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Alemanha testa usina flutuante que transforma ar, água e vento em combustível sintético

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 16/07/2025 às 11:46
Plataforma flutuante com instalação de contêineres modulares para produção offshore de combustíveis sintéticos a partir de energia eólica, água do mar e ar ambiente.
Plataforma flutuante com instalação de contêineres modulares para produção offshore de combustíveis sintéticos a partir de energia eólica, água do mar e ar ambiente.
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Na costa da Alemanha, um projeto inovador está chamando atenção ao transformar vento, água do mar e ar em combustíveis sintéticos. Trata-se da primeira usina flutuante do país, criada para operar no mar de forma independente, sem conexão com a rede elétrica. A plataforma poderá marcar o início de uma nova era na produção energética sustentável.

A Alemanha deu um passo ousado ao inaugurar sua primeira usina flutuante para produção de combustíveis sintéticos.

A usina flutuante instalada em uma barcaça ancorada no porto de Bremerhaven, a estrutura começará em breve a operar em alto-mar, próxima da ilha de Helgoland.

O projeto, chamado PtX-Wind, busca aproveitar vento, ar e água do mar para gerar combustíveis de forma totalmente independente da rede elétrica.

Primeira planta offshore do tipo

A iniciativa é liderada pelo Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT) e integra o projeto nacional de hidrogênio H2Mare.

Trata-se da primeira plataforma flutuante da Alemanha capaz de executar toda a cadeia do processo chamado Power-to-X, que transforma energia renovável em combustíveis líquidos.

A usina conta com um sistema modular e off-grid, o que significa que ela funciona de forma autônoma, sem precisar de conexão com a rede elétrica.

Isso permite que a produção de combustíveis ocorra diretamente no mar, com base apenas nos recursos disponíveis no ambiente: vento, água salgada e ar atmosférico.

Como funciona a produção

O funcionamento da plataforma envolve vários processos combinados. Primeiro, uma unidade de captura direta de ar (DAC) extrai o dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera.

Ao mesmo tempo, a água do mar é dessalinizada para se tornar utilizável na eletrólise, processo em que a água é dividida em oxigênio e hidrogênio.

A eletrólise, feita por meio de uma unidade de alta temperatura, gera um gás de síntese rico em hidrogênio.

Esse gás é então combinado com o CO₂ retirado do ar em uma etapa seguinte: a síntese Fischer-Tropsch, que converte esses elementos em combustíveis líquidos sintéticos.

Testes começam em julho

A plataforma será testada a partir de julho de 2025, ainda em Bremerhaven. Em seguida, será levada para o mar, próximo à ilha de Helgoland.

A ideia é verificar como todos os sistemas se comportam em condições reais, com ondas, sal, ventos fortes e variações climáticas.

Além de testar o desempenho técnico, os pesquisadores vão analisar o impacto ambiental, a resistência dos materiais usados na plataforma e os aspectos legais envolvidos na operação de uma planta industrial fora da costa, em águas internacionais.

Produção independente e escalável

O projeto se destaca por permitir a produção direta de combustíveis no mar, sem depender da rede elétrica ou de estruturas fixas.

O design modular da plataforma garante flexibilidade, permitindo adaptação a diferentes níveis de geração eólica.

O objetivo do KIT é entender como essas usinas podem ser ampliadas no futuro. Para isso, os cientistas estão testando todo o processo, desde a fase de planejamento e licenciamento até a operação prática da usina no mar.

Queríamos testar todo o processo de planejamento, incluindo aprovação, construção e operação real da planta para aprender como elaborar conceitos para a construção de plataformas de produção maiores”, afirmou o professor Roland Dittmeyer, coordenador do projeto e diretor do Instituto de Engenharia de Microprocessos do KIT.

E-combustíveis, metanol e amônia

A plataforma também servirá como base para testes de outras tecnologias. A equipe do projeto PtX-Wind planeja explorar a produção de metano, metanol e amônia líquidos, além dos e-combustíveis.

Todas essas substâncias são vistas como alternativas promissoras para setores que ainda dependem de combustíveis fósseis, como o transporte marítimo e a aviação.

Essas pesquisas devem subsidiar o desenvolvimento de plataformas flutuantes maiores, voltadas para a produção em escala industrial.

A meta é criar uma cadeia de suprimento neutra em emissões, totalmente alimentada por energia eólica offshore.

Parte do projeto nacional H2Mare

A usina faz parte do projeto H2Mare, financiado pelo Ministério Federal de Pesquisa, Tecnologia e Espaço da Alemanha (BMBH).

A iniciativa busca desenvolver tecnologias para produzir hidrogênio e derivados diretamente no mar, aproveitando o vento constante e mais forte das regiões offshore.

As turbinas eólicas instaladas no mar apresentam maior potência média (5 MW) do que aquelas em terra firme (3,5 MW), o que torna a geração de hidrogênio verde mais eficiente e barata.

Além disso, essa abordagem evita a necessidade de conexão com a rede elétrica terrestre, o que reduz custos e alivia o sistema elétrico nacional.

Subprojetos e metas paralelas

Vários subprojetos estão integrados ao H2Mare. O H2Wind, por exemplo, investiga formas de acoplar eletrolisadores diretamente às turbinas eólicas, dispensando redes elétricas.

Já o OffgridWind trabalha na adaptação das turbinas para que operem de forma otimizada em conjunto com os sistemas de hidrogênio.

Outras frentes incluem a produção de metanol verde e a utilização direta da água do mar na eletrólise, sem necessidade de purificação complexa.

Os pesquisadores também estudam a segurança dessas operações, o ciclo de vida dos materiais e o impacto ambiental de longo prazo das estruturas offshore.

Última etapa antes da escala industrial

A Alemanha dá, assim, um passo estratégico rumo à transição energética e à descarbonização de setores críticos.

A experiência com a usina flutuante modular em Bremerhaven e Helgoland será decisiva para avaliar a viabilidade de grandes plataformas industriais offshore.

O projeto PtX-Wind pretende transformar vento, ar e água salgada em combustível de maneira limpa e renovável.

E os resultados desses testes podem moldar o futuro da produção energética sustentável em todo o mundo.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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