1. Início
  2. / Curiosidades
  3. / A doce mentira do chocolate nacional: indústria lucra com gordura hidrogenada enquanto consumidores adoecem sem perceber o que realmente estão comendo
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

A doce mentira do chocolate nacional: indústria lucra com gordura hidrogenada enquanto consumidores adoecem sem perceber o que realmente estão comendo

Publicado em 15/10/2025 às 11:25
O chocolate nacional usa menos cacau e mais gordura hidrogenada, alerta a Anvisa; excesso pode causar doenças cardiovasculares e enganar o consumidor.
O chocolate nacional usa menos cacau e mais gordura hidrogenada, alerta a Anvisa; excesso pode causar doenças cardiovasculares e enganar o consumidor.
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Indústria brasileira substitui cacau por gordura hidrogenada e vende produtos ultraprocessados como chocolate, enquanto consumidores adoecem sem perceber.

O chocolate nacional está presente em praticamente todos os lares brasileiros mas será que o que o país consome ainda pode ser chamado de chocolate? Segundo a Anvisa, basta que o produto tenha 25% de sólidos de cacau para receber essa classificação. Os outros 75% ficam por conta da indústria, que preenche o espaço com açúcar, óleos vegetais e gorduras hidrogenadas.

De acordo com o canal elementar, essa brecha regulatória criou o cenário perfeito para o surgimento de um produto que parece chocolate, mas não é. O sabor doce e a textura cremosa escondem uma realidade amarga: uma composição pobre, ultraprocessada e prejudicial à saúde. O problema vai muito além do paladar e atinge diretamente o consumidor comum, que acredita estar comprando um produto legítimo.

O rótulo que entrega a farsa

Ler os rótulos é um hábito que ainda falta ao consumidor brasileiro. É ali, na lista de ingredientes, que se revela o quanto o chocolate nacional foi adulterado ao longo dos anos.

Pela regra, o ingrediente que aparece primeiro é o que está em maior quantidade. Em muitos produtos, o cacau sequer lidera a lista é superado por açúcar, gordura e aditivos químicos.

O mesmo fenômeno se repete em outros alimentos industrializados, como o sorvete, cuja receita original usa leite e creme natural.

Hoje, o primeiro ingrediente da maioria das marcas é água, seguida de gordura hidrogenada e xarope de glicose.

O resultado é um produto barato, estável e de sabor artificial mas distante de qualquer valor nutritivo.

Essas substituições tornaram-se comuns porque reduzem custos de produção.

O uso de óleos e gorduras industriais garante durabilidade e facilidade de transporte, mas traz riscos reais à saúde, como o aumento do colesterol e doenças cardiovasculares.

O “chocolate” que não derrete na boca

A principal diferença entre um chocolate de verdade e um industrializado está na gordura utilizada. O verdadeiro leva manteiga de cacau, substância nobre e naturalmente sólida, que derrete ao entrar em contato com o calor do corpo.

Já o chocolate comum vendido em prateleiras usa CBE (Cocoa Butter Equivalent), uma gordura hidrogenada desenvolvida para imitar parcialmente a textura e aparência da manteiga original.

O processo de hidrogenação transforma óleos líquidos em gorduras sólidas por meio da adição de hidrogênio.

É uma técnica eficiente, mas gera moléculas de gordura trans, reconhecidas pela medicina como grandes inimigas do coração.

Mesmo após a Resolução 332 da Anvisa, que determinou a eliminação gradual dessas gorduras até 2023, produtos com trans ainda são encontrados facilmente nos supermercados em chocolates, sorvetes, biscoitos e margarinas.

Em países com regulação mais rígida, o uso de substitutos é severamente limitado.

No Brasil, basta atingir o mínimo de 25% de cacau para que o produto seja comercializado como “chocolate”. O resto é gordura e marketing.

Um retrocesso silencioso na lei

O Brasil já teve um padrão mais elevado. Em 1978, a legislação exigia 32% de cacau no chocolate. Mas a doença conhecida como vassoura-de-bruxa, que devastou plantações na Bahia nos anos 1980, levou à redução da exigência para 25%.

Mesmo após a recuperação da produção nacional o país hoje é o sétimo maior produtor mundial de cacau a regra nunca foi revisada.

O Senado discute elevar esse percentual para 35%, mas o debate avança lentamente. Enquanto isso, a indústria segue lucrando com fórmulas baratas, e o consumidor continua pagando por um produto que pouco tem de genuíno.

Além do impacto econômico, há um custo invisível: o da saúde pública. Estudos da Organização Mundial da Saúde e do New England Journal of Medicine já mostraram que a eliminação de gorduras trans pode prevenir milhares de doenças cardíacas por ano.

Em contrapartida, o consumo contínuo dessas substâncias está ligado ao aumento da mortalidade precoce e à incidência de diabetes tipo 2.

Um paladar treinado para o falso

A estratégia da indústria vai além da composição química ela age no comportamento.

O paladar brasileiro foi condicionado a aceitar sabores artificiais, doces em excesso e texturas gordurosas.

Assim, muitos consumidores já não reconhecem o sabor real do cacau e confundem qualidade com intensidade de açúcar.

Como resultado, produtos genuínos, com alto teor de cacau, acabam parecendo “amargos demais” para quem cresceu com versões diluídas.

Isso mantém o ciclo de dependência dos industrializados e desestimula o consumo de chocolates artesanais ou importados de maior pureza.

O preço da ignorância alimentar

YouTube Video

O caso do chocolate nacional expõe um problema maior: a fragilidade da regulação e da educação alimentar no Brasil. Ao priorizar o lucro e a praticidade, a indústria cria um mercado onde o consumidor é enganado e, ao mesmo tempo, adoece.

Mais do que uma discussão sobre sabor, o tema envolve transparência, saúde e ética. Afinal, o que vale mais: o prazer de um doce barato ou o custo de uma alimentação que compromete o futuro?

Ler o rótulo é um ato político. É o primeiro passo para quebrar um sistema que lucra com o desconhecimento da população.

O chocolate nacional é apenas um símbolo de algo maior: um modelo de consumo baseado em ilusão.

A população compra sabor e conforto, mas leva para casa um produto de baixa qualidade, cheio de aditivos e gorduras invisíveis.

Enquanto o Brasil não elevar seus padrões e o consumidor não exigir mais transparência, o país continuará refém de uma indústria que vende gordura como cacau e doença como prazer.

Banner quadrado em fundo preto com gradiente, destacando a frase “Acesse o CPG Click Petróleo e Gás com menos anúncios” em letras brancas e vermelhas. Abaixo, texto informativo: “App leve, notícias personalizadas, comentários, currículos e muito mais”. No rodapé, ícones da Google Play e App Store indicam a disponibilidade do aplicativo.
Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x