Apagar dados de empresas por vingança após demissão pode gerar processo, crime digital e manchar a reputação profissional. Entenda os riscos.
Um novo tipo de vingança vem ganhando espaço nas redes sociais: ex-funcionários que apagam dados e arquivos corporativos após a demissão. O que começa como um desabafo ou uma tentativa de “dar o troco” pode se transformar em crime digital e prejudicar seriamente a carreira.
Especialistas alertam que, mesmo quando motivada pela raiva, a exclusão de informações corporativas pode gerar processos judiciais e danos irreversíveis à reputação profissional.
Nos últimos meses, publicações no X (antigo Twitter) viralizaram com relatos de trabalhadores que apagaram planilhas, senhas e históricos de consumo das empresas.
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Uma usuária escreveu: “Fui lá e apaguei todas as planilhas que montei desde que entrei (…), perderam histórico de consumo de mais de 15 meses”.
Outro post confessou: “Apaguei as senhas de tudo e era a única que tinha anotado. Me mandaram uma notificação extrajudicial, mas falei que já estava perdido.”
A linha tênue entre desabafo e crime digital
O que parece apenas um ato de revolta pode ter consequências sérias. De acordo com o advogado trabalhista Luís Gustavo Nicoli, apagar dados corporativos pode configurar dano ao patrimônio, quebra de contrato e até crime digital.
“Se os arquivos pertencem à empresa, o ato pode gerar responsabilidade civil e até criminal, caso se comprove a intenção de causar prejuízo”, explica Nicoli.
A conduta pode ser enquadrada nos artigos 163 e 154-A do Código Penal, além da Lei Carolina Dieckmann (Lei nº 12.737/2012), que pune a destruição ou adulteração de dados eletrônicos.
Mesmo que o funcionário tenha criado o conteúdo, o material pertence à companhia se foi produzido durante o expediente e com recursos corporativos.
A advogada Elisa Alonso reforça que o dever de lealdade não termina com a demissão.
“O ex-empregado deve preservar o patrimônio e as informações da empresa. A exclusão intencional de arquivos pode gerar ação por prejuízos materiais e morais”, afirma.
Apagar dados pode custar mais do que um emprego
Os impactos vão além do jurídico. Segundo Tiago Santos, vice-presidente da Sesame HR, muitos funcionários enxergam a demissão como algo pessoal, e o ato de apagar arquivos é uma tentativa de retomar o controle.
“A ‘vingança’ nasce da frustração e da perda de poder. Mas a exposição nas redes sociais pode manchar a reputação e afastar futuras oportunidades”, explica.
O especialista alerta que recrutadores e gestores veem esse tipo de comportamento como falta de maturidade, o que compromete a credibilidade do profissional.
Além disso, o compartilhamento público de atitudes impulsivas amplia o impacto negativo, já que as redes servem como vitrine permanente de conduta.
Riscos jurídicos e danos à empresa
Do ponto de vista empresarial, o problema também é grave. A exclusão deliberada de informações pode paralisar processos internos, causar perda de dados estratégicos e comprometer o cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Wolnei Ferreira, diretor jurídico da ABRH Brasil, lembra que o dano não se limita ao ex-funcionário:
“Se dados confidenciais forem levados para outra empresa, a nova contratante pode ser responsabilizada judicialmente por concorrência desleal”, explica.
Por isso, Ferreira recomenda que as companhias adotem cláusulas contratuais claras, prevendo que todos os arquivos criados em equipamentos corporativos pertencem à empresa.
Como as empresas podem se proteger
Para reduzir os riscos, os especialistas defendem uma abordagem preventiva. Entre as medidas mais eficazes estão:
Backup diário e armazenamento em nuvem;
Bloqueio imediato de acessos após o desligamento;
Monitoramento de sistemas corporativos;
Termos de confidencialidade assinados por todos os colaboradores;
Protocolos de desligamento humanizados, conduzidos pelo RH.
Essas práticas, além de protegerem os dados, reforçam o dever ético de ambas as partes. Segundo Ferreira, a comunicação transparente e o respeito durante a demissão reduzem o impulso de vingança e fortalecem a cultura corporativa.
“Manter o respeito e o equilíbrio é essencial para preservar a reputação e deixar portas abertas”, conclui.
O perigo de um clique impulsivo
Apagar dados pode parecer um gesto simbólico de vingança, mas carrega riscos sérios para a vida profissional e jurídica.
Em um mercado cada vez mais digital, onde a reputação é facilmente rastreável, a impulsividade pode custar caro.
Por isso, tanto empresas quanto funcionários precisam compreender que o fim de um contrato não é o fim do respeito.
No ambiente virtual, cada clique deixa rastros — e, em muitos casos, pode apagar mais do que arquivos: pode apagar oportunidades.



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