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Afastamento em massa de trabalhadores: férias coletivas obrigatórias atingem em cheio uma das maiores indústrias madeireiras do interior brasileiro

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 05/08/2025 às 19:05
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Mais de 1.500 funcionários foram afastados de forma repentina em uma das maiores empresas de madeira do Brasil — férias coletivas obrigatórias chocam o Paraná

Uma crise comercial silenciosa, mas com efeitos devastadores para o setor madeireiro, atinge o Brasil: a empresa BrasPine, uma das maiores exportadoras de madeira industrializada do país, anunciou no dia 22 de julho de 2025 que colocará 1.500 funcionários em férias coletivas. A medida afeta diretamente as operações das unidades em Jaguariaíva e Telêmaco Borba, no interior do Paraná, e escancara o impacto direto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, que hoje superam os 50% sobre produtos brasileiros.

O anúncio veio em forma de comunicado oficial da companhia e pegou a comunidade local de surpresa. A BrasPine emprega cerca de 2.500 pessoas nas duas unidades, o que significa que 60% da força de trabalho será afastada temporariamente. A medida, segundo a empresa, é uma resposta à queda abrupta na demanda por madeira brasileira, diretamente associada às políticas protecionistas dos EUA, tradicionalmente o principal destino das exportações da empresa.

Aumento das tarifas dos EUA isola o setor brasileiro

Atualmente, os produtos da cadeia de madeira brasileira estão sendo taxados pelos EUA com alíquotas de até 50%, enquanto concorrentes como Canadá, Chile e Suécia enfrentam tarifas entre 10% e 20%. Essa diferença gera uma perda de competitividade quase insuperável, o que levou à redução drástica dos pedidos internacionais.

O CEO da BrasPine, Eduardo Loges, justificou a decisão como “estratégica e necessária” para garantir a sobrevivência da empresa. “Esta é a segunda etapa de férias coletivas em 2025, e sabemos o quanto isso impacta pessoal e profissionalmente todos os envolvidos. Mas optamos por preservar os empregos e a estrutura produtiva da empresa no longo prazo”, afirmou o executivo.

A empresa ainda não divulgou uma data para retorno dos colaboradores afetados, indicando que a duração da paralisação dependerá do andamento das negociações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos.

Foto: Unidade da BrasPine, uma das maiores exportadoras de madeira industrializada do Brasil, localizada no interior do país. Fundada há 28 anos, a empresa emprega cerca de 2.500 pessoas e mantém operações estratégicas voltadas principalmente para o mercado externo

Um problema comercial com impacto social direto

Além do impacto direto nos trabalhadores e na economia local do interior do Paraná, a decisão revela a vulnerabilidade da indústria brasileira frente às disputas comerciais internacionais. O setor florestal brasileiro, altamente produtivo e alinhado com práticas sustentáveis, sofre com políticas tarifárias que priorizam interesses geopolíticos em detrimento de critérios técnicos ou ambientais.

Fundada há 28 anos, a BrasPine é referência em exportação de madeira serrada e molduras, com forte presença nos mercados norte-americano e europeu. Ao longo dos anos, a empresa investiu fortemente em inovação, reflorestamento e certificações ambientais. Agora, porém, se vê limitada pela política comercial externa de um dos seus principais parceiros.

O fundador e conselheiro da empresa, Armando Giacomet, lamentou o cenário, mas reforçou o compromisso social da organização. “Em momentos de dificuldade, reafirmamos nossos valores de respeito às pessoas, transparência e desenvolvimento sustentável. Estamos com nossos colaboradores e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para retomar a produção o quanto antes”, declarou.

Governo brasileiro promete intervir, mas ainda sem avanços práticos

O governo brasileiro sinalizou disposição para abrir negociações com os EUA em busca de condições comerciais mais justas, mas até agora nenhuma medida concreta foi anunciada. A expectativa é de que os ministérios da Indústria e Relações Exteriores intensifiquem o diálogo com o governo americano nos próximos meses, a fim de reverter ou ao menos reduzir o impacto dessas tarifas.

Especialistas avaliam que a situação da BrasPine pode abrir um precedente perigoso para outros setores exportadores brasileiros, como móveis, papel e celulose, igualmente dependentes de mercados externos e vulneráveis a barreiras comerciais. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já alertou que medidas protecionistas desse tipo podem comprometer a retomada econômica brasileira no pós-pandemia e no contexto das mudanças climáticas.

Enquanto isso, os municípios afetados convivem com o medo do desemprego em massa e com a incerteza de um setor que sempre foi motor da economia regional.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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