A Guiana, país vizinho do Brasil, é o único no mundo totalmente autossuficiente em alimentos — produz tudo o que consome sem importar nem um grão.
No mundo globalizado em que vivemos, é quase impossível imaginar uma nação que não dependa de importações para manter sua população alimentada. Frutas tropicais chegam à Europa em pleno inverno, grãos asiáticos abastecem mercados no Ocidente e carnes brasileiras estão nas prateleiras de supermercados no Oriente Médio. O comércio internacional de alimentos virou regra — e a autossuficiência virou exceção. Mas uma nova pesquisa revelou algo surpreendente: existe, sim, um único país no planeta que é 100% autossuficiente em alimentos, capaz de produzir todos os grupos essenciais para uma alimentação saudável, sem precisar importar absolutamente nada. E o mais curioso? Esse país faz fronteira com o Brasil.
O que é autossuficiência alimentar — e por que ela importa?
Antes de tudo, vale entender o conceito. Um país autossuficiente em alimentos é aquele que consegue, com sua própria produção agrícola, pecuária e pesqueira, suprir todos os sete grupos alimentares básicos para sua população. Isso inclui:
- Grãos integrais
- Leguminosas
- Verduras e vegetais
- Frutas
- Carnes
- Peixes
- Laticínios
Em um mundo cada vez mais impactado por guerras, mudanças climáticas, pandemias e disputas comerciais, depender de importações se torna uma vulnerabilidade. Basta uma ruptura no fornecimento externo — como bloqueios portuários ou sanções — para um país sofrer crises alimentares internas.
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Por isso, ser autossuficiente em comida é mais do que um luxo — é uma vantagem estratégica e de soberania.
A surpreendente campeã mundial da autossuficiência
Pesquisadores das universidades de Edimburgo (Escócia) e Göttingen (Alemanha) analisaram 186 países com base em dados alimentares, produção local e capacidade de abastecimento interno. O resultado? Apenas um país no mundo conseguiu a nota máxima em todos os critérios:
A Guiana.
Sim, a Guiana — vizinha do Brasil, ao norte do estado do Pará — é o único país do planeta que consegue produzir, em território nacional, todos os grupos alimentares necessários para sustentar sua população sem depender de importações.
Esse pequeno país sul-americano, com cerca de 800 mil habitantes, foi apontado como exemplo raro de equilíbrio agrícola, pesqueiro e nutricional. A Guiana cultiva seus próprios grãos e vegetais, tem uma produção sólida de frutas tropicais, pecuária de médio porte, pesca costeira e produção de laticínios suficiente para atender à demanda interna.
E o Brasil? Potência agrícola, mas ainda dependente
É claro que o Brasil vem à mente quando se fala em autossuficiência alimentar. Afinal, é uma das maiores potências agrícolas do planeta, com uma vasta produção de soja, milho, carne e frutas. Mas, segundo o estudo, o Brasil não é autossuficiente em todos os grupos.
A pesquisa, publicada na revista científica Nature Food, não cita o Brasil diretamente no ranking de autossuficiência total. Isso indica que, embora o país seja um exportador de alimentos, ele ainda depende de importações para equilibrar sua cadeia alimentar, especialmente em relação a peixes e laticínios em algumas regiões.
Além disso, o próprio modelo de exportação em larga escala pode, paradoxalmente, reduzir o consumo interno de nutrientes essenciais — como é o caso da vitamina C presente nas frutas, muitas das quais são exportadas em massa.
Os países com piores índices
No outro extremo da balança estão nações como Afeganistão, Catar, Iêmen, Emirados Árabes, Iraque e Macau — que não conseguem produzir nem mesmo um dos sete grupos essenciais de alimentos para consumo próprio. Eles são completamente dependentes das importações, tornando-se vulneráveis a flutuações no comércio internacional e a instabilidades políticas externas.
China e Vietnã: quase autossuficientes
Outros países que chamaram a atenção dos pesquisadores foram China e Vietnã, que conseguem produzir seis dos sete grupos alimentares essenciais. Ficam muito próximos da autossuficiência total, mas ainda dependem de importações pontuais — geralmente de laticínios, peixes de alto mar ou produtos específicos de clima temperado.
Blocos regionais também falham
Os pesquisadores também analisaram o desempenho de blocos econômicos e uniões regionais, e os resultados não foram muito animadores. Mesmo grupos formados para fortalecer a economia e o comércio entre países vizinhos falham em garantir o abastecimento alimentar interno.
Por exemplo:
- O Caribe e a África Ocidental produzem, no máximo, dois dos sete grupos.
- O Conselho de Cooperação do Golfo, no Oriente Médio, é autossuficiente apenas em carne.
- Já a América Latina se destaca na produção de frutas, mas ainda patina nos laticínios e na pesca.
Esses dados mostram que, mesmo com alianças comerciais e geográficas, a produção local diversificada continua sendo um desafio global.
Por que a Guiana conseguiu o que ninguém mais conseguiu?
O segredo da Guiana está no equilíbrio entre escala e diversidade. Com uma população pequena, clima favorável, e um território ainda pouco explorado pelo agronegócio intensivo, o país conseguiu manter uma produção variada e funcional, voltada para o abastecimento interno.
Além disso, a Guiana investe em agricultura familiar, pesca artesanal e cultivo sustentável — o que ajuda a manter a cadeia alimentar integrada. Ao contrário de outras nações que priorizam a exportação de commodities, a Guiana prioriza o que alimenta sua própria população.
Autossuficiência alimentar é o novo ouro estratégico?
Os dados deixam uma reflexão importante: em tempos de instabilidade global, a verdadeira riqueza pode estar na capacidade de produzir a própria comida. A autossuficiência, que antes era vista como algo ultrapassado ou antiquado, volta ao centro do debate.
Enquanto países como o Brasil brilham no mercado global de exportação, a Guiana ensina que olhar para dentro também é uma forma poderosa de garantir segurança, estabilidade e saúde para a população.
Num mundo onde até o arroz pode ser motivo de crise diplomática, a Guiana se destaca como o único país verdadeiramente autossuficiente em alimentos, capaz de alimentar sua população sem depender de importações — uma façanha que nem os gigantes agrícolas conseguiram alcançar.
Mais do que uma curiosidade, esse dado é um alerta para o futuro: em tempos de crise, quem produz tudo o que consome tem vantagem — e a Guiana já largou na frente.