A mudança em estudo para a conta de luz prevê a adoção de uma Tarifa Horária em baixa tensão, ligando diretamente o valor pago pelo consumidor ao horário em que a energia é utilizada, com início previsto a partir de 2026 para os maiores consumidores residenciais e comerciais do país
A Agência Nacional de Energia Elétrica avalia uma reformulação profunda na forma como a conta de luz é calculada para consumidores de baixa tensão, com a criação de uma Tarifa Horária que torna a energia mais barata em determinados horários do dia e mais cara nos períodos de maior demanda, especialmente no fim da tarde e início da noite. A mudança, ainda em fase de estudos, teria início a partir de 2026 e começaria pelos clientes que consomem acima de 1.000 kWh por mês, um grupo que reúne residências de grande porte e estabelecimentos comerciais de maior porte.
Na prática, a proposta é alinhar a conta de luz à nova realidade do sistema elétrico brasileiro, marcada pela forte expansão da geração solar e eólica. Em vez de um preço único ao longo de todo o dia, o valor do kWh passaria a refletir as horas de sobra e de escassez de energia na rede, o que pode significar redução de custos para quem deslocar o consumo para o meio do dia e aumento para quem concentrar o uso de aparelhos no chamado horário de pico, entre o início da noite e o começo da madrugada.
O que muda na conta de luz com a Tarifa Horária
Hoje, a maior parte dos consumidores de baixa tensão paga uma tarifa que não varia de acordo com o horário. Embora exista a Tarifa Branca, que já diferencia preços em determinados períodos, a adesão é voluntária e teve baixa procura entre consumidores residenciais.
-
Cidade com 42 mil habitantes conquista 70% do mercado nacional de eletrônicos de segurança e vira polo de inovação em IoT e automação
-
Trabalhadores comemoram novo valor do salário mínimo com garantia de aumento real acima da inflação, mas novo cálculo do governo trava reajuste e impacta INSS e benefícios
-
São Paulo ergue o maior condomínio do Brasil: 124 torres, 22 mil apartamentos e até 100 mil moradores em um bairro de 15 minutos
-
Banco Central quer proibir juros rotativos no PIX parcelado e promete regras em novembro para frear o empilhamento de dívidas
A Tarifa Horária em estudo pretende ir além, transformando essa lógica em um modelo mais abrangente e automático para os grandes consumidores de baixa tensão.
No desenho em avaliação, a conta de luz ficaria mais barata em horários em que há maior disponibilidade de energia, principalmente entre o fim da manhã e o início da tarde, quando a geração solar se encontra em pico.
Por outro lado, o consumo entre 18h e 21h, período em que o sistema costuma operar mais próximo do limite e depende mais de usinas térmicas, ficaria mais caro.
O objetivo é fazer com que o preço sinalize ao consumidor quando é mais vantajoso ligar aparelhos de alto consumo, como ar-condicionado, máquina de lavar, bombas de piscina ou carregadores de veículos elétricos.
Quem será afetado primeiro
A proposta não atinge todos os consumidores ao mesmo tempo.
O foco inicial são as unidades que consomem acima de 1.000 kWh por mês, faixa que inclui famílias de renda mais alta, casas maiores e com uso intenso de equipamentos elétricos, além de comércios de médio porte.
Estima-se que esse grupo reúna cerca de 2,5 milhões de unidades, responsáveis por aproximadamente um quarto de todo o consumo em baixa tensão.
Ao priorizar esse segmento, a agência busca um impacto relevante no sistema elétrico com um número relativamente menor de consumidores, permitindo testar e calibrar o modelo antes de uma eventual expansão.
Na prática, é um público com maior capacidade de adaptar hábitos de consumo e investir em ajustes de rotina ou de infraestrutura, o que aumenta a chance de resposta efetiva aos sinais de preço.
Ainda assim, quem não modificar o uso de energia nos horários de pico pode sentir a conta de luz pressionada.
