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A floresta em Utah que na verdade é uma única árvore do tamanho de 60 campos de futebol sua origem pode remontar a 80.000 anos

Escrito por Carla Teles
Publicado em 24/10/2025 às 20:58
A floresta em Utah que na verdade é uma única árvore do tamanho de 60 campos de futebol sua origem pode remontar a 80.000 anos
Descubra Pando, a “floresta” de 47.000 árvores em Utah que, na verdade, é um único organismo de 80.000 anos pesando 6 milhões de kg. Entenda por que ele está morrendo.
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Conhecido como o Gigante Trêmulo, o que parecem ser 47.000 árvores é, na verdade, um clone de 80.000 anos que agora luta para sobreviver em Utah.

No coração de Utah, nos Estados Unidos, uma paisagem que se assemelha a uma vasta floresta de choupos-trêmulos esconde um segredo biológico: ela não é uma coleção de 47.000 árvores individuais. Conhecido como Pando, este bosque é, na verdade, um único e colossal organismo vivo, uma colônia clonal interconectada por um sistema de raízes subterrâneo massivo. Segundo a organização Friends of Pando, este gigante pesa cerca de 6 milhões de quilos e sua origem pode remontar a 80.000 anos, tornando-o um dos seres vivos mais antigos e pesados do planeta.

Apesar de sua resiliência milenar, o Gigante Trêmulo enfrenta uma crise existencial. Uma falha quase total na regeneração, causada por décadas de pastejo excessivo de veados e gado, está matando o organismo. A floresta está envelhecendo sem substitutos, um problema que, segundo historiadores, foi criado por políticas de manejo do século XX que erradicaram predadores naturais e inflaram artificialmente as populações de herbívoros.

O que é Pando, o Gigante Trêmulo?

Pando é o que a biologia define como uma colônia clonal. O que vemos acima do solo não são árvores, mas caules geneticamente idênticos (chamados “ramets”) que brotam de uma única e vasta rede de raízes. Conforme descrito pela Friends of Pando em seu panorama “What is Pando?”, cada tronco visível é análogo a um galho em uma árvore comum; o verdadeiro organismo é a rede de raízes que se espalha sob o solo. Seu nome vem do latim “eu me espalho”, e o apelido “Gigante Trêmulo” deve-se ao som distinto de suas folhas, que possuem caules achatados que balançam dramaticamente mesmo com a brisa mais suave.

A escala de Pando é monumental. O organismo cobre mais de 43 hectares (equivalente a cerca de 60 campos de futebol) e seu peso estimado de 6 milhões de quilos o classifica como o organismo vivo mais massivo conhecido na Terra. Embora um fungo no Oregon cubra uma área maior, sua massa é significativamente menor. Esta entidade colossal originou-se de uma única semente há milhares de anos e se expandiu vegetativamente, um processo onde novos brotos (“sugadores”) emergem das raízes laterais, criando cópias genéticas exatas do organismo-pai.

O debate sobre a idade: Pando tem 9.000 ou 80.000 anos?

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Determinar a idade exata de Pando é um dos maiores desafios científicos associados ao clone. Os caules individuais raramente vivem mais de 130 anos, tornando o método tradicional de contagem de anéis de crescimento (dendrocronologia) inútil para datar o organismo como um todo. Estimativas científicas conservadoras, baseadas em modelagem paleoclimática, sugerem que Pando só poderia ter surgido após o recuo das geleiras na região, o que coloca sua idade máxima na faixa de 9.000 a 14.000 anos.

No entanto, outras estimativas, frequentemente popularizadas, chegam a impressionantes 80.000 anos. Métodos mais recentes, como a análise de mutações genéticas somáticas (que funcionam como um “relógio molecular” ao rastrear pequenos erros de cópia no DNA ao longo do tempo), produziram uma faixa notavelmente ampla, de 16.000 a 80.000 anos. Se a idade mais antiga for precisa, significa que Pando sobreviveu a múltiplas e drásticas mudanças climáticas, incluindo eras glaciais, o que torna seu rápido declínio atual ainda mais alarmante e antinatural.

Por que a “floresta” de 47.000 árvores está morrendo?

