Crocs enfrenta queda histórica nas ações após projeção de receita negativa e sinais de mudança no comportamento dos consumidores, colocando em risco a tendência que impulsionou a marca nos últimos anos.
As ações da Crocs caíram quase 30% em 7 de agosto após a companhia prever queda de 9% a 11% na receita do terceiro trimestre e apontar enfraquecimento do consumo nos Estados Unidos.
A fabricante de calçados de borracha indicou que parte da tendência de “calçados feios” perde força e que a clientela está mais cautelosa com gastos não essenciais.
O movimento derrubou o papel ao menor nível em quase três anos. Foi a maior queda diária desde outubro de 2011.
-
China de olho no açaí brasileiro! Asiáticos demonstram interesses por produtos típicos do Brasil
-
Alta demanda e falta de mão de obra qualificada elevam salários remotos para quem está trabalhando de casa em mais de R$ 10 mil no Brasil
-
Dominação chinesa inclusive no delivery! Keeta estreia em novembro no Brasil com planos ambiciosos de até mil municípios atendidos
-
Pagamento extra liberado hoje pode ser perdido por beneficiários que não seguirem calendário oficial do TRF5 e bancos autorizados
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a leitura imediata do mercado foi de maior risco para o curto prazo e de que a queda das ações da Crocs reflete um ciclo de demanda menos favorável somado a pressões de custo.
Projeção revisada e sinal de cautela
A empresa informou, em resultados do segundo trimestre, que a receita do terceiro trimestre deve encolher entre 9% e 11% na comparação anual.
Analistas esperavam leve crescimento.
Segundo a administração, o consumidor americano reduz compras discricionárias — aquelas não essenciais — diante de um ambiente de preços altos e incertezas.
O CEO Andrew Rees afirmou que “vemos o consumidor americano se comportando com cautela em relação a gastos discricionários” e que “eles enfrentam aumentos de preços atuais e futuros implícitos, o que acreditamos ter potencial para ser um fator adicional de desaceleração”.
Custos, tarifas e política comercial
Além da demanda mais fraca, a Crocs relatou pressão de custos relacionada a tarifas de importação.
A companhia calcula impacto de cerca de US$ 40 milhões no segundo semestre de 2025 e US$ 90 milhões em base anual, de acordo com a diretora financeira Susan Healy.
Essas tarifas foram associadas pela empresa às medidas do governo dos Estados Unidos sob Donald Trump.
A estratégia da Crocs inclui gestão rigorosa de despesas e redução de descontos promocionais, mas o próprio comando reconhece que o corte de descontos pode pesar nas vendas no curto prazo.
Tendência em transição: o que acontece com os “feios”?
Durante a pandemia e nos anos seguintes, o apelo de conforto impulsionou clogs, mules e modelos volumosos que ficaram conhecidos como “ugly shoes”.
A Crocs surfou esse movimento.
Agora, a mudança de gosto do consumidor começa a aparecer nos números e nos sinais do varejo.
Rees admitiu que há “amplas evidências” de cautela em uma parcela da base de clientes.
Ele acrescentou que o calçado atlético volta a ganhar tração, prevendo que eventos como a Copa do Mundo de 2026 e as Olimpíadas de 2028 tendem a favorecer marcas esportivas.
Esse cenário ajuda a explicar a queda das ações da Crocs, pois investidores reavaliam a força da tendência que sustentou margens e volumes recentes.
Para fins de SEO, especialistas do setor descrevem esse rearranjo como desvalorização da Crocs em bolsa na esteira de uma rotação de preferências do público.
Atacado e outlets sentem primeiro
O executivo também destacou que o efeito deve ser mais severo nos canais de atacado e em outlets, onde a sensibilidade a preço é maior.
Segundo a empresa, a frequência às lojas diminuiu e o tráfego cedeu em regiões mais dependentes de consumidores de renda mais baixa.
Esse grupo já vinha moderando gastos, como indicaram redes de alimentação rápida nos EUA ao falar de bilhetes médios menores.
A reação no canal físico, se persistir, tende a pressionar pedidos dos varejistas e repasses na cadeia, ampliando a desvalorização da Crocs entre investidores preocupados com o sell-in no segundo semestre.
Resultado do 2º trimestre: receita positiva, lucro afetado
Nos três meses encerrados em 30 de junho, a Crocs registrou prejuízo líquido de US$ 492,3 milhões.
O número foi afetado por baixas contábeis superiores a US$ 700 milhões relacionadas à aquisição da marca de calçados casuais Heydude, realizada por US$ 2,5 bilhões.
Em contraponto, a receita avançou 3,4% na base anual, para US$ 1,1 bilhão, em linha com estimativas de mercado.
A resiliência em mercados internacionais mitigou a queda na América do Norte.
Esse quadro misto — top line firme e lucro pressionado por impairment — ajuda a entender por que a queda das ações da Crocs foi tão aguda: investidores descontam menor visibilidade de crescimento ao mesmo tempo em que reprecificam riscos contábeis e de execução.
Concorrência e calendário esportivo
A administração citou que o atletismo volta ao centro do guarda-roupa de parte dos consumidores.
Com Copa do Mundo de 2026 e Olimpíadas de 2028 no horizonte, a expectativa é de maior atenção a artigos de performance, o que historicamente beneficia marcas esportivas globais.
Essa combinação pode deslocar orçamento de calçados casuais e de visual propositalmente “estranho”, pressionando volumes de clogs e similares.
O recado ao mercado é que a desvalorização da Crocs não deriva apenas de fatores internos, mas de uma rotação setorial que exige resposta de portfólio, preço e comunicação.