Projeções apontam salto histórico nos impostos e alertam para impacto do envelhecimento populacional e rigidez dos gastos públicos
O Brasil pode alcançar, até 2050, o maior aumento de carga tributária do planeta, segundo estudo do Instituto Esfera de Estudos e Inovação, divulgado em setembro de 2025.
As projeções indicam que o peso dos impostos pode subir para 42,8 % do PIB, ultrapassando países como Alemanha e Suécia.
O levantamento, assinado pelo economista Pedro Fernando Nery, mostra que esse avanço será impulsionado pelo envelhecimento acelerado da população e pela expansão das despesas obrigatórias, especialmente em saúde e Previdência.
Estudo revela mudança demográfica crítica
De acordo com o IBGE, a parcela de brasileiros com mais de 60 anos passou de 5,1 % em 1970 para 15,6 % em 2022.
A projeção para 2070 é de 37,8 %, pressionando fortemente o sistema previdenciário e os gastos públicos.
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A idade média da população também aumentou: de 28,3 anos em 2000 para 35,5 em 2023, podendo atingir 48,4 anos em 2070.
Essa mudança demográfica faz com que o Estado precise arrecadar mais para sustentar o equilíbrio fiscal, como mostram experiências internacionais.
Atualmente, 90 % dos gastos públicos são obrigatórios por lei.
Segundo o Banco Central, o endividamento público passou de 71,7 % do PIB em dezembro de 2022 para 77,5 % em agosto de 2025, o maior patamar desde 2021.
Nos 32 meses do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as contas fecharam no vermelho em 25 ocasiões.
Crescimento dos gastos ameaça equilíbrio fiscal
Com carga tributária de 33 % em 2023, o Brasil já tem peso de impostos 50 % acima da média dos emergentes e 30 % superior à média da América Latina.
Mesmo assim, a pressão sobre a arrecadação tende a crescer.
Economistas alertam que, sem reformas estruturais profundas, o país entrará num ciclo de alta tributária contínua.
Isso porque o envelhecimento populacional exige mais recursos públicos, enquanto o espaço para cortes é mínimo.
O estudo adverte que a elevação dos impostos pode reduzir a competitividade das empresas e agravar as desigualdades sociais, impactando o crescimento econômico.
Reformas estruturais podem não bastar
A reforma tributária em debate, que cria o IVA dual (CBS e IBS), simplifica a cobrança sobre consumo, mas não resolve a rigidez dos gastos obrigatórios.
Mesmo que avance no Congresso, não ataca a causa central do problema, que é o crescimento constante da despesa pública.
Reduzir despesas é quase impossível, já que a maior parte do orçamento está travada pela Constituição.
Assim, o governo dependerá de ampliar a arrecadação para sustentar as contas.
Benefícios fiscais entram no centro do debate
Diante desse quadro, o Instituto Esfera defende revisar os benefícios fiscais, também chamados de gastos tributários — isenções e reduções de alíquotas que funcionam como subsídios indiretos.
Esses incentivos consomem entre 4,4 % e 6 % do PIB, segundo Receita Federal e Ministério da Fazenda.
Entre os principais incentivos empresariais estão o Simples Nacional, o regime do MEI e os benefícios regionais da Zona Franca de Manaus.
Para pessoas físicas, destacam-se deduções no IRPF e isenção de lucros e dividendos.
O economista Pedro Nery reforça que a revisão desses benefícios é fundamental para conter o déficit e estabilizar a dívida.
Segundo ele, “reduzir benefícios fiscais é essencial para recompor o resultado primário e evitar explosão da dívida pública”.
Válvula de escape e dilema econômico
O Instituto Esfera descreve os benefícios fiscais como um paradoxo:
enquanto aliviam empresas e contribuintes, também reduzem a arrecadação e pressionam o orçamento público.
Esse efeito cria um círculo vicioso — o governo aumenta impostos sobre quem não recebe incentivos, e novos setores pressionam por isenções.
Consequentemente, a carga tributária sobe ainda mais.
Com o envelhecimento populacional, cresce a demanda pela manutenção desses incentivos, mas o país ainda carece de mecanismos de controle efetivos.
Falhas em controlar incentivos e propostas de correção
O estudo mostra que o governo federal criou centenas de benefícios sem critérios claros, sem prazo de validade e sem avaliação de efetividade.
Alguns permanecem ativos há décadas, favorecendo os mais ricos.
Como exemplo, as deduções no IRPF beneficiam quem tem maior renda, enquanto a desoneração da cesta básica favorece quem consome mais.
Em 2021, a Emenda Constitucional 109 fixou um teto de 2 % do PIB para gastos tributários a partir de 2027 e previa a Lei Geral dos Gastos Tributários (LGGT).
Contudo, a lei nunca foi apresentada, devido à resistência política e à falta de consenso.
Hoje, os benefícios seguem acima de 4 % do PIB, sem perspectiva de redução.
Como evitar o descontrole fiscal
Pedro Nery recomenda não abolir os benefícios, mas administrá-los com critérios claros e avaliáveis, conforme orienta o FMI.
A LGGT deveria incluir parâmetros de relevância, eficiência, equidade e simplicidade.
O Regime Especial da Indústria Química (Reiq) é exemplo positivo, pois exige contrapartidas e tem prazo de extinção definido.
Modelos semelhantes funcionam na Índia, onde isenções caducam automaticamente caso não sejam justificadas por resultados.
Essas medidas tornariam o sistema mais transparente e sustentável, evitando distorções e desperdícios.
Caminho estreito até 2050
Se nada for feito, a carga tributária poderá chegar a 43 % do PIB, patamar semelhante ao das economias mais ricas da Europa.
Porém, o Brasil não possui a mesma estrutura de bem-estar social dessas nações.
Economistas alertam que o país corre o risco de ter impostos de nação rica com serviços de país emergente, ampliando o descontentamento popular.
Por isso, especialistas defendem política fiscal responsável, revisão criteriosa de incentivos e transparência nas contas públicas.
Afinal, o equilíbrio entre arrecadação e gasto será decisivo para o futuro econômico do Brasil.
O que você acha que o país deveria priorizar: reduzir os benefícios fiscais para estabilizar as contas ou manter as isenções para estimular a economia?