JD.com compra a MediaMarkt por US$ 2,5 bilhões e desafia a liderança da Amazon no varejo europeu. Saiba como a “Amazon chinesa” quer dominar o mercado com lojas físicas e logística avançada.
A gigante chinesa JD.com, frequentemente chamada de “Amazon chinesa”, acaba de dar um passo ousado rumo à dominação do varejo europeu ao anunciar a aquisição da MediaMarkt por US$ 2,5 bilhões. A transação marca não apenas a entrada oficial da JD.com na Europa, mas também o início de uma disputa direta com a Amazon pela liderança do comércio eletrônico europeu. Com essa jogada estratégica, a China mostra que quer mais do que fabricar produtos: agora ela quer distribuí-los — rápido, eficiente e em escala global.
A compra foi feita por meio da aquisição de 57,1% da Ceconomy, controladora da MediaMarkt, por 4,60 euros por ação — um prêmio de 23% em relação ao valor de mercado. A família Kellerhals, que era a maior acionista, continua com 25,35% e permanecerá como sócia estratégica. Agora, com a operação sujeita à aprovação regulatória e conclusão prevista para o primeiro semestre de 2026, o jogo do varejo europeu pode estar prestes a mudar completamente.
JD.com na Europa: a estratégia da “Amazon chinesa” para desafiar a liderança no varejo europeu
A movimentação da JD.com não ocorre por acaso. A Europa está se tornando um destino cada vez mais atrativo para investimentos chineses, especialmente diante do aumento das tensões comerciais entre China e Estados Unidos. Em 2024, os aportes chineses no continente europeu dobraram, atingindo US$ 8,45 bilhões, o maior valor desde 2021.
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A JD.com busca na Europa aquilo que o mercado norte-americano dificulta: acesso a consumidores de alta renda, estabilidade regulatória e um ecossistema maduro.
Com 450 milhões de consumidores e uma estrutura de varejo ainda fortemente apoiada em lojas físicas, o continente oferece uma base ideal para combinar o modelo omnichannel com logística de ponta.
MediaMarkt e a rede física que a Amazon não tem
A MediaMarkt, com suas mais de 1.000 lojas em 11 países europeus e 50.000 funcionários, é um trunfo valioso. Embora a Amazon domine o e-commerce europeu, sua presença física é quase inexistente.
Ao adquirir a MediaMarkt, a JD.com ganha instantaneamente uma estrutura de varejo presencial, com lojas onde consumidores podem retirar pedidos imediatamente, consultar especialistas e acessar suporte técnico local — elementos que a Amazon ainda não oferece em larga escala na Europa.
Mais do que uma aquisição tradicional, a operação representa uma fusão de capacidades: a infraestrutura física da MediaMarkt se combina com a tecnologia de ponta da JD.com, que opera uma das cadeias logísticas mais eficientes do mundo, com mais de 550 armazéns automatizados por inteligência artificial.
Liderança da Amazon no varejo europeu é ameaçada?
A Amazon ainda reina absoluta no e-commerce europeu, com participação dominante em mercados como Alemanha, Reino Unido, França e Itália. No entanto, a chegada da JD.com com uma estratégia agressiva de preços, entregas ultrarrápidas e presença física via MediaMarkt muda o equilíbrio competitivo.
Enquanto a Amazon luta com questões sindicais, prazos de entrega variáveis e dependência de marketplaces, a JD.com aposta em um modelo verticalizado, com estoques próprios, entrega no mesmo dia nas grandes metrópoles e algoritmos que antecipam demandas locais. Se conseguir replicar seus padrões chineses, a experiência de compra na Europa pode ser revolucionada.
A promessa e o risco: empregos garantidos e automação iminente
Como parte do acordo, a JD.com prometeu manter os empregos por três anos e manter a sede da MediaMarkt em Düsseldorf, além de preservar a atual estrutura de gestão. No entanto, analistas apontam que a empresa está, na verdade, comprando algo ainda mais valioso: dados.
Ao adquirir a MediaMarkt, a JD.com terá acesso aos padrões de consumo de milhões de europeus — algo que pode ser usado para personalizar ofertas, otimizar cadeias de suprimento e até mesmo prever tendências de compra.
Mas essa digitalização pode ter um custo humano. Apesar da promessa de manter empregos, espera-se que a empresa automatize gradualmente processos, substituindo atividades operacionais por funções mais técnicas e especializadas.
“Amazon chinesa” quer ser mais que rival: quer ser dominante
O movimento da JD.com na Europa reflete uma ambição maior: deixar de ser apenas uma concorrente da Amazon e se tornar sua substituta.
A empresa já dominou o mercado chinês, superando a própria Alibaba em eficiência logística e confiabilidade. Agora, com a MediaMarkt, ela entra na Europa com uma marca consolidada, pronta para se tornar um “cavalo de Troia” do varejo chinês.
Trata-se de uma virada de chave global. A China, por décadas considerada apenas “a fábrica do mundo”, passa a ocupar um novo papel: o de distribuidora de bens de consumo em escala global, com controle sobre a logística, o ponto de venda e a experiência do consumidor.
Consumidores podem se beneficiar de entregas mais rápidas e preços melhores
Se tudo correr como a JD.com planeja, os consumidores europeus poderão se beneficiar diretamente. A empresa promete entregas em até 24 horas nas cidades e no mesmo dia nas grandes metrópoles, um padrão ainda raro no continente.
Além disso, a competição com a Amazon pode levar a melhores preços, mais promoções e um nível superior de atendimento, o que pode reaquecer o setor varejista e forçar outras redes a se modernizarem.
A aquisição da MediaMarkt por US$ 2,5 bilhões marca um novo capítulo na disputa global pelo controle do comércio eletrônico. A JD.com chega à Europa com força total, uma base de lojas físicas robusta, tecnologia logística incomparável e ambição declarada de desbancar a Amazon.
Se conseguir integrar bem as operações e manter a confiança dos consumidores europeus, a “Amazon chinesa” pode se transformar na nova potência varejista do Ocidente, alterando o equilíbrio de forças em um dos mercados mais importantes do mundo.