Com 35% das obras concluídas em abril de 2025, a gigante ferrovia FICO, construída pela Vale, promete revolucionar o escoamento da produção no Vale do Araguaia.
A construção desta gigante ferrovia é viabilizada por um modelo de financiamento inovador e conta com forte alinhamento político entre os governos. Com previsão de conclusão para 2028, a FICO promete reduzir drasticamente os custos de transporte e aumentar a competitividade das exportações brasileiras, reequilibrando a matriz de transportes, hoje dependente das rodovias.
Um dos projetos de infraestrutura mais estratégicos do Brasil, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO), avança em ritmo acelerado. Com um investimento total estimado em R$ 10,2 bilhões, a construção de seu primeiro trecho está posicionada para se tornar uma artéria logística transformadora para o agronegócio em uma das últimas fronteiras agrícolas do país, o Vale do Araguaia.
O que é a FICO e qual o trajeto desta gigante ferrovia?
A FICO, oficialmente designada como EF-354, tem como primeiro trecho uma ligação de 363 quilômetros que conecta o município de Mara Rosa, em Goiás, a Água Boa, no Mato Grosso. Sua função estratégica é conectar o Vale do Araguaia, uma região de alta produtividade, à malha ferroviária nacional através da Ferrovia Norte-Sul (FNS).
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Essa conexão é fundamental, pois abre rotas de escoamento da produção agrícola para portos de grande capacidade, como o Porto de Santos (SP) e o Complexo Portuário de São Luís (MA). A longo prazo, a FICO é uma peça-chave no projeto da Ferrovia Transoceânica, que busca criar um corredor logístico do Atlântico ao Pacífico.
O modelo de investimento cruzado, como a Vale financia o projeto
O financiamento da FICO utiliza um modelo inovador de “investimento cruzado”, viabilizado pela Lei nº 13.448/2017. A construtora do projeto é a Vale S.A., que está investindo R$ 2,73 bilhões como uma contrapartida pela renovação antecipada de sua concessão da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM).
Em vez de pagar o valor da outorga em dinheiro ao governo, a Vale “paga” entregando a gigante ferrovia pronta. A gestão do ativo, no entanto, é da estatal Infra S.A. (sucessora da VALEC), que, após a conclusão das obras, irá leiloar a operação da ferrovia para uma empresa privada.
O avanço das obras em 2025, 35% de conclusão e superação de gargalos
O ritmo da construção tem sido notável. Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o avanço físico da obra saltou de 9,87% em outubro de 2023 para 35,65% em abril de 2025. Essa aceleração foi possível após a superação de um dos maiores gargalos de projetos de infraestrutura: a liberação de áreas, com a conclusão do processo de desapropriação de 344 propriedades.
Atualmente, as frentes de trabalho se estendem por cerca de 240 quilômetros, com números expressivos que incluem aproximadamente 14 milhões de metros cúbicos de escavações e 9,2 milhões de m³ de aterros.
A disputa entre Rumo e VLI pelo futuro da carga
A construção da FICO acirrou a competição entre as duas maiores operadoras ferroviárias do Brasil: a Rumo Logística e a VLI Logística. A disputa, apelidada de “guerra ferroviária”, é pelo controle dos futuros volumes de carga que a nova ferrovia irá destravar.
A VLI, antecipando-se ao mercado, já solicitou ao governo a autorização para construir a FICO 2, o trecho seguinte que ligará Água Boa a Lucas do Rio Verde. A Rumo, por sua vez, declarou que também pode solicitar a construção do mesmo trecho, sinalizando sua intenção de proteger sua posição dominante na região e o acesso à carga que será escoada pela FICO 1 até a Ferrovia Norte-Sul, que ela opera.
O impacto em 24 Terras Indígenas
Apesar do potencial econômico, o projeto desta gigante ferrovia enfrenta um desafio socioambiental crítico. Embora o traçado físico não cruze diretamente nenhuma Terra Indígena (TI), estudos apontam que sua área de influência mais ampla afeta indiretamente um total de 24 Terras Indígenas em Mato Grosso e Rondônia.
Os riscos indiretos incluem a potencial contaminação de nascentes e afluentes das bacias do Xingu e Tocantins-Araguaia. A questão legal e reputacional associada ao direito à Consulta Prévia, Livre e Informada (CPLI), prevista na Convenção 169 da OIT, é o principal ponto de atenção para a sustentabilidade do projeto, especialmente após precedentes jurídicos de projetos análogos, como a Ferrogrão.