimento da governança pública.
Nos últimos seis anos, o país superou a média global de segurança do Comitê Internacional de Grandes Barragens (ICOLD), que registra um incidente relevante a cada dois anos no mundo.
O Brasil não teve nenhum evento de grande porte desde 2019, um marco que reflete o amadurecimento institucional e o impacto direto das políticas de prevenção.
A consolidação dessa nova cultura, sustentada pela transparência, tecnologia e vigilância contínua, coloca as barragens de mineração brasileiras em um patamar de segurança muito superior ao observado há uma década.



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