De sua privatização em 1996 à decisão crítica do TCU em 2025, entenda a jornada de abandono da Malha Oeste e a corrida contra o tempo para salvar um dos corredores logísticos mais estratégicos do Brasil.
A história da Malha Oeste é a crônica de um gigante adormecido. Um ativo estratégico para o Brasil que, ao longo de décadas, sofreu com o abandono e o subinvestimento. Para entender o impasse decisivo que a ferrovia enfrenta em 2025, é preciso voltar no tempo e seguir a linha de eventos que levaram à sua degradação e à atual corrida contra o relógio para garantir seu futuro.
A trajetória deste corredor de 1.973 km, que corta o Mato Grosso do Sul e São Paulo, é marcada por trocas de controle, promessas não cumpridas e, mais recentemente, por uma disputa regulatória que coloca em jogo bilhões em investimentos e o escoamento da produção de dois dos setores mais vitais da economia brasileira: a celulose e a mineração.
1996 – 2015, A era da privatização e do abandono progressivo
A jornada moderna da Malha Oeste começa em 5 de março de 1996, com o leilão de desestatização da antiga Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). A concessão foi arrematada pela Ferrovia Novoeste S.A., que iniciou as operações em 1º de julho de 1996 com um contrato de 30 anos.
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Ao longo dos anos, a concessão mudou de mãos. Em 2008, a empresa alterou sua razão social para ALL – América Latina Logística Malha Oeste S.A. O ponto de inflexão mais recente ocorreu em 2015, quando a Rumo Logística, uma gigante do setor, assumiu o controle da operação. No entanto, a sucessão de operadores não resultou nos investimentos necessários. Avaliações do governo federal e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) foram categóricas: a infraestrutura se depreciou por “investimentos em patamares insuficientes para a sua manutenção”.
2020 – 2024, O reconhecimento da falência e a pressão econômica
O estado de abandono foi formalmente reconhecido em 21 de julho de 2020, quando a própria Rumo protocolou junto à ANTT um pedido de “devolução amigável” da concessão. Este ato deu início a um complexo processo para definir um novo futuro para a ferrovia.
Enquanto o debate regulatório se arrastava, a pressão econômica se intensificava. O leste de Mato Grosso do Sul se consolidava como o “Vale da Celulose”, um polo produtor global. Em 2024, a Suzano inaugurou sua nova fábrica gigante em Ribas do Rio Pardo, aumentando a urgência por uma solução logística para escoar milhões de toneladas de celulose que hoje sobrecarregam a rodovia BR-262.
Maio de 2025, A decisão do TCU que muda o jogo sobre a Malha Oeste
Diante da urgência, o Ministério dos Transportes e o governo de Mato Grosso do Sul, liderado pelo governador Eduardo Riedel, articularam uma “solução consensual” com a Rumo. O plano era renovar o contrato por mais 30 anos em troca de investimentos focados nos trechos mais lucrativos.
Contudo, em maio de 2025, o plano foi barrado por uma decisão do ministro relator do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz. Ele considerou que o acordo desfigurava o contrato original e representava uma “burla à licitação”, já que a Rumo não cumpria as metas de desempenho para ser elegível a uma prorrogação. A decisão determinou que o único caminho legal seria um novo leilão público.
Uma corrida para o leilão de 2026
A decisão do TCU deu início a uma corrida contra o tempo. O contrato de concessão da Rumo com a Malha Oeste expira em 30 de junho de 2026. Para evitar um vácuo operacional, o Ministério dos Transportes e a ANTT precisam estruturar e realizar um novo leilão antes dessa data.
O cronograma é extremamente apertado e o resultado definirá não apenas o futuro da ferrovia, mas também o de setores inteiros. De um lado, gigantes da celulose como Suzano e Arauco (com projeto de US$ 4,6 bilhões para 2027) precisam da via para chegar ao Porto de Santos. Do outro, a região de Corumbá depende da ferrovia para escoar até 50 milhões de toneladas anuais de minério de ferro. O sucesso do novo leilão é a chave para destravar o potencial econômico do coração do Brasil.
Parabéns pelo texto.
Resumido, isento e conciso.
Eu defendo uma nova licitação, com investimento parcial do governo federal, e a inclusão de novos trechos e a cisão de outros.
Poderia haver um rearranjo da Malha Centro-Leste ( FCA / VLI ), Malha Oeste, Malha Sul e Ferroeste, além da inclusão de trecho da Ferrovia Norte-Sul entre SP / MS / PR, que permitiria uma hinterlandia comum aos Portos de Santos, Paranaguá e São Francisco do Sul.