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A frota fantasma dos EUA, os mais de 2.000 navios de guerra e carga ancorados em cemitérios e mantidos em prontidão para serem reativados em caso de uma guerra mundial

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 21/06/2025 às 12:09
A frota fantasma dos EUA: os navios de guerra e carga mantidos para uma emergência global
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Oficialmente chamada de National Defense Reserve Fleet, a coleção de embarcações ancoradas em “cemitérios” é uma reserva estratégica para crises e conflitos globais

Em baías e rios pelos Estados Unidos, centenas de navios de aço aguardam em silêncio por uma ordem que talvez nunca chegue. É a lendária frota fantasma dos EUA, uma reserva estratégica de embarcações mantidas em prontidão para serem reativadas em caso de uma guerra mundial. Gerida pela Administração Marítima (MARAD) sob o nome oficial de National Defense Reserve Fleet (NDRF), essa frota é um dos segredos mais visíveis da logística de defesa americana.

Mas não se engane pelo apelido. Esta não é uma coleção de navios inúteis. Trata-se de uma reserva logística estratégica, criada após a Segunda Guerra Mundial e que já se provou decisiva em conflitos como a Guerra da Coreia e do Vietnã. Hoje, em meio a um cenário de crescentes tensões globais, a frota fantasma está no centro de um bilionário plano de modernização, transformando-se de um legado enferrujado em um ativo crucial para o futuro.

A origem após a Segunda Guerra, a Lei de Venda de Navios Mercantes de 1946

A história da frota fantasma começa com o fim da Segunda Guerra Mundial. Os EUA emergiram do conflito com a maior frota de navios mercantes do mundo e precisavam gerenciar esse excedente. A solução veio com a Lei de Venda de Navios Mercantes de 1946, uma legislação que permitiu a venda de navios para operadores comerciais e, crucialmente, autorizou a criação de uma reserva para a defesa nacional.

Essa reserva, a NDRF, cresceu rapidamente. No seu auge, em 1950, a frota atingiu a marca de 2.277 navios, ancorados em oito locais espalhados pela costa americana. A imagem de fileiras intermináveis dos icônicos navios Liberty e Victory se tornou um poderoso, ainda que silencioso, símbolo do poderio industrial americano no início da Guerra Fria.

Do que é composta a frota fantasma? A diferença entre a NDRF e a RRF

A frota fantasma dos EUA, os mais de 2.000 navios de guerra e carga ancorados em cemitérios e mantidos em prontidão para serem reativados em caso de uma guerra mundial

Primeiro, é preciso desfazer um mito comum: a frota fantasma não é uma armada de combate adormecida. Porta-aviões e destróieres descomissionados ficam em outras bases. A NDRF é formada, em sua maioria, por navios de tipo mercante, como cargueiros, navios-tanque e, principalmente, os navios Ro-Ro (Roll-on/Roll-off), essenciais para o transporte de veículos militares.

O verdadeiro poder da frota não está nos cascos que aguardam para virar sucata, mas em seu coração pulsante: a Ready Reserve Force (RRF). Este é o subconjunto de elite da frota, com cerca de 51 navios mantidos em um estado de prontidão altíssimo, capazes de serem ativados e colocados em serviço em um prazo de 4 a 20 dias.

Os “cemitérios” de navios, os três ancoradouros da frota

Dos oito ancoradouros originais, apenas três permanecem operacionais em 2025:

James River Reserve Fleet (Virgínia): o mais antigo dos locais, com origens que remontam ao fim da Primeira Guerra Mundial.

Beaumont Reserve Fleet (Texas): o único ancoradouro remanescente na Costa do Golfo, hoje um centro crucial para os navios da RRF.

Suisun Bay Reserve Fleet (Califórnia): em tempos, a mais famosa das frotas, com mais de 340 navios. Sua imagem icônica, com centenas de cascos cinzentos enfileirados sob o sol da Califórnia, tornou-se a personificação visual da ‘frota fantasma’. Hoje, após um grande esforço de limpeza ambiental motivado por preocupações com tintas tóxicas, a frota no local é uma sombra do que já foi, mas sua lenda como o maior cemitério de navios da América permanece.

Um histórico de reativações, da Guerra da Coreia à Operação Liberdade do Iraque

A importância da NDRF foi provada diversas vezes. O primeiro grande teste veio com a Guerra da Coreia (1950-1953), quando 540 navios foram reativados para transportar tropas e suprimentos. A frota também foi crucial durante a crise do Canal de Suez em 1956 e na Guerra do Vietnã, para a qual 172 navios foram postos em serviço.

A utilidade da frota não terminou com a Guerra Fria. Em uma demonstração de sua contínua relevância, seis navios do ancoradouro de James River foram reativados em 2003 para transportar equipamentos e suprimentos para a Operação Liberdade do Iraque, provando que a reserva estratégica continua sendo uma ferramenta vital para a projeção de poder militar dos EUA no século XXI.

Modernização e a Lei SHIPS for America

A frota fantasma de hoje é muito diferente da de 1950. Em 28 de fevereiro de 2025, o inventário oficial da MARAD contava com apenas 87 embarcações. O foco mudou da quantidade para a qualidade e a prontidão.

Reconhecendo as vulnerabilidades de sua capacidade logística, o governo dos EUA discute a Lei “SHIPS for America”. A proposta representa a mais significativa reforma da política marítima em décadas, com o objetivo de revitalizar toda a indústria naval do país. O plano, portanto, é mais profundo que apenas reformar navios. É sobre reconstruir toda a capacidade de projeção de poder marítimo dos EUA, garantindo estaleiros, marinheiros qualificados e uma cadeia de suprimentos robusta para enfrentar uma nova era de ‘logística contestada’. A frota fantasma do futuro não será medida pelo número de cascos enferrujando, mas sim pela capacidade de toda uma nação de projetar seu poder através dos oceanos, provando que a verdadeira força de uma armada não está apenas nos navios que lutam, mas naqueles que garantem que a luta possa continuar.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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