Muito além do sotaque e da arquitetura, a cidade catarinense preserva o dialeto, as tradições e um calendário festivo único que a tornam um santuário da cultura germânica fora da Europa.
Localizada no coração do Vale Europeu em Santa Catarina, Pomerode se destaca como um fenômeno cultural. Ao caminhar por suas ruas, a sensação de estar em uma pequena cidade da Alemanha é imediata e autêntica, resultado de uma herança preservada com orgulho por seus habitantes. Conhecida oficialmente como a cidade “mais alemã” do Brasil, Pomerode não é apenas um destino turístico com fachadas bonitas, mas uma comunidade vibrante onde a língua, os costumes e a história dos imigrantes da Pomerânia moldam o dia a dia, transformando o município em um guardião de uma cultura que quase desapareceu em seu continente de origem.
O título não é apenas uma percepção turística, mas um reflexo de uma identidade construída e mantida ao longo de mais de 160 anos. Desde a arquitetura enxaimel, que ostenta a maior concentração de casas no estilo fora da Alemanha, até a forte presença do dialeto pomerano no cotidiano, a cidade se tornou um exemplo de como a preservação cultural pode ser o motor do desenvolvimento social e econômico. Essa dedicação à autenticidade é o que atrai milhares de visitantes todos os anos, curiosos para entender o que faz de Pomerode um pedaço tão singular e vivo da Europa em solo brasileiro.
As raízes históricas que justificam o título
A fundação de Pomerode, em 1863, foi realizada por imigrantes da Pomerânia, uma região histórica situada ao norte da Alemanha, como detalha o portal Mystras. Essa origem é fundamental para entender a identidade local. Um dos símbolos mais marcantes dessa conexão é o pórtico de entrada da cidade, uma réplica fiel do portão de Estetino, a antiga capital da Pomerânia europeia. A escolha desse marco é carregada de significado, pois, após a Segunda Guerra Mundial, a região da Pomerânia foi dissolvida e seu território anexado em grande parte pela Polônia.
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Com a extinção cultural em sua terra natal, Pomerode, no Brasil, se tornou um dos principais refúgios dessa identidade. Isso explica a forte preservação do dialeto pomerano, uma variante do baixo-alemão que hoje é raramente ouvida na Europa. Conforme aponta o Mystras, a cidade brasileira assumiu o papel de guardiã de uma cultura órfã de seu lar geográfico, o que motiva a manutenção rigorosa de seus costumes, tradições e, principalmente, de sua língua.
Arquitetura enxaimel: a paisagem que conta uma história
A identidade visual de Pomerode é inseparável de sua arquitetura enxaimel. O portal Viagens e Caminhos destaca que a cidade possui a maior concentração de edificações nesse estilo fora da Alemanha, com cerca de 50 casas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) ao longo da famosa Rota do Enxaimel. Essa técnica construtiva, caracterizada por estruturas de madeira encaixadas sem o uso de pregos, com vãos preenchidos por tijolos, é a manifestação mais visível da herança germânica.
Mais do que beleza, a arquitetura reflete o pragmatismo e a resiliência dos colonizadores. As casas podiam ser desmontadas e transportadas, uma solução engenhosa para uma comunidade que precisava se adaptar a um novo território. Hoje, a Rota do Enxaimel não é apenas um museu a céu aberto, mas uma paisagem cultural viva, onde muitas famílias ainda residem, mantendo a autenticidade do local que foi reconhecido pela ONU como uma das “Melhores Vilas Turísticas” do mundo.
Idioma, festas e sabores: a cultura que se vive e se prova
A imersão na cultura alemã em Pomerode vai muito além do que se vê. Segundo a agência Freeway Viagens, cerca de 80% da população fala alemão, seja o dialeto pomerano ou o alemão padrão. A língua é tão presente que foi instituída como cooficial no município, sendo ensinada nas escolas e usada na sinalização pública, garantindo sua transmissão para as novas gerações. Essa vitalidade linguística é um dos pilares que sustentam o título de a cidade “mais alemã” do Brasil.
A cultura também é celebrada em um calendário festivo que atrai visitantes o ano inteiro. A Freeway Viagens aponta a Festa Pomerana, em janeiro, como um dos principais eventos, onde durante 10 dias a cidade celebra suas raízes com música, danças folclóricas, competições de tiro e comidas típicas. Pratos como o Marreco Recheado e o Eisbein (joelho de porco) são destaques da culinária local, que também inclui a produção artesanal de cervejas, chocolates premiados e embutidos, oferecendo uma experiência germânica completa.
O que fazer em Pomerode? Atrações para toda a família
Embora a herança cultural seja o grande atrativo, a cidade oferece uma variedade de pontos turísticos para diferentes públicos. O guia Viagens e Caminhos menciona o Zoo Pomerode, o mais antigo de Santa Catarina, como uma parada obrigatória para famílias, abrigando mais de mil animais. Ao lado, a Vila Encantada, com temática de dinossauros, e o Alles Park, com sua famosa Vila da Neve, complementam as opções de entretenimento.
Para os interessados em aprofundar-se na história e nos sabores locais, museus como o Pomerano e o do Automóvel são visitas recomendadas. A fábrica da Nugali Chocolates oferece tours que mostram o processo de produção “do grão à barra”, com degustações que encantam os visitantes. Essa combinação de atrações históricas e de lazer consolida Pomerode como um destino completo, onde vale a pena passar vários dias explorando suas múltiplas facetas.
Um legado vivo e em constante celebração
Pomerode prova que a preservação da identidade cultural não significa parar no tempo. A cidade soube transformar sua herança em seu maior ativo, criando um modelo de desenvolvimento sustentável baseado no turismo e no orgulho de suas raízes. A fama de cidade “mais alemã” do Brasil é, portanto, mais do que um slogan: é um compromisso diário de sua comunidade em manter viva uma cultura que encontrou no Vale do Itajaí um novo lar. A cada casa enxaimel restaurada, a cada festival realizado e a cada conversa em pomerano, a cidade reafirma que sua história é a sua maior força para o futuro.
E você, já visitou Pomerode ou tem vontade de conhecer? Acha que outras cidades brasileiras com forte herança imigrante poderiam seguir esse exemplo de preservação? Deixe sua opinião nos comentários, queremos saber como você enxerga a importância de manter viva a nossa história.