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A vila isolada no topo da montanha que só pode ser acessada por 2.556 degraus verticais — e que por décadas usou escadas de cipó penduradas num abismo de 800 metros

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 03/07/2025 às 08:54
A vila isolada no topo da montanha que só pode ser acessada por 2.556 degraus verticais – e que por décadas usou escadas de cipó penduradas no abismo
Foto: Reprodução/YT
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A vila de Atule’er, na China, só pode ser acessada por 2.556 degraus verticais em um penhasco de 800 metros. Por décadas, usou uma escada de cipó — arriscada e mortal — até ganhar uma metálica em 2016.

Imagine precisar caminhar mais de uma hora todos os dias por uma escada vertical de 800 metros de altura apenas para comprar comida, ir à escola ou buscar atendimento médico. Agora imagine que essa escada, até poucos anos atrás, era feita apenas de cipó, bambu e madeira — pendurada precariamente em um penhasco íngreme, com risco de morte a cada passo. Esse lugar existe. E seu nome é Atule’er, uma vila perdida nas montanhas da província de Sichuan, no sudoeste da China. O acesso? Uma escada de 2.556 degraus metálicos cravados no rochedo, conhecida como a “escada celestial” pelos poucos que se atrevem a enfrentá-la.

Uma vila suspensa no tempo (e no espaço)

Com apenas 72 famílias, Atule’er é parte da etnia Yi, tradicionalmente isolada em áreas montanhosas e de difícil acesso. O vilarejo fica localizado no topo de um desfiladeiro de 800 metros, cercado por formações rochosas, vales profundos e florestas densas.

Não há estrada, não há teleférico, nem mesmo trilhas viáveis por terra. O único elo entre Atule’er e o restante da civilização é uma sequência brutal de degraus verticais, fixados diretamente na encosta do penhasco.

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Até 2016, esse acesso era ainda mais inacreditável: um emaranhado de escadas feitas à mão com cipó, bambu e tábuas de madeira, construídas pelos próprios moradores com materiais coletados da floresta. Crianças, idosos, gestantes — todos subiam e desciam esse labirinto improvisado para chegar até o vale. Acidentes eram comuns. Quedas fatais também.

O fotógrafo que mudou tudo

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A realidade extrema de Atule’er só veio à tona quando o fotógrafo Chen Jie, de um jornal chinês, visitou a vila em 2016. Ele publicou imagens chocantes de crianças escalando a escada de cipó a mais de 600 metros de altura, com mochilas escolares nas costas e expressão de puro esforço.

As fotos viralizaram. A comoção nacional foi imediata. Milhares de internautas exigiram providências do governo, que até então nunca havia feito qualquer obra de infraestrutura na região.

Escada de aço: o símbolo de uma transformação tardia na vila de Atule’er

Em resposta à pressão pública, o governo local construiu uma escada metálica com corrimões e estrutura reforçada, substituindo a antiga estrutura orgânica.

Os 2.556 degraus foram montados manualmente, degrau por degrau, seguindo o traçado irregular da montanha. A obra foi finalizada ainda em 2016 e custou o equivalente a centenas de milhares de dólares, pagos com recursos municipais e ajuda de ONGs.

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A nova escada melhorou a segurança — mas não eliminou o desafio. A subida continua extenuante. Leva entre 60 e 90 minutos para ser concluída, dependendo do peso carregado. Os moradores ainda transportam alimentos, botijões de gás, materiais de construção e até crianças nas costas, equilibrando-se nos degraus íngremes e úmidos.

Escada vertical como atração turística

Com a fama repentina, Atule’er se tornou um destino exótico para aventureiros. Turistas chineses e estrangeiros começaram a subir a escada por esporte — alguns com guias, outros com drones, todos em busca da “foto impossível” no topo do abismo.

Mas para os moradores, a escada continua sendo uma necessidade, não uma aventura. Eles ainda dependem dela para tudo. Inclusive para evacuar doentes ou trazer professores, já que não há escola permanente na vila: as crianças fazem aulas no vale e voltam a pé para o alto da montanha.

A vila também não possui hospital, posto de saúde ou mercado fixo. Tudo chega a pé, degrau por degrau.

A resposta é simples: topografia extrema e custo altíssimo. Abrir uma estrada cortando o desfiladeiro exigiria túneis, viadutos e obras monumentais que ultrapassariam milhões de dólares. Para uma vila tão pequena, o governo central não considerou economicamente viável.

A proposta de um teleférico chegou a ser discutida, mas também foi descartada por razões técnicas e ambientais. Assim, Atule’er continua suspensa no alto do abismo — literalmente isolada entre o céu e a terra.

Reflexo de um país com contrastes brutais

A história de Atule’er expõe as duas faces da China moderna. De um lado, cidades como Xangai e Shenzhen, com arranha-céus, metrôs autônomos e superapps. De outro, vilarejos como Atule’er, onde se sobe degrau por degrau para comprar um saco de arroz ou levar uma criança ao médico.

Especialistas apontam que existem milhares de comunidades isoladas como essa no interior profundo da China, especialmente entre minorias étnicas, em regiões montanhosas e próximas ao Tibete ou ao Vietnã. Algumas ainda vivem sem eletricidade confiável ou acesso à internet.

Apesar de todos os avanços do país nas últimas décadas, a China rural ainda carrega cicatrizes do passado — e Atule’er é uma das mais visíveis.

A vista do topo: beleza e dureza misturadas

No alto, a paisagem é de tirar o fôlego. Montanhas verdes se estendem até o horizonte, vales cortados por rios, nuvens abaixo dos pés em dias de neblina. A vila é simples, com casas de madeira, terra batida e silêncios longos.

Mas o dia a dia é exigente. A economia gira em torno da agricultura de subsistência, pequenos rebanhos e algum artesanato. Quase tudo depende do transporte humano. E mesmo com a escada nova, há poucos sinais de que a vida ali vá mudar drasticamente em breve.

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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