Criado a partir da união de dois V12, este raríssimo propulsor de 24 cilindros foi uma das maiores apostas da engenharia militar, mas acabou se tornando uma nota de rodapé na história da Segunda Guerra Mundial.
No auge da corrida tecnológica dos anos 1930, quando a iminência de um conflito global exigia saltos de engenharia, o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos fez uma encomenda audaciosa: um motor de avião com potência e porte nunca antes vistos. A resposta da Allison Engine Company foi o V3420, um impressionante motor W24 que, conforme detalhado pelo portal Veículos e Histórias, representava o ápice da tecnologia da época, mas que, por uma série de fatores, nunca chegou a equipar as frotas de combate como planejado.
Este propulsor colossal nasceu de uma ideia tanto prática quanto genial: fundir dois dos seus já consagrados motores V12, o Allison V-1710, em um único bloco. O resultado foi uma obra-prima mecânica de 24 cilindros e 56 litros de deslocamento, capaz de gerar números de potência que assombravam a concorrência. Mesmo com seu sucesso em protótipos, o gigante teve sua produção limitada a cerca de 150 unidades, tornando-se uma relíquia cobiçada e um estudo de caso sobre inovação e timing em tempos de guerra.
A origem do titã: como nasceu um motor de 24 cilindros?
A demanda militar por um motor de alta performance não era um mero capricho, mas uma necessidade estratégica. Para operar bombardeiros maiores, mais pesados e com maior autonomia, era preciso um coração mecânico à altura. Em 1937, a Allison apresentou sua solução, o V-3420, cujo nome deriva de suas 3.420 polegadas cúbicas de deslocamento. A arquitetura escolhida, como aponta a análise de Veículos e Histórias, foi a de um motor W24, que consistia em dois bancos de cilindros em V (V12) montados em um único cárter, com os virabrequins sincronizados para acionar uma única hélice.
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Essa abordagem “tandem” foi uma jogada de mestre em termos de logística e desenvolvimento. Ao utilizar o V-1710 como base, um motor já aprovado e em produção, a Allison garantia que a maioria absoluta dos componentes internos, como pistões, bielas e válvulas, fosse intercambiável. Isso não apenas acelerava o projeto, mas também simplificava a manutenção e o fornecimento de peças, fatores cruciais para qualquer equipamento militar. A configuração final era um “W” com uma inclinação de 30° entre os dois motores V12.
Engenharia de ponta: a tecnologia por trás do gigante
O motor W24 V-3420 não era apenas grande; ele era incrivelmente avançado para sua época. Construído com extensivo uso de ligas leves para otimizar a relação peso-potência, seu peso seco era de aproximadamente 1.184 kg, um número notável para uma unidade com sua capacidade. Cada um dos 24 cilindros contava com quatro válvulas, duas velas de ignição e um sofisticado sistema de injeção mecânica de combustível da Bendix Stromberg, garantindo uma queima eficiente da gasolina de alta octanagem (entre 100 e 130 octanas) que consumia.
Para empurrar os limites da performance, o projeto incluía um imenso supercompressor mecânico (supercharger) com intercooler, um recurso de ponta que resfriava o ar admitido, aumentando sua densidade e permitindo uma mistura ar-combustível muito mais rica. Graças a esse conjunto tecnológico, a potência do Allison V-3420 podia chegar a impressionantes 2.885 cavalos. Todo o sistema era arrefecido a líquido, garantindo um controle térmico mais estável durante operações de alta exigência, uma característica vital para voos de longa duração.
Por que um motor tão potente nunca entrou em combate?
Aqui reside o grande paradoxo desta história. Apesar de toda a sua potência e inovação, e de ter se saído bem nos testes em diversas aeronaves experimentais, como o Douglas XB-19 e o Boeing XB-39, o motor W24 da Allison nunca foi produzido em larga escala. A complexidade do projeto gerou atrasos no desenvolvimento, e quando o motor finalmente atingiu um estágio de maturidade, o cenário da Segunda Guerra Mundial já havia mudado drasticamente.
O foco estratégico das forças aéreas se voltou para soluções mais simples, confiáveis e, principalmente, já disponíveis em grande volume. Além disso, o advento da propulsão a jato já se mostrava como o futuro inevitável da aviação militar, tornando o investimento em um motor a pistão tão complexo menos atraente. Conforme ressalta o site Veículos e Histórias, a produção limitada selou o destino do V-3420 como uma maravilha da engenharia que, essencialmente, “chegou tarde demais para a festa”.
A grandiosidade de um projeto como o motor W24 Allison V-3420 nos faz pensar: a aposta em tecnologias complexas e revolucionárias vale o risco, mesmo que não cheguem à produção em massa? Ou a simplicidade de motores já testados e comprovados é sempre o melhor caminho, especialmente em tempos de urgência?
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