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90% dos chineses têm imóvel próprio: a política que transformou inquilinos em donos e moldou a estabilidade social da segunda maior economia do mundo

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 06/11/2025 às 16:05
Imóvel próprio na China avança com reforma habitacional, direito de uso e privatização em massa, fortalecendo estabilidade social e efeitos urbanos duradouros.
Imóvel próprio na China avança com reforma habitacional, direito de uso e privatização em massa, fortalecendo estabilidade social e efeitos urbanos duradouros. IMAGEM: WILLIAM GUEY
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Com taxas recordes de imóvel próprio, a China alcançou cerca de 90% de famílias proprietárias após a virada de 1998, quando a privatização em massa de moradias públicas converteu inquilinos em donos com descontos substanciais, elevou a estabilidade social e criou um colchão patrimonial que ainda molda o consumo e o crédito das cidades chinesas

O avanço do imóvel próprio na China tem uma explicação institucional clara. A reforma habitacional de 1998 encerrou a distribuição de moradias por estatais e abriu caminho para vendas subsidiadas de apartamentos que estavam ocupados havia anos. Em poucos ciclos, milhões de famílias passaram de inquilinas a proprietárias, ampliando a base patrimonial e reduzindo tensões urbanas típicas de mercados onde alugar é a regra.

Conforme o especialsita William Guey, os números dão a dimensão do fenômeno. Estimativas citadas indicam aproximadamente 90% de famílias proprietárias no agregado nacional, com cerca de 85% nas áreas urbanas e 94,6% nas rurais, além de média de 1,22 moradia por família urbana. Para comparação, patamares usuais ficam perto de 60% no mundo, com Estados Unidos em torno de 65% e Alemanha por volta de 50%. O resultado chinês é, portanto, fora da curva. Esse desenho apoia o direito de uso e reforça a estabilidade social.

Como a reforma de 1998 mudou a base do mercado

A transição começou quando empresas e órgãos públicos deixaram de prover moradia direta e o estoque foi vendido aos ocupantes com forte desconto.

A política destravou propriedade privada em larga escala, transferindo patrimônio a famílias que já residiam nos imóveis e criando incentivos à manutenção e à valorização de longo prazo.

Esse choque de titularidade teve efeito cascata. A reforma habitacional redefiniu cadastros e garantias.

Ao converter aluguel em patrimônio, a reforma elevou a capacidade de garantia para crédito, melhorou a percepção de segurança no futuro e induziu investimentos domésticos.

A estabilidade habitacional passou a operar como pilar de paz social e de planejamento familiar.

Imóvel, direito de uso e o prazo de 70 anos

Há uma particularidade que define o desenho chinês. Na China, o Estado mantém a propriedade da terra e concede direitos de uso.

Para residências, a regra geral é um prazo de 70 anos.

O debate sobre renovação ao fim do período ainda não é totalmente transparente, mas práticas locais têm indicado continuidade e regularização ao longo do tempo, conforme diretrizes municipais.

Esse arranjo dá instrumentos ao poder público para modernizar bairros e redesenhar cidades.

Quando há necessidade de realocar moradores, autoridades praticam indenizações frequentemente acima do preço de mercado, o que acelera projetos e reduz contenciosos.

A combinação de direito de uso e compensação ajuda a evitar paralisia urbana sem retirar do cidadão o valor econômico do seu imóvel próprio.

Urbano, rural e a distribuição da propriedade

O contraste entre urbano e rural ajuda a ler a taxa agregada. Nas cidades, cerca de 85% das famílias têm moradia própria, em um ambiente de preços elevados e alta densidade.

No campo, a propriedade beira 94,6%, refletindo tradições de ocupação e construção em terrenos locais ao longo de gerações.

A média de 1,22 unidade por família urbana sugere uma segunda moradia em parte dos domicílios, distribuída entre investimento, apoio a parentes e mobilidade intraurbana.

Esse excedente melhora a resiliência patrimonial, mas impõe desafios de uso eficiente em bairros com vacância e rotação lenta.

Preços, juventude e acesso à primeira compra

A alta titularidade não elimina a pressão de preços nos principais polos.

Em locais como Pequim, muitos jovens relatam dificuldade para adquirir o primeiro apartamento, recorrendo a apoio financeiro de pais e familiares.

O imóvel próprio continua simbolizando status, estabilidade e respeito familiar, o que mantém a procura elevada mesmo em ciclos mais restritivos.

Essa dinâmica reforça um traço cultural. Casamento, planejamento de filhos e prestígio social frequentemente passam pela compra da casa.

Quando os preços sobem, ocorre um deslocamento de demanda para áreas periféricas e cidades satélites, mantendo viva a ambição da propriedade em trajetórias mais longas.

Efeitos macro: estabilidade social e ancoragem patrimonial

A expansão do imóvel próprio reduziu incerteza para famílias e ancorou riqueza imobiliária como parcela relevante do patrimônio.

Com propriedade disseminada, a volatilidade de curto prazo em aluguéis pesa menos no orçamento, e o efeito riqueza sustenta consumo em segmentos duráveis e serviços.

No plano institucional, a casa própria amplia a legitimidade de políticas urbanas, já que proprietários participam mais de decisões de bairro e demandam infraestrutura.

O resultado é um ciclo de estabilidade social, com impactos indiretos sobre produtividade e planejamento de longo prazo.

Comparações internacionais e lições de política pública

Em relação a países com 50% a 65% de proprietários, a China adotou um caminho singular ao privatizar em massa e estruturar o direito de uso.

O desenho é difícil de replicar sem reforma institucional extensa, mas sugere lições: estoques públicos podem ser alavanca quando transformados com critérios sociais, e indenizações adequadas aceleram requalificações urbanas.

Para economias com déficit crônico de moradia, a experiência indica que escala, financiamento e segurança jurídica são condições necessárias para elevar o imóvel próprio sem travar a mobilidade.

O desafio é balancear propriedade e aluguel de qualidade, de forma a manter flexibilidade urbana.

A China construiu, em poucas décadas, uma sociedade de proprietários com taxas próximas de 90%, apoiada na reforma de 1998, no direito de uso de 70 anos e em mecanismos de indenização que viabilizam modernização urbana.

O imóvel próprio tornou-se pilar econômico e simbólico, articulando estabilidade, crédito e coesão social.

Na sua opinião, um modelo com direito de uso por 70 anos e indenizações robustas funcionaria para ampliar o imóvel próprio em outros países ou o caminho deveria priorizar aluguel de qualidade com proteção ao inquilino?

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Bruno Teles

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