Montadora alemã é responsabilizada por manter trabalhadores em condições análogas à escravidão durante o regime militar e anuncia que irá recorrer da decisão.
A Volkswagen do Brasil foi condenada a pagar uma indenização de R$ 165 milhões por dano moral coletivo. A decisão, da Vara do Trabalho de Redenção (PA), refere-se a acusações de trabalho análogo à escravidão em uma propriedade da empresa entre 1974 e 1986. O caso era investigado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) desde 2019.
A sentença milionária contra a Volkswagen
O julgamento da Volkswagen ocorreu em maio de 2025. A ação foi baseada em denúncias sobre as condições de trabalho na Fazenda Vale do Rio Cristalino, em Santana do Araguaia (PA). Segundo o juiz Otavio Bruno da Silva Ferreira, as provas demonstraram que a montadora participou ativamente da condução estratégica da fazenda.
A empresa se beneficiou diretamente da exploração ilícita de mão de obra. A decisão judicial foi fundamentada em relatórios oficiais, testemunhos de trabalhadores e documentos de órgãos públicos. Essas provas comprovaram um modelo de produção que incluía servidão, violência e condições degradantes.
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A realidade desumana na fazenda da montadora
A Fazenda Vale do Rio Cristalino, também conhecida como Fazenda Volkswagen, era um projeto de pecuária e exploração de madeira. Segundo o MPT, os trabalhadores do local enfrentavam uma realidade brutal. Eles ficavam sob vigilância armada e não tinham acesso à água potável.
Além disso, os alojamentos eram insalubres e não havia atendimento médico, mesmo em casos de malária. Uma das violações mais graves era o endividamento forçado. Os funcionários eram obrigados a comprar alimentos, roupas e ferramentas na própria fazenda. Quando chegava o dia do pagamento, os chefes, conhecidos como “gatos”, informavam que eles na verdade possuíam dívidas, forçando-os a continuar trabalhando.
Punições além da indenização
A indenização de R$ 165 milhões não foi a única penalidade. O valor será destinado ao Fundo Estadual de Promoção do Trabalho Digno e de Erradicação do Trabalho em Condições Análogas à de Escravo no Pará (Funtrad/PA). A Justiça também determinou outras medidas para a Volkswagen.
A empresa deverá reconhecer publicamente sua responsabilidade e pedir desculpas aos trabalhadores e à sociedade. A montadora terá que adotar uma “Política de Direitos Humanos e Trabalho Decente”. Por fim, precisará incluir cláusulas contra trabalho escravo em contratos com fornecedores e permitir auditorias independentes.
A resposta da Volkswagen à condenação
A Volkswagen se posicionou sobre o caso. Em maio, a empresa havia comunicado à Autoesporte que “rejeita categoricamente todas as alegações“. Após a recente condenação, a montadora informou à Agência Brasil que irá recorrer da sentença.
Em nota, a companhia afirmou que “seguirá sua defesa em busca de justiça e segurança jurídica nas instâncias superiores”. A Volkswagen também reafirmou seu compromisso com a dignidade humana e o cumprimento das leis trabalhistas em seus 72 anos de história no país.