A dívida do Japão é a maior do mundo em proporção ao PIB e supera 235% do PIB, mas o país mantém estabilidade com financiamento interno, juros historicamente baixos, atuação do Banco do Japão e alta poupança doméstica que sustentam a rolagem da dívida sem ruptura
A dívida do Japão já supera 235% do PIB e, ainda assim, a economia japonesa não entrou em colapso. O caso intriga analistas porque combina o maior endividamento proporcional entre as grandes economias com um nível de estabilidade que persiste há décadas, ancorado por financiamento doméstico e política monetária ultraacomodatícia.
Esse quadro nasceu de um processo longo: após o estouro da bolha no início dos anos 1990, o país acumulou déficits, lançou pacotes de estímulo e viu o envelhecimento populacional elevar gastos obrigatórios. A dívida do Japão cresceu, mas mecanismos internos reduziram o risco de crise imediata.
Origem da dívida: bolha, estímulos e demografia
O ponto de inflexão veio com o estouro da bolha de ativos no começo dos anos 1990.
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Preços de imóveis e ações caíram de forma abrupta, empresas e bancos ficaram fragilizados e a economia mergulhou em estagnação com deflação.
O governo respondeu com gastos em infraestrutura e apoio ao sistema financeiro.
Com a arrecadação em queda e a política fiscal expansionista, o Tesouro aumentou emissões de títulos.
A dinâmica se tornou estrutural quando a população economicamente ativa começou a encolher e os gastos com previdência e saúde subiram.
A dívida do Japão passou a refletir tanto um choque histórico quanto a pressão demográfica contínua.
Por que não houve colapso: cinco pilares de sustentação
O primeiro pilar é a dívida interna. Cerca de 90% dos títulos está nas mãos de investidores japoneses, como bancos e fundos de pensão, o que reduz a exposição a choques externos e volatilidade cambial.
O segundo pilar são taxas de juros muito baixas, inclusive negativas em partes do período, que baratearam a rolagem.
O terceiro pilar é o papel do Banco do Japão (BoJ), que comprou uma parcela relevante dos títulos do governo. Com isso, parte dos juros pagos retorna ao próprio setor público.
O quarto pilar é a poupança doméstica elevada, que cria uma base ampla e estável de financiadores.
Por fim, moeda forte e credibilidade de uma economia do G7 preservam a confiança de investidores.
Marcos que mudaram a trajetória
Na década de 1990, além do colapso da bolha, o país enfrentou a crise asiática de 1997, reforçando os estímulos. Nos anos 2000, vieram juros zero e flexibilização quantitativa, tentando conter a deflação.
Esses movimentos não eliminaram as causas de fundo, mas mantiveram o serviço da dívida administrável.
Nos anos 2010, o terremoto e tsunami de 2011 exigiram reconstrução pesada, e as Abenomics a partir de 2012 combinaram estímulo fiscal, afrouxamento monetário e reformas.
Na década de 2020, a COVID-19 trouxe novos pacotes. Mais recentemente, o fim dos juros negativos em 2024 e a alta dos rendimentos de longo prazo em 2025 adicionaram incerteza ao custo futuro da dívida.
Situação atual: estabilidade com novas pressões
Hoje, a dívida do Japão segue acima de 250% do PIB em termos brutos, sustentada por financiamento doméstico e pelo peso do BoJ no mercado de JGBs.
A normalização monetária e a elevação das taxas de longo prazo, porém, podem encarecer a rolagem e testar os limites do modelo.
A demografia continua central. A queda da natalidade e o envelhecimento rápido elevam gastos obrigatórios e comprimem a base de contribuintes.
Se a poupança das gerações mais velhas diminuir, pode aumentar a dependência de capital externo, elevando o risco financeiro e a sensibilidade a movimentos globais.
Curiosidades e fatos pouco comentados
A dívida líquida do Japão é muito menor que a bruta quando se descontam os ativos financeiros do governo.
Em referência recente, a líquida ficou próxima de 78% do PIB, enquanto a bruta figurava perto de 270%. Essa diferença altera a leitura de sustentabilidade.
O BoJ chegou a deter mais da metade dos títulos do governo em circulação, o que torna o setor público o principal credor de si mesmo.
Sistemas como a poupança postal foram, por anos, canais massivos de captação para financiar políticas públicas.
E, apesar do tamanho da dívida, o gasto líquido com juros permaneceu muito baixo durante boa parte do período de juros negativos.
A dívida do Japão é um paradoxo: combina fragilidade estrutural com resiliência de financiamento.
O país atravessou décadas de endividamento sem rupturas, mas a virada monetária recente e a demografia pressionam a equação.
O teste real será manter custo baixo de rolagem enquanto a poupança doméstica encolhe e os rendimentos de longo prazo sobem.
Você acha que a dívida do Japão continua administrável com juros mais altos ou que o país está comprando tempo e empurrando ajustes para frente? Que lições esse caso deixa para economias que não têm a mesma poupança interna? Conte como você enxerga os riscos e as saídas possíveis nos comentários.