A ameaça mais crítica, imediata e bem documentada a Pando é uma falha quase total na regeneração de novos caules. A causa direta é o pastejo excessivo e crônico. Segundo a Friends of Pando, populações superabundantes de veado-mula, alces e, sazonalmente, gado doméstico, se alimentam seletivamente dos brotos jovens e tenros que emergem do sistema de raízes. Ao comerem os topos desses brotos, eles efetivamente os matam, impedindo que amadureçam.

O resultado é um fenômeno demográfico alarmante: a floresta de Pando está se tornando o equivalente a uma cidade composta quase inteiramente por cidadãos idosos, sem crianças ou jovens para substituí-los. Como o ciclo de vida de um caule é de 100 a 130 anos, à medida que os caules velhos morrem, não há novos para tomar seu lugar. A Utah Division of State History, em seu artigo “The Diminishing Pando Clone”, aponta que esta crise não é natural, mas sim o resultado direto de mais de um século de decisões de manejo que alteraram o equilíbrio ecológico. A erradicação sistemática de predadores de topo (lobos, pumas) e medidas para aumentar artificialmente os animais de caça criaram um desequilíbrio profundo, e Pando tornou-se uma fonte de alimento superexplorada.

A batalha pela sobrevivência: cercas podem salvar Pando?

Os esforços de conservação, detalhados pela Friends of Pando em seu histórico sobre o manejo da terra (“The History of Land Management of The Pando Tree”), focaram-se em uma estratégia principal: o cercamento. A ideia é excluir fisicamente os herbívoros para permitir que os novos brotos sobrevivam. No entanto, esta abordagem produziu resultados drasticamente diferentes, dividindo Pando em três zonas ecológicas distintas. Em áreas com cercas robustas de 2,4 metros e bem mantidas (cerca de 16% do total), a estratégia é um sucesso retumbante, com a regeneração vigorosa criando um sub-bosque denso apelidado de “jardim de bambu”.

Infelizmente, em cerca de metade de Pando, que permanece totalmente sem cercas, a falha na regeneração é quase total e o declínio é rápido. Outra porção significativa possui cercas inadequadas ou que caíram em desuso e só recentemente foram reforçadas, mostrando recuperação lenta. Esta fragmentação representa um paradoxo profundo: a principal ferramenta de conservação está, inadvertidamente, “quebrando” Pando em ecossistemas isolados. Críticos argumentam que o cercamento é uma “solução de zoológico”, pois trata o sintoma (o pastejo) sem abordar a causa raiz do problema: o desequilíbrio das populações de vida selvagem na paisagem mais ampla.

Um símbolo de interconexão em risco

Crédito: Lance Oditt, friendsofpando.org
Crédito: Lance Oditt, friendsofpando.org

Pando não é apenas uma curiosidade biológica; é uma espécie fundamental (keystone species) que sustenta um ecossistema inteiro. Como uma das maiores florestas de choupo-trêmulo, ele cria um oásis de biodiversidade. Sua copa relativamente aberta permite que a luz solar chegue ao solo, alimentando um sub-bosque rico em gramíneas, flores silvestres e arbustos, que por sua vez fornecem alimento e habitat para uma vasta gama de insetos, pássaros e pequenos mamíferos. O colapso de Pando não seria a morte de um indivíduo, mas o colapso de centenas de outras espécies que dependem dele.

Além da ecologia, Pando tornou-se um poderoso símbolo cultural de interconexão. A imagem de 47.000 árvores que parecem separadas, mas compartilham uma única raiz, uma única vida e um único destino, ressoa profundamente em um mundo fragmentado. Conforme observado pela Friends of Pando, o organismo é uma metáfora para a comunidade, onde a saúde do todo depende da saúde de cada parte. Seu declínio atual serve como um “canário na mina de carvão”, refletindo desafios globais de má gestão de recursos e as consequências de quebrar equilíbrios ecológicos fundamentais.

A história de Pando mostra como ações humanas de décadas atrás podem ameaçar um organismo que sobreviveu a eras glaciais. Você acredita que a solução é controlar ativamente as populações de animais, como veados e alces, ou devemos focar apenas em proteger Pando com mais cercas? Qual sua opinião sobre esse complexo dilema de conservação? Deixe seu comentário.

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Carla Teles

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