Corredor Bioceânico de 2.400 km vai ligar o Centro-Oeste ao Pacífico, reduzir em 10 dias a exportação de grãos e movimentar R$ 20 bilhões por ano.
O agronegócio brasileiro está prestes a ganhar uma das maiores revoluções logísticas de sua história. O Corredor Bioceânico, um projeto de 2.400 quilômetros, promete ligar o Centro-Oeste do Brasil aos portos do Pacífico, no Chile, criando uma rota mais curta, barata e estratégica para exportações. A estimativa é que a obra reduza em até 10 dias o transporte de grãos e carnes para a Ásia, além de movimentar cerca de R$ 20 bilhões por ano em cargas e impulsionar investimentos em infraestrutura e comércio regional.
O que é o Corredor Bioceânico e como ele será implantado
O projeto, também conhecido como Rota Bioceânica, é um plano de integração entre quatro países — Brasil, Paraguai, Argentina e Chile — que pretende transformar o transporte de mercadorias entre o Atlântico e o Pacífico.
A rota começa em Porto Murtinho (MS), cruza o Paraguai, segue pela Argentina e chega aos portos chilenos de Antofagasta e Iquique, no norte do país. Ao todo, serão 2.400 km de estradas pavimentadas, pontes, centros aduaneiros e conexões logísticas.
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Alguns trechos já existem e precisam apenas de modernização; outros serão construídos do zero, incluindo a ponte binacional sobre o Rio Paraguai, que ligará Porto Murtinho (MS) a Carmelo Peralta (Paraguai).
Por que o Corredor Bioceânico é tão importante para o Brasil?
Hoje, a maior parte das exportações brasileiras para a Ásia sai pelos portos do Sudeste e do Sul, principalmente Santos (SP) e Paranaguá (PR). Para chegar aos portos asiáticos, as cargas dependem de longas rotas pelo Atlântico e pelo Canal do Panamá, o que encarece e atrasa o transporte.
Com o corredor bioceânico, a viagem até a Ásia será até 10 dias mais rápida. Isso significa que soja, milho, carne e minérios poderão chegar a mercados como China, Japão e Coreia do Sul de forma mais competitiva.
Para o agronegócio, essa redução de tempo é um diferencial gigantesco. O Brasil é o maior exportador de soja do mundo e disputa mercados com os Estados Unidos. Uma rota mais curta e barata pode ampliar a participação brasileira e gerar ganhos bilionários.
Investimentos e obras já em andamento
O Corredor Bioceânico não é apenas uma ideia no papel — ele já está saindo do papel.
O governo do Mato Grosso do Sul lidera os investimentos do lado brasileiro, com obras de infraestrutura e duplicação de trechos estratégicos. No Paraguai, está em andamento a pavimentação de 531 km da rota bioceânica, que cruzará o país de leste a oeste, ligando Carmelo Peralta à fronteira com a Argentina.
O trecho paraguaio é um dos mais avançados: segundo o Ministério de Obras Públicas do Paraguai, mais de 50% da obra já está concluída, e o restante deve ser entregue até 2026. A ponte binacional entre Brasil e Paraguai, financiada pela Itaipu Binacional, já teve as obras iniciadas e deve ser concluída em até três anos.
Quem está financiando o Corredor Bioceânico?
O financiamento do projeto é compartilhado entre governos nacionais, organismos multilaterais e bancos de desenvolvimento. O Brasil já liberou recursos federais para adequação de rodovias em Mato Grosso do Sul, enquanto o Paraguai recebeu financiamento do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).
Além disso, o projeto atrai atenção de investidores privados, especialmente empresas de logística, tradings agrícolas e operadores portuários. A expectativa é que até R$ 20 bilhões sejam movimentados por ano quando a rota estiver em operação plena.
Benefícios diretos e indiretos para os quatro países
O Brasil será o maior beneficiado, mas não o único. O Paraguai, ao se tornar um corredor logístico, vai atrair empresas, centros de distribuição e postos de trabalho. A Argentina ganhará uma nova rota de exportação para o Pacífico, e o Chile terá seus portos transformados em hubs de conexão com a Ásia.
A integração promete desenvolvimento regional, geração de empregos e novos polos econômicos em áreas que hoje são pouco exploradas.
O impacto no transporte de grãos e carnes
Hoje, um navio carregado com soja brasileira demora entre 35 e 45 dias para chegar à China. Com o Corredor Bioceânico, esse prazo pode cair para 25 a 35 dias, tornando o Brasil ainda mais competitivo.
Além da soja, outros produtos também serão beneficiados: milho, carne bovina, frango, algodão, minério de ferro e até produtos industrializados poderão seguir pela nova rota.
Questões ambientais e desafios do projeto
Embora seja um projeto de integração, a rota não está livre de críticas. Organizações ambientais alertam para os possíveis impactos de novas rodovias em áreas sensíveis no Paraguai e no norte da Argentina.
Por outro lado, defensores argumentam que a maior parte do traçado passa por áreas já antropizadas (utilizadas pela agricultura ou pecuária) e que a obra pode reduzir emissões de CO₂ ao diminuir distâncias percorridas por caminhões.
O que falta para o corredor bioceânico virar realidade
Os próximos anos serão decisivos. Além de concluir as obras no Paraguai e a ponte binacional, será necessário adequar aduanas, criar sistemas integrados de controle de cargas e harmonizar legislações alfandegárias entre os quatro países.
A previsão é que a rota esteja totalmente operacional até 2028 ou 2029, mas alguns trechos poderão ser usados antes, à medida que as obras forem entregues.
O Corredor Bioceânico tem potencial para mudar a geografia econômica da América do Sul. Mais do que um conjunto de estradas, ele será uma nova espinha dorsal de comércio que liga os principais produtores agrícolas do Brasil ao maior mercado consumidor do mundo: a Ásia.
Se sair do papel no prazo previsto, será uma das maiores conquistas de integração regional das últimas décadas e um motor para transformar a logística e a competitividade brasileira.