Em entrevista à revista Autocar, Kai Grüritz, chefe de desenvolvimento técnico da Volkswagen, minimiza o avanço dos carros elétricos chineses, defende a experiência europeia e revela bastidores do novo VW ID Polo, criado para reconquistar o público.
A ascensão das marcas chinesas de automóveis e sua expansão global colocaram as montadoras tradicionais da Europa diante de um desafio inédito. O domínio consolidado dessas empresas passou a ser ameaçado por fabricantes da China que oferecem carros mais baratos, mas com qualidade semelhante. Ainda assim, para Kai Grüritz, chefe de desenvolvimento técnico da Volkswagen, o avanço chinês não é motivo de preocupação.
Em entrevista à revista Autocar, Grüritz afirmou de forma direta: “Não tenho medo dos chineses. Por que os chineses saberiam o que um cliente europeu quer melhor do que um fabricante europeu? Por que eles saberiam melhor como as pessoas dirigem na Grã-Bretanha?”.
A experiência como diferencial competitivo
Segundo o executivo, a experiência acumulada pelas marcas europeias segue sendo um ativo determinante. Para ele, o segredo da excelência automotiva está na interação direta entre pessoas e máquinas.
“No fim das contas, fabricar carros tem a ver com pessoas. É preciso sentar ao volante e sentir o veículo, e isso não se consegue com uma simulação, por mais avançada que seja”, explicou.
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Grüritz reconhece que os fabricantes chineses aceleraram seu ritmo de desenvolvimento ao utilizar ferramentas digitais e ambientes virtuais de teste.
No entanto, reforça que velocidade não é sinônimo de qualidade. Ele cita como exemplo o desenvolvimento dos modelos ID Polo e ID Cross, concluídos em 36 meses.
“A velocidade de trabalho chinesa é alcançável, mas o importante é fazer isso sem comprometer os fundamentos — e é isso que diferenciará as boas marcas das melhores marcas”, afirmou.
O engenheiro destaca que o processo de desenvolvimento de um carro exige tempo para ajustes e aperfeiçoamentos. “Não dá para pensar em desenvolver um carro em 24 meses e depois ter apenas duas semanas para trabalhar na sua aplicação em termos de desempenho na estrada. Isso não é suficiente, e é preciso saber exatamente o que fazer”, explicou.
Para ele, essa experiência é uma das principais vantagens das montadoras europeias. “Essa é uma vantagem que as OEMs europeias têm, não apenas a Volkswagen, mas também marcas como BMW ou Audi. Fazemos isso há muito tempo”, completou.
O papel estratégico do ID Polo
Entre os novos projetos da Volkswagen, o ID Polo é visto como peça-chave da estratégia elétrica da marca. O modelo, que promete ser um carro elétrico acessível, representa o esforço da montadora para competir tanto com os veículos chineses de baixo custo quanto com as ofertas tradicionais de suas concorrentes europeias.
Grüritz participou de todo o processo de desenvolvimento e destacou o caráter inédito dessa jornada dentro da empresa. “Começamos pouco antes do Natal de 2022, com os primeiros esboços e ideias sobre como deveria ser um Volkswagen, e desde então temos desenvolvido esse conceito.
Esta foi a primeira vez que tive a oportunidade de estar envolvido desde os esboços iniciais até a apresentação do veículo finalizado, ao longo de três anos”, relatou.
Ele ressaltou ainda o caráter colaborativo da criação do modelo. “O importante é que este não é um carro feito para mim. Isso é o que costumávamos fazer no passado: carros feitos para Piëch ou Winterkorn. Mas este é um carro feito para os nossos clientes”, afirmou.
O engenheiro explicou que a Volkswagen investiu em pesquisas de opinião, estudos e grupos focais para entender o que o público realmente desejava. “Ao desenvolver este carro, consultamos amplamente os nossos clientes sobre o que procuravam neste tipo de veículo. Este não é um veículo para os membros do conselho, mas sim um veículo para os clientes”, enfatizou.
Um Volkswagen autêntico para uma nova era
O uso do nome Polo na linha elétrica não foi apenas uma homenagem à história da marca, mas também uma forma de resgatar a identidade clássica da Volkswagen sob uma nova perspectiva. Segundo Grüritz, o foco da equipe não era simplesmente recriar um modelo antigo, mas garantir que o novo carro refletisse os valores originais da montadora.
“Não nos concentramos tanto em criar um Polo; nos concentramos em trazer de volta um Volkswagen autêntico. Esse era o objetivo em todos os aspectos: design, materiais, preço, funcionalidade. Isso nos guiou durante todo o processo de desenvolvimento”, explicou.
Com essa visão, o chefe de desenvolvimento técnico reafirma a confiança da Volkswagen em sua herança e em sua capacidade de adaptação.
Para ele, a força da marca não está apenas na tecnologia, mas na combinação entre tradição, experiência e sensibilidade ao consumidor — fatores que, segundo ele, continuarão sendo diferenciais decisivos mesmo em uma era dominada pelos carros elétricos.



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