Como funcionaria a medição por horário
Para que a Tarifa Horária se torne realidade, será necessária a substituição dos medidores tradicionais por medidores inteligentes, capazes de registrar o consumo de energia hora a hora.
Esses equipamentos permitem identificar com precisão quanto cada unidade consome em cada faixa de horário, o que é fundamental para aplicar uma tarifa diferente ao longo do dia.
As distribuidoras de energia teriam a responsabilidade de conduzir essa troca de medidores dentro de seus planos de modernização.
A conta de luz passaria a trazer, de forma mais detalhada, o consumo em cada janela de horário tarifário, evidenciando para o consumidor quanto foi gasto em períodos mais baratos e mais caros.
Esse nível de transparência tende a ser decisivo para que o usuário compreenda o efeito de suas escolhas diárias na fatura mensal e possa ajustar comportamentos.
Benefícios esperados para o sistema elétrico
Ao estimular o deslocamento do consumo para horários de maior oferta de energia, a Tarifa Horária tem potencial para reduzir desperdícios e otimizar o uso da infraestrutura existente.
Durante o dia, especialmente entre 10h e 14h, a geração solar costuma ser abundante e o custo de produção da eletricidade é mais baixo.
Sem estímulo à demanda nesse período, parte dessa energia limpa pode ser subaproveitada.
Já no período noturno, a necessidade de acionamento de usinas térmicas encarece o sistema e aumenta a pressão sobre a estrutura de geração e transmissão.
Ao tornar a conta de luz mais alinhada à lógica de oferta e demanda, a proposta ajuda a aliviar o uso do sistema nos momentos mais críticos, postergando investimentos em novas usinas e linhas de transmissão.
No longo prazo, isso tende a contribuir para tarifas mais estáveis e um sistema mais sustentável do ponto de vista econômico e ambiental.
Riscos e desafios para o consumidor
Apesar do potencial de ganhos, a mudança também traz desafios.
Consumidores que não conseguirem deslocar o uso de aparelhos para horários mais baratos podem ver a conta de luz subir, sobretudo aqueles que concentram a rotina no início da noite.
É o caso de famílias que ficam fora de casa durante o dia e só ligam ar-condicionado, chuveiro elétrico, forno e outros equipamentos ao voltar do trabalho.
Outro ponto sensível é a necessidade de comunicação clara.
Sem informação adequada sobre os horários mais vantajosos e sobre como reorganizar o uso de equipamentos, parte dos consumidores pode não se beneficiar do novo modelo e ainda ter a sensação de que a mudança foi feita apenas para aumentar tarifas.
Por isso, a fase de implementação exigirá campanhas de esclarecimento, simulações de conta e orientações práticas para diferentes perfis de consumo.
Próximos passos até 2026
A proposta de Tarifa Horária ainda está em fase de estudo e precisará passar por consulta pública antes de qualquer decisão final.
Nesse processo, serão ouvidos especialistas do setor elétrico, distribuidoras, associações de consumidores e demais interessados, em busca de ajustes que tornem o modelo tecnicamente viável e socialmente aceitável.
Não há uma data definitiva para a implantação, mas a expectativa é de que a primeira fase possa ser iniciada a partir de 2026, caso os testes e regulamentações avancem conforme o planejado.
Até lá, o desenho da Tarifa Horária deverá ser refinado, com definição de faixas de horário, níveis de preços relativos e cronograma de substituição de medidores, para que a mudança não seja percebida apenas como um aumento de complexidade na conta de luz, mas como um instrumento de eficiência e racionalidade no uso da energia.
No fim das contas, o impacto real da Tarifa Horária vai depender de quanto consumidores, distribuidoras e reguladores conseguirão alinhar interesses entre economia na conta de luz, segurança do sistema e melhor aproveitamento das fontes renováveis.
E você, já pensa em reorganizar o uso de aparelhos em casa se a sua conta de luz passar a variar de forma mais intensa de acordo com o horário de consumo?



Seja o primeiro a reagir!