Profissões técnicas em automação industrial pagam mais de R$ 9,5 mil e sofrem com escassez de mão de obra no Brasil; veja as 7 mais valorizadas.
O avanço da tecnologia e da automação industrial no Brasil está criando um cenário de alta demanda por mão de obra qualificada e, ao mesmo tempo, evidenciando uma escassez preocupante de profissionais especializados. Empresas de diferentes setores — de fábricas de automóveis a linhas de produção de alimentos e indústrias químicas — estão disputando técnicos capazes de operar, programar e manter sistemas automatizados, elevando os salários para patamares que ultrapassam R$ 9,5 mil por mês, mesmo sem exigir ensino superior.
De acordo com dados recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e de associações do setor, a automação já está presente em mais de 70% das grandes plantas industriais no Brasil, e a tendência é que esse número cresça de forma acelerada com a adoção de robôs colaborativos, inteligência artificial e internet das coisas (IoT) nas linhas de produção. O problema é que a formação de profissionais técnicos não acompanha essa velocidade, gerando um verdadeiro “apagão” de mão de obra.
Profissionais técnicos viram peça-chave na nova indústria 4.0
A chamada Indústria 4.0 exige um perfil de trabalhador que combina conhecimento técnico prático com habilidades em programação, interpretação de dados e manutenção preventiva de sistemas complexos. Nesse cenário, o técnico não é mais apenas um operador, mas sim um solucionador de problemas, capaz de intervir rapidamente para evitar a paralisação de uma linha de produção que pode gerar prejuízos milionários por hora parada.
-
Brasil, gigante das águas: conheça os maiores rios que fazem do país uma potência hídrica mundial
-
“Lixo de IA” toma conta do YouTube e redes sociais — como resolver o problema?
-
Estamos à beira de um mundo sem praias, e o preço para evitar isso é quase impossível
-
A empresa que construiu parte de Itaipu, Belo Monte e metrôs, movimentou bilhões e enfrentou R$ 1,5 bilhão em dívidas — até afundar em 8 anos de recuperação judicial
Segundo levantamento do Senai, o Brasil precisará formar cerca de 400 mil profissionais em áreas técnicas ligadas à automação até 2027 para atender à demanda das indústrias. Enquanto isso, quem já possui qualificação encontra oportunidades com salários atrativos, muitas vezes superiores aos de profissionais com diploma universitário.
As 7 profissões técnicas mais valorizadas no setor
- Técnico em Automação Industrial – Atua na instalação, programação e manutenção de sistemas automatizados. Salário médio de R$ 8,5 mil, podendo chegar a R$ 12 mil em empresas de grande porte.
- Técnico em Mecatrônica – Profissional híbrido que combina conhecimentos de mecânica, eletrônica e computação. Pode atuar no desenvolvimento de soluções integradas para processos industriais.
- Técnico em Robótica Industrial – Especializado em robôs industriais e colaborativos, essencial em linhas de produção de alta precisão, como a indústria automotiva.
- Técnico em Manutenção Eletromecânica – Responsável por garantir o funcionamento contínuo das máquinas, unindo habilidades de eletricidade e mecânica.
- Técnico em Instrumentação e Controle – Profissional de alta demanda em indústrias químicas, petroquímicas e de energia, que atua no monitoramento e ajuste de processos.
- Técnico em Eletrônica Industrial – Atua na instalação e reparo de sistemas eletrônicos que controlam equipamentos industriais.
- Técnico em Programação de CLPs – Especialista em controladores lógicos programáveis, que são o “cérebro” de muitas linhas de produção automatizadas.
Por que há escassez de profissionais no Brasil
O déficit de técnicos no setor de automação é resultado de um conjunto de fatores: baixa procura por cursos técnicos, falta de atualização constante dos currículos escolares e rápida evolução tecnológica. Muitas escolas técnicas e até mesmo universidades não conseguem acompanhar o ritmo de mudanças, fazendo com que parte da mão de obra saia desatualizada para o mercado.
Além disso, há uma questão cultural. Ainda existe no Brasil a percepção de que a formação universitária é mais valorizada, o que afasta jovens do ensino técnico. No entanto, no setor industrial, essa tendência está se invertendo: empresas já estão priorizando habilidades práticas e experiência de campo em vez de diplomas acadêmicos.
Salários e benefícios em alta para atrair talentos
Com a disputa por profissionais acirrada, as empresas têm oferecido pacotes de remuneração mais agressivos. Além dos salários que podem ultrapassar R$ 10 mil, há benefícios como plano de saúde completo, participação nos lucros, bônus por produtividade, ajuda de custo para transporte ou moradia e programas de capacitação contínua.
Em alguns polos industriais, como o ABC paulista, Manaus e Camaçari (BA), há registros de empresas que bancam cursos de atualização no Senai ou em centros internacionais de treinamento para manter seus times prontos para novas tecnologias.
Formação e oportunidades para quem quer entrar na área
A boa notícia é que o caminho para ingressar nessas profissões não exige um diploma universitário. Instituições como o Senai, IFs (Institutos Federais) e escolas técnicas privadas oferecem cursos com duração de 1 a 2 anos, que já preparam o aluno para entrar no mercado. Em muitos casos, o estágio obrigatório acaba se transformando em contratação efetiva.
Além da formação básica, investir em certificações específicas — como programação de CLPs Siemens ou Allen-Bradley, manutenção de robôs ABB ou Fanuc, e sistemas SCADA — pode colocar o profissional em um patamar ainda mais valorizado.
O futuro da automação e o papel dos técnicos
Especialistas apontam que a automação no Brasil ainda está em fase de crescimento e deve se expandir para setores como logística, saúde e agronegócio. Isso significa que a demanda por técnicos qualificados tende a aumentar, e quem se capacitar agora poderá colher frutos por décadas.
Para o economista industrial Marcos Rabelo, “o técnico especializado é hoje um ativo estratégico para a indústria, e sua falta pode comprometer a competitividade do Brasil no cenário global”.
O desafio está lançado: investir em formação profissional não é apenas uma oportunidade para jovens e trabalhadores em transição de carreira, mas também uma necessidade urgente para manter a indústria brasileira competitiva frente às potências internacionais.