Dos irmãos Raul e Hercílio em uma pequena oficina em Caxias do Sul à presença em mais de 125 países, conheça a saga de inovação, crise e resiliência que construiu a Randon.
De acordo com um documentário do canal Curioso Mercado, a história da Randon, hoje uma corporação multinacional, começou de forma modesta no fundo de uma pequena oficina em Caxias do Sul (RS), em 1949. A jornada dos irmãos Raul e Hercílio Randon é um dos casos mais emblemáticos de empreendedorismo no Brasil, transformando um negócio familiar na maior fabricante de implementos rodoviários da América Latina e em uma gigante com presença global.
A história da Randon é marcada por uma capacidade notável de inovar, superar crises profundas e diversificar seus negócios. Hoje, a Randoncorp, como é chamada a holding, possui mais de 16.000 funcionários, atua em mais de 125 países e alcançou uma receita recorde de R$ 11,9 bilhões em 2024, mostrando a força de uma empresa que nasceu da visão e do trabalho de dois jovens no interior gaúcho.
Os primórdios em Caxias do Sul, a visão dos irmãos Randon
A história da Randon começa com os irmãos Hercílio, o “Nino”, que tinha o conhecimento técnico em mecânica, e Raul, com seu tino para os negócios. Em 1949, eles iniciaram uma pequena oficina de reforma de motores industriais, a Mecânica Randon. O negócio inicial, no entanto, passou por um grande trauma: em 1951, um incêndio destruiu completamente a oficina, que na época também fabricava máquinas de tipografia.
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Com a ajuda de amigos e familiares, os irmãos reconstruíram o negócio e decidiram focar no que sabiam fazer de melhor. A grande oportunidade surgiu com uma sugestão do parceiro Antônio Primo Fontebasso: fabricar freios a ar para reboques, uma demanda crescente na Serra Gaúcha devido ao transporte de madeira em estradas perigosas. Esse foi o passo definitivo da Randon para o setor de transportes.
A virada de chave: o terceiro eixo e a conquista do mercado rodoviário
A década de 1960 foi um período de grande inovação para a empresa. A criação do terceiro eixo para caminhões e, principalmente, o lançamento do semirreboque de três eixos em 1967, um projeto pioneiro de Hercílio “Nino” Randon, revolucionaram o transporte de cargas no Brasil. Essa inovação permitia que os caminhões transportassem mais peso de acordo com a recém-criada Lei da Balança, de 1964.
O sucesso foi tão grande que, no final da década, a empresa já contava com 1.300 funcionários e mais de 70 modelos de reboques. Uma viagem de Raul Randon à Europa em 1970, onde viu o potencial do mercado, o inspirou a traçar um plano ambicioso: fazer a fábrica, que produzia 700 unidades por ano, passar a produzir 1.000 por mês. Três anos depois, a meta foi alcançada.
Dias de luta, a concordata nos anos 80 e a salvação pela exportação
O final dos anos 70 e o início dos anos 80 foram marcados pela crise do petróleo, que elevou os juros e freou a economia brasileira. A Randon, que havia crescido rapidamente, se viu com uma dívida enorme e fábricas ociosas. Em 21 de dezembro de 1982, a empresa pediu concordata preventiva para reestruturar suas finanças.
A salvação veio do mercado externo. Em 1984, a empresa fechou um contrato crucial para o fornecimento de 713 carretas para a Argélia, no valor de 11 milhões de dólares. Curiosamente, um dia após a assinatura do contrato, o Brasil promoveu uma desvalorização de 30% na moeda, o que tornou a exportação extremamente lucrativa e permitiu que a Randon se recuperasse. Em novembro de 1984, a empresa pagou a última parcela da concordata, superando sua maior crise.
A diversificação e a conquista do mundo
Após a crise, a Randon iniciou um forte processo de diversificação e expansão. A empresa entrou com força no mercado de autopeças, com a aquisição da Fras-le em 1996, que hoje é líder no segmento de materiais de fricção e vale mais no mercado de ações do que a própria Randon. Também foram criadas a Master (freios) e a Suspensys (suspensões).
Em 1993, foi criada a holding Randon Participações S.A., hoje Randoncorp, para centralizar e coordenar os investimentos do grupo. A empresa se tornou uma gigante global, exportando para mais de 125 países e com 31 unidades industriais espalhadas por quatro continentes.
O legado de Raul Randon, da indústria ao agronegócio
Enquanto a Randon se tornava uma potência industrial, seu fundador, Raul Randon, que faleceu em 3 de março de 2018, aos 88 anos, voltava seus olhos para outra paixão: o campo. Seguindo a filosofia de que “o transporte e a comida são duas coisas que nunca vão acabar”, ele criou um verdadeiro império no agronegócio.
A RAR, braço agropecuário do grupo, tornou-se referência na produção de maçãs, queijos e vinhos. Raul foi o responsável por trazer para o Brasil a produção do queijo tipo Grana Padano, hoje reconhecido nacionalmente com a marca Gran Formaggio. A história da Randon mostra como a visão de um empreendedor pode transformar não apenas uma, mas diversas indústrias.
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