A política de preços da Petrobras, que mantém a gasolina influenciada pelo dólar e pelo mercado internacional, impacta toda a economia brasileira ao aumentar o custo do transporte, elevar o frete e refletir diretamente no preço dos alimentos e produtos nas prateleiras.
A política de preços da Petrobras define o quanto os brasileiros pagam pela gasolina, pelo diesel e, de forma indireta, por quase tudo o que consomem no dia a dia. Mesmo com o fim formal da antiga Política de Paridade de Importação (PPI) em 2023, os combustíveis continuam sendo influenciados pelas variações do dólar e do barril de petróleo, já que o Brasil ainda depende de importações para equilibrar sua oferta interna.
Na prática, quando o dólar sobe, o preço do petróleo e dos derivados também aumenta em reais, elevando o custo do combustível nas refinarias e, em cadeia, o preço na bomba. Essa variação atinge diretamente o transporte de cargas, que é majoritariamente rodoviário, criando um efeito dominó que encarece alimentos, produtos industrializados e serviços em todo o país.
Entendendo a antiga PPI e o novo modelo de preços
Implementada em 2016, a PPI determinava que os preços praticados pela Petrobras fossem equivalentes aos do mercado internacional, considerando o valor do barril de petróleo, a cotação do dólar e custos de importação.
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O objetivo era garantir competitividade e evitar prejuízos à estatal, mas o resultado foi uma maior volatilidade dos preços internos, sensíveis a qualquer variação cambial ou geopolítica.
Em 2023, a Petrobras substituiu a PPI por uma política que leva em conta custos de produção doméstica, logística e concorrência interna, reduzindo a dependência direta da cotação internacional.
No entanto, o petróleo e o câmbio ainda influenciam fortemente os preços, já que parte dos combustíveis vendidos no país é importada e paga em dólar.
Ou seja, mesmo com o novo modelo, a economia brasileira continua vulnerável às oscilações externas, o que explica por que aumentos internacionais de petróleo ou desvalorização do real ainda são sentidos rapidamente nas bombas e nos supermercados.
O impacto direto nos combustíveis e no transporte
Quando o preço do barril sobe ou o dólar se valoriza, o combustível se torna mais caro para as distribuidoras, que repassam o aumento aos postos.
O diesel, combustível essencial para o transporte de cargas e ônibus, é o mais sensível a essa variação.
Com o diesel mais caro, transportadoras e caminhoneiros autônomos elevam o valor do frete para compensar o aumento dos custos operacionais.
Esse encarecimento é repassado para as empresas produtoras e varejistas, o que, por sua vez, impacta o preço final dos produtos.
Segundo economistas, cerca de 60% de tudo o que é vendido no país chega ao consumidor por meio do transporte rodoviário, tornando o custo do combustível um fator determinante na formação dos preços da economia.
O efeito cascata: do combustível à inflação dos alimentos
O aumento no preço dos combustíveis tem um efeito cascata que atravessa toda a cadeia produtiva. Começa nas refinarias, passa pelas transportadoras e termina no carrinho de compras.
No campo, produtores rurais gastam mais com frete e insumos, muitos deles também cotados em dólar, como fertilizantes e defensivos agrícolas.
Com isso, o custo de produção dos alimentos sobe.
As indústrias processadoras e os supermercados, para não reduzirem suas margens de lucro, replicam o aumento ao consumidor final, elevando o preço de itens básicos como arroz, feijão, frutas, carnes e leite.
Esse mecanismo explica por que altas nos combustíveis frequentemente antecedem períodos de inflação de alimentos e transporte, duas das categorias que mais pesam no orçamento das famílias brasileiras.
A dependência do transporte rodoviário e o custo logístico brasileiro
O Brasil é um país de dimensões continentais, mas ainda depende quase exclusivamente do transporte rodoviário para escoar sua produção.
Estima-se que mais de 65% das mercadorias circulem por caminhões, que operam à base de diesel.
Essa dependência torna o país extremamente vulnerável às variações nos preços da Petrobras.
Quando o combustível sobe, o custo logístico das empresas aumenta e, como o transporte é parte essencial da cadeia de suprimentos, a inflação se espalha para diversos setores — da agricultura à indústria.
Enquanto países com forte uso de transporte ferroviário ou hidroviário conseguem amortecer essas oscilações, o Brasil sente o impacto quase imediato, o que ajuda a explicar o peso da política de preços da estatal sobre o custo de vida.
A busca por equilíbrio e os desafios da Petrobras
A Petrobras busca um ponto de equilíbrio entre a sustentabilidade financeira e o impacto social de seus preços.
Por ser uma empresa de economia mista, com controle acionário da União, precisa manter competitividade e rentabilidade sem gerar pressão excessiva sobre a inflação.
No entanto, a precificação dos combustíveis é um tema sensível e político.
Reduzir artificialmente os preços pode gerar prejuízos e afastar investidores; por outro lado, mantê-los alinhados ao mercado internacional penaliza diretamente os consumidores e setores produtivos.
Especialistas defendem que, para reduzir a dependência do dólar, o país precisa diversificar sua matriz logística, investir em refino nacional e fortalecer o uso de biocombustíveis e energia elétrica no transporte.