Uma gravura rupestre encontrada às margens do Nilo está chamando atenção de arqueólogos. A imagem, com cerca de 5.100 anos, pode representar um dos primeiros líderes do Egito, muito antes da Primeira Dinastia ser formada.
Uma antiga escultura gravada na rocha às margens do Nilo pode ajudar a revelar como o poder era representado no Egito antes mesmo da Primeira Dinastia.
Com cerca de 5.100 anos, a imagem chama atenção por retratar um barco puxado por figuras humanas, com o que parece ser um líder sentado em posição de destaque.
Gravura milenar
A descoberta foi detalhada em um estudo publicado neste mês na revista Antiquity. O autor da pesquisa, Dorian Vanhulle, analisou a gravura e concluiu que ela foi feita no fim do quarto milênio a.C., período anterior à unificação do Egito.
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O barco, esculpido em forma de foice, segue uma direção norte, mesma direção do fluxo do Nilo.
Na cena, sete figuras aparecem. Cinco pessoas puxam o barco, uma figura de pé segura um remo, e uma figura sentada, aparentemente dentro de um palanquim, ocupa posição central na composição.
Para Vanhulle, esse detalhe indica um possível símbolo de status, reservado a pessoas de alta posição.
Sinais de autoridade
A figura sentada exibe o que pode ser uma barba falsa e um cocar, elementos comuns associados à realeza egípcia.
No entanto, o desenho não inclui o símbolo conhecido como serekh, que representava o deus Hórus e era usado para indicar autoridade na Primeira Dinastia.
A ausência desse hieróglifo reforça a hipótese de que a figura retratada antecede o uso oficial desses símbolos.
Segundo o egiptólogo Alejandro Jiménez Serrano, da Universidade de Jaén, na Espanha, a falta do serekh é um “detalhe relevante” e pode indicar que o indivíduo representado pertence a um período anterior à adoção desse tipo de representação oficial.
Apesar disso, ele acredita que a figura tenha ligação com alguma elite ou autoridade da época.
Função simbólica
Para os pesquisadores, a representação de barcos tem forte presença na iconografia egípcia. Vanhulle explica que, durante os períodos pré-dinástico e protodinástico, o barco era um símbolo carregado de significados ideológicos e religiosos.
Ele também afirma que barcas cerimoniais, como a retratada na rocha, eram tradicionalmente arrastadas, o que explicaria a presença das figuras puxando a embarcação.
Além disso, Vanhulle defende que a arte rupestre egípcia não era feita de forma aleatória. Pelo contrário, ele argumenta que essas manifestações seguiam normas sociais, possuíam funções específicas e transmitiam mensagens claras.
Para ele, há a possibilidade de que líderes egípcios tenham encomendado esse tipo de arte como forma de exercer influência e afirmar sua posição de poder.
Uma peça rara
Descobertas como essa são consideradas raras. De acordo com Jiménez Serrano, o número de arte rupestre do Egito protodinástico ainda é bastante limitado.
Justamente por isso, a imagem se torna ainda mais significativa.
Ele afirma que a gravura representa uma cena processional com um possível representante de autoridade, reforçando a importância do achado.
A nova pesquisa abre caminho para novas interpretações sobre como o poder era representado antes da formação do Estado egípcio.
A figura sentada pode, de fato, ser um dos primeiros líderes da região — mesmo que seu nome e papel exato ainda permaneçam um mistério.