Na costa da Alemanha, um projeto inovador está chamando atenção ao transformar vento, água do mar e ar em combustíveis sintéticos. Trata-se da primeira usina flutuante do país, criada para operar no mar de forma independente, sem conexão com a rede elétrica. A plataforma poderá marcar o início de uma nova era na produção energética sustentável.
A Alemanha deu um passo ousado ao inaugurar sua primeira usina flutuante para produção de combustíveis sintéticos.
A usina flutuante instalada em uma barcaça ancorada no porto de Bremerhaven, a estrutura começará em breve a operar em alto-mar, próxima da ilha de Helgoland.
O projeto, chamado PtX-Wind, busca aproveitar vento, ar e água do mar para gerar combustíveis de forma totalmente independente da rede elétrica.
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Primeira planta offshore do tipo
A iniciativa é liderada pelo Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT) e integra o projeto nacional de hidrogênio H2Mare.
Trata-se da primeira plataforma flutuante da Alemanha capaz de executar toda a cadeia do processo chamado Power-to-X, que transforma energia renovável em combustíveis líquidos.
A usina conta com um sistema modular e off-grid, o que significa que ela funciona de forma autônoma, sem precisar de conexão com a rede elétrica.
Isso permite que a produção de combustíveis ocorra diretamente no mar, com base apenas nos recursos disponíveis no ambiente: vento, água salgada e ar atmosférico.
Como funciona a produção
O funcionamento da plataforma envolve vários processos combinados. Primeiro, uma unidade de captura direta de ar (DAC) extrai o dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera.
Ao mesmo tempo, a água do mar é dessalinizada para se tornar utilizável na eletrólise, processo em que a água é dividida em oxigênio e hidrogênio.
A eletrólise, feita por meio de uma unidade de alta temperatura, gera um gás de síntese rico em hidrogênio.
Esse gás é então combinado com o CO₂ retirado do ar em uma etapa seguinte: a síntese Fischer-Tropsch, que converte esses elementos em combustíveis líquidos sintéticos.
Testes começam em julho
A plataforma será testada a partir de julho de 2025, ainda em Bremerhaven. Em seguida, será levada para o mar, próximo à ilha de Helgoland.
A ideia é verificar como todos os sistemas se comportam em condições reais, com ondas, sal, ventos fortes e variações climáticas.
Além de testar o desempenho técnico, os pesquisadores vão analisar o impacto ambiental, a resistência dos materiais usados na plataforma e os aspectos legais envolvidos na operação de uma planta industrial fora da costa, em águas internacionais.
Produção independente e escalável
O projeto se destaca por permitir a produção direta de combustíveis no mar, sem depender da rede elétrica ou de estruturas fixas.
O design modular da plataforma garante flexibilidade, permitindo adaptação a diferentes níveis de geração eólica.
O objetivo do KIT é entender como essas usinas podem ser ampliadas no futuro. Para isso, os cientistas estão testando todo o processo, desde a fase de planejamento e licenciamento até a operação prática da usina no mar.
“Queríamos testar todo o processo de planejamento, incluindo aprovação, construção e operação real da planta para aprender como elaborar conceitos para a construção de plataformas de produção maiores”, afirmou o professor Roland Dittmeyer, coordenador do projeto e diretor do Instituto de Engenharia de Microprocessos do KIT.
E-combustíveis, metanol e amônia
A plataforma também servirá como base para testes de outras tecnologias. A equipe do projeto PtX-Wind planeja explorar a produção de metano, metanol e amônia líquidos, além dos e-combustíveis.
Todas essas substâncias são vistas como alternativas promissoras para setores que ainda dependem de combustíveis fósseis, como o transporte marítimo e a aviação.
Essas pesquisas devem subsidiar o desenvolvimento de plataformas flutuantes maiores, voltadas para a produção em escala industrial.
A meta é criar uma cadeia de suprimento neutra em emissões, totalmente alimentada por energia eólica offshore.
Parte do projeto nacional H2Mare
A usina faz parte do projeto H2Mare, financiado pelo Ministério Federal de Pesquisa, Tecnologia e Espaço da Alemanha (BMBH).
A iniciativa busca desenvolver tecnologias para produzir hidrogênio e derivados diretamente no mar, aproveitando o vento constante e mais forte das regiões offshore.
As turbinas eólicas instaladas no mar apresentam maior potência média (5 MW) do que aquelas em terra firme (3,5 MW), o que torna a geração de hidrogênio verde mais eficiente e barata.
Além disso, essa abordagem evita a necessidade de conexão com a rede elétrica terrestre, o que reduz custos e alivia o sistema elétrico nacional.
Subprojetos e metas paralelas
Vários subprojetos estão integrados ao H2Mare. O H2Wind, por exemplo, investiga formas de acoplar eletrolisadores diretamente às turbinas eólicas, dispensando redes elétricas.
Já o OffgridWind trabalha na adaptação das turbinas para que operem de forma otimizada em conjunto com os sistemas de hidrogênio.
Outras frentes incluem a produção de metanol verde e a utilização direta da água do mar na eletrólise, sem necessidade de purificação complexa.
Os pesquisadores também estudam a segurança dessas operações, o ciclo de vida dos materiais e o impacto ambiental de longo prazo das estruturas offshore.
Última etapa antes da escala industrial
A Alemanha dá, assim, um passo estratégico rumo à transição energética e à descarbonização de setores críticos.
A experiência com a usina flutuante modular em Bremerhaven e Helgoland será decisiva para avaliar a viabilidade de grandes plataformas industriais offshore.
O projeto PtX-Wind pretende transformar vento, ar e água salgada em combustível de maneira limpa e renovável.
E os resultados desses testes podem moldar o futuro da produção energética sustentável em todo o mundo.