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A ascensão e queda da Rede Manchete: como a emissora que desafiou a Globo investiu milhões e desapareceu sob dívidas e colapsos nos bastidores

Publicado em 15/10/2025 às 19:16
A ascensão e queda da Rede Manchete: a emissora que desafiou a Globo, mudou a televisão brasileira e sucumbiu sob dívidas milionárias.
A ascensão e queda da Rede Manchete: a emissora que desafiou a Globo, mudou a televisão brasileira e sucumbiu sob dívidas milionárias.
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Rede Manchete investiu milhões, elevou o padrão técnico da TV brasileira e, anos depois, sucumbiu a dívidas e colapsos nos bastidores.

A Rede Manchete marcou uma geração com jornalismo robusto, novelas de estética cinematográfica e uma programação infantil que virou fenômeno. Nascida para competir em padrão técnico e ambição com a líder de audiência, a emissora investiu pesado em equipamentos, estúdios e gente qualificada e, por um tempo, conseguiu mudar o nível da televisão aberta no país.

Segundo o Conhecimento Disruptivo, no auge, a Rede Manchete parecia imparável: construções de estúdios de ponta, transmissões de carnaval que viraram referência e sucessos como Pantanal fizeram a rede mirar o topo. Mas a conta não fechou. Dívidas crescentes, falhas de gestão comercial e a instabilidade macroeconômica corroeram o projeto. Em 1999, após uma sequência de tentativas frustradas de salvação, a emissora saiu do ar e deu lugar à RedeTV!.

Um projeto ambicioso desde a largada

A Rede Manchete nasceu do ímpeto empresarial de Adolfo Block, magnata da comunicação que decidiu entrar na TV após vencer, em 1981, a disputa por concessões resultantes do fim da Tupi.

A estratégia era clara: lançar uma rede com padrão técnico superior, capaz de rivalizar com a maior emissora do país.

Para isso, Block investiu cerca de US$ 50 milhões na montagem de uma infraestrutura de última geração, com equipamentos importados dos Estados Unidos e do Japão.

A aposta incluiu um complexo de estúdios moderno cerca de US$ 20 milhões destinados a instalações e treinamento técnico e antenas mais potentes, que ampliavam o alcance com qualidade.

Para ganhar independência de produção, a rede ergueu o Polo de Cinevídeo, uma cidade cenográfica com investimento adicional de US$ 15 milhões.

O resultado foi uma emissora que operava com som estéreo e imagens de alta definição para a época, um salto qualitativo que virou marca registrada.

Jornalismo forte, inovação em formato e identidade marcante

A estreia, em 1983, trouxe um Jornal da Manchete robusto, ancorado por reportagens aprofundadas e quadros investigativos.

Programas como Câmera Manchete e Documento Especial consolidaram a credibilidade editorial, enquanto o Conexão Internacional ampliou o horizonte com entrevistas e temas globais.

A rede se diferenciou ao tratar informação com linguagem visual arrojada e tempo para apuração.

No entretenimento, a Rede Manchete misturou sofisticação e popularidade. O Clube da Criança, inicialmente com Xuxa, tornou-se vitrine para uma programação infantil que dominaria as manhãs e tardes nos anos seguintes.

A vinheta futurista, as transmissões de carnaval e a curadoria de videoclipes (antes mesmo de a MTV chegar) compuseram uma identidade audiovisual que o público lembra até hoje.

Era TV com assinatura estética e ambição cultural.

Novelas que desafiaram padrões e o caixa

Na dramaturgia, a emissora entrou de vez no jogo com novelas visualmente exuberantes. Dona Beija chamou atenção pelos cenários e produção, mas a fatura foi alta.

Mesmo assim, a rede dobrou a aposta e, em 1990, lançou Pantanal, gravada em locações naturais e concebida como superprodução.

Cada capítulo custava muito acima da média do mercado, e o orçamento total foi estimado em US$ 7 milhões uma ousadia que rendeu picos de 40 pontos no Ibope e cerca de US$ 120 milhões em publicidade.

O êxito, porém, não se repetiu com a mesma força em Amazônia, que teve alto custo e retorno aquém do esperado.

Ainda assim, a vitrine da Rede Manchete revelou e projetou talentos que mais tarde migraram para outras emissoras.

No começo dos anos 1990, tramas como Ana Raio e Zé Trovão sustentaram prestígio, mas sem reproduzir o efeito Pantanal e o desequilíbrio entre custo e receita começou a pesar.

A matemática que não fechou: dívidas, publicidade e parcerias frustradas

A ambição tinha preço. Em 1986, a Rede Manchete já lidava com dívida de US$ 23 milhões e prejuízos próximos de US$ 80 milhões.

A hiperinflação corroía margens, anunciantes hesitavam, e a emissora vendia publicidade abaixo do valor que o sucesso de audiência permitiria.

Era uma TV cara de fazer e barata de vender uma combinação que minou o fôlego financeiro.

Vieram então as tentativas de reforço de caixa. Negociações com a Televisa esbarraram em restrições legais. Em 1993, um acordo com o Grupo IBF previa US$ 25 milhões em investimento e a assunção de US$ 110 milhões em dívidas; não se concretizou como prometido.

Para sustentar a operação, Adolfo Block vendeu ativos pessoais e injetou cerca de US$ 100 milhões do próprio bolso. Mesmo assim, a engrenagem não voltou a girar em velocidade de cruzeiro.

Crise terminal: greves, cortes e a venda

A morte do fundador, em 1995, foi o golpe simbólico. Sem a liderança que conciliava visão e execução, a rede afundou em passivos: cerca de US$ 100 milhões em dívidas só com um grande banco público, salários atrasados, fornecedores na fila e ações trabalhistas em escalada.

Em 1996, a emissora reduziu drasticamente a produção própria, recorreu a reprises e importados e perdeu nomes do elenco e do jornalismo.

O ponto de ruptura chegou em 1998, quando as dívidas superaram US$ 400 milhões. Houve greves, demissão de cerca de 600 funcionários e até interrupções técnicas por falta de pagamento.

Em 1999, uma tentativa de arrendamento à TeleTV naufragou em meio a questionamentos legais e foi rescindida pela Justiça.

Sem alternativa, a família decidiu vender: em novembro de 1999, os ativos e a concessão passaram à RedeTV! por cerca de US$ 60 milhões.

Parte do passivo trabalhista foi assumida pelo novo grupo, mas as disputas judiciais se estenderam por anos.

Legado de brilho e advertência

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A Rede Manchete deixou um legado incontornável: elevação do padrão técnico, jornalismo autoral, novelas icônicas e uma programação infantil que moldou hábitos.

Ao mesmo tempo, sua história expõe o custo da ambição sem lastro financeiro, a fragilidade de um mercado concentrado em publicidade e a dificuldade de sustentar superproduções em ambiente macroeconômico adverso.

O caso é, portanto, um estudo de equilíbrio entre criatividade e gestão. Brilho artístico sem disciplina de caixa não resiste; disciplina sem ousadia não cria marcos culturais.

A Manchete tentou ser as duas e pagou caro quando o balanço pendeu para o descontrole.

A Rede Manchete foi uma experiência única de TV aberta que eletrizou a audiência e desafiou estruturas e que ruiu quando os bastidores não sustentaram o palco. Você concorda que a queda era inevitável ou acredita que uma gestão diferente teria salvado a emissora? Qual programa, novela ou desenho da Manchete marcou você? Conte nos comentários: quais decisões deveriam ter sido tomadas e quando? Queremos ouvir quem viveu essa época de perto.

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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