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Tensões entre os EUA e a China podem favorecer as exportações de soja do Brasil

2 de janeiro de 2019 às 09:04
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Soja Brasil China e Estados Unidos soja comercial

Depois de um ano que testou os nervos do mercado de soja, 2019 parece não estar oferecendo nenhum alívio, com o mercado pronto para uma corrida atribulada no primeiro trimestre

Nos últimos anos, o mercado de soja tem trabalhado dentro de uma estrutura bem definida, na qual os dois principais produtores – Brasil e EUA – venderam seus grandes estoques em diferentes períodos do ano. Enquanto isso, a China – de longe o maior importador – comprou de ambos de forma bastante estável e previsível.
2018, no entanto, foi diferente. Em maio, uma greve de caminhoneiros no Brasil interrompeu o fluxo de mercadorias, incluindo grãos para embarques, para os portos por algumas semanas. Isso levou o governo federal a impor uma tabela de preço fixo para o frete rodoviário. Isso agradou os motoristas, mas criou incerteza entre os exportadores.

O próximo e mais disruptivo capítulo de 2018 ocorreu em julho, quando o governo Trump reduziu as tarifas de importação de vários produtos chineses, acusando a China de práticas comerciais desleais.

A China reagiu impondo tarifas aos produtos norte-americanos, incluindo 25% a mais na soja norte-americana. Essa foi a segunda vez no ano em que a política, e não os fundamentos, ditou a tendência dos preços da soja.

Os negociações portuárias  avaliadas no Brasil, na China e nos EUA a partir do final de julho – avançaram de maneira imprevista.

O preço adicional a ser pago na China pelos grãos dos EUA criou um novo teto para a soja brasileira entregue à China. Os ágios portuários dispararam para refletir a nova realidade e para compensar as perdas nos futuros de soja da CBOT.

Em termos práticos, as novas tarifas foram interpretadas por todos os importadores chineses como um sinal do governo de que não era uma boa ideia assinar acordos com exportadores norte-americanos, disseram fontes do mercado. O Brasil tornou-se o principal fornecedor de soja para a China, e os EUA começaram a aumentar suas vendas para outros destinos.

COLHEITAS HISTÓRICAS

Tudo isso, no entanto, não foi suficiente para absorver o grande volume de culturas colhidas nos EUA, e os agricultores começaram a empilhar seus grãos à espera de melhores condições de mercado.

A saga continuou durante o segundo semestre do ano, com o Brasil se beneficiando de sua vantagem competitiva, a China comprando apenas o que ela estava precisando, já que a situação poderia mudar a qualquer momento, e os EUA, sem seu comprador mais importante, aumentando seus estoques.

Em dezembro de 2017, o Departamento de Agricultura dos EUA estimou que os EUA exportariam 60,56 milhões de toneladas na temporada 2018-19, e o Brasil exportaria um pouco mais, com 65,50 milhões de toneladas.

No entanto, em seu relatório de dezembro de 2018, o USDA atrelou as exportações dos EUA para 2018-2019 a 51,71 milhões de toneladas, e as exportações brasileiras a 81 milhões de toneladas.

O sentimento do mercado mudou no início de dezembro, quando Donald Trump e Xi Jinping jantaram à margem de uma reunião do G-20 em, ironicamente, a Argentina, o terceiro maior exportador de soja do mundo.

Eles concordaram em um possível reinício das exportações de soja dos EUA para a China. No entanto, a falta de detalhes deste encontro paralisou as negociações durante as semanas subsequentes.

Desde então, vários negócios de exportação foram reportados dos EUA para a China, principalmente assinados por empresas chinesas lideradas pelo Estado. Enquanto isso, o ágio brasileiro para embarque em março em Paranaguá perdeu 40% de seu valor durante a semana de 30 de novembro a 7 de dezembro, após as negociações EUA-China.

QUESTÕES POLÍTICAS E PRESSÃO DE FORNECIMENTO PARA CONTINUAR EM 2019

Com a aproximação de janeiro, as condições de mercado para o novo ano permanecem incertas, disseram especialistas.

Em primeiro lugar, as tarifas chinesas sobre os grãos dos EUA ainda estão em vigor e a incerteza permanece em torno dos volumes que poderiam ser comercializados entre os dois países. Os importadores privados permanecem notavelmente ausentes do mercado, e a demanda dos britadores de soja chineses tem sido fraca devido às baixas margens de esmagamento.

Estima-se que os estoques de soja dos EUA atinjam níveis recordes e possam ser despejados no mercado mundial em breve, uma vez que o relacionamento EUA-China se estabilize.

Ao mesmo tempo, o Brasil vai colher uma safra recorde de 120 milhões de toneladas plantadas em ritmo acelerado em outubro, e permitirá que os agricultores colham desde o Natal. Analistas disseram que seria a maior colheita antecipada já registrada.

Alguns traders esperam ver novos grãos chegando aos portos em janeiro, quando os elevadores estão vazios. As exportações foram tão fortes em 2018 que os analistas e as agências governamentais foram forçadas a revisar as planilhas de oferta e demanda anteriores com números que justificavam esses altos embarques. Caso contrário, os balanços patrimoniais de 2018 teriam sido negativos.

Para aumentar as incertezas, o Brasil ainda não descobriu como a tabela de preços fixos para fretes rodoviários será aplicada. Uma decisão da Suprema Corte era esperada para o final de 2018, mas nunca aconteceu. Enquanto isso, uma agência federal disse recentemente que começará a multar as empresas – incluindo os proprietários de produtos, como as casas comerciais – que não respeitam a tabela.




De acordo com a associação nacional de produtores e exportadores de soja Abiove, tudo isso está diminuindo o ritmo de originação, ou novas compras de safras, já que o preço a ser pago pelo transporte não é claro.

O analista Safras & Mercado afirmou que as vendas dos produtores em 9 de novembro estavam em 31,3% da safra total esperada. O número está em linha com a tendência histórica, mas a Abiove disse que poderia ser maior, acrescentando que vai ter dificuldades para aumentar em um montante significativo nas próximas semanas e meses se a questão do frete não for resolvida.

O mercado internacional de soja continua focado na China, que obteve cerca de 3 milhões de toneladas para o ano de 2018-2019 desde a reunião entre Trump e Xi na cúpula do G-20. O fornecimento foi limitado a empresas estatais chinesas, e os traders estão incertos se a compra continuará após os embarques iniciais.

Traders também relataram fraca demanda de operações  chinesas privadas devido a margens fracas. Sem demanda para impulsionar novas aquisições e abordar a questão dos estoques recordes, os traders permanecem incertos se uma redução tarifária melhorará substancialmente os preços dos EUA. De fato, o consenso geral de mercado é de que os preços no Brasil continuarão a declinar para que o país possa permanecer competitivo e se manter no topo da coroa de soja-exportador.


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