Ícone das locadoras nos anos 90, a Blockbuster não acompanhou a revolução do streaming e viu seu império ruir diante da ascensão da Netflix e da era digital.
O que aconteceu com a Blockbuster: Durante os anos 1990 e início dos anos 2000, ir até uma loja da Blockbuster era um ritual de fim de semana. Escolher um filme entre centenas de capas coloridas, conversar com os atendentes, comprar uma pipoca na saída — tudo fazia parte da experiência. A empresa chegou a ter mais de 9 mil lojas em funcionamento ao redor do mundo, com presença em mais de 20 países.
Mas, em questão de poucos anos, esse império desmoronou. A transformação digital liderada pela Netflix, ignorada e subestimada pela Blockbuster no início, acabou sendo fatal. A empresa que dominava o mercado de locação de filmes virou símbolo de uma era que não soube se adaptar.
Afinal, o que aconteceu com a Blockbuster? Como uma marca tão forte, praticamente sem concorrência, perdeu tudo em tão pouco tempo? E qual foi o papel da Netflix nesse enredo de ascensão e queda?
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Neste artigo, vamos relembrar a trajetória da Blockbuster: da fundação meteórica ao auge global, da rejeição a uma proposta da Netflix ao colapso definitivo — e o que ainda resta da lendária rede de locadoras.
O início de um fenômeno global – o que aconteceu com a Blockbuster?
A Blockbuster Inc. foi fundada em 1985, nos Estados Unidos, por David Cook, um engenheiro de software que percebeu o potencial do mercado de locação de filmes. Na época, o setor era dominado por pequenas locadoras de bairro, com catálogos limitados e pouco profissionalismo. Cook decidiu inovar.
A ideia era simples, mas poderosa: criar uma rede de locadoras com um catálogo extenso, visual padronizado, atendimento rápido e sistema automatizado de controle de estoque e devolução. A primeira loja foi aberta em Dallas, no Texas, e logo virou sucesso de público.
Nos anos seguintes, a empresa se expandiu rapidamente. Com apoio de investidores e um modelo de franquias bem definido, a Blockbuster chegou a abrir uma nova loja a cada 24 horas, em média, durante o fim dos anos 80. Em pouco tempo, se tornou a maior rede de locadoras do planeta.
Em 1994, a Blockbuster foi comprada pela Viacom, um dos maiores conglomerados de mídia dos Estados Unidos, por cerca de US$ 8,4 bilhões. A ideia era integrar a locadora ao portfólio de entretenimento da gigante, que incluía a MTV, a Paramount Pictures e outras marcas.
O auge: 9 mil lojas, bilhões em receita e presença mundial
Durante os anos 1990, a Blockbuster virou sinônimo de locação de filmes. As lojas estavam em todas as grandes cidades dos Estados Unidos, Canadá, América Latina, Europa e Austrália. No Brasil, a empresa chegou a atuar em parceria com o grupo Lojas Americanas, abrindo unidades em shoppings e centros comerciais de alto fluxo.
Com mais de 9 mil unidades em operação e 84 mil funcionários ao redor do mundo, a Blockbuster faturava bilhões por ano. Em 2004, chegou ao seu pico, com lucro líquido superior a US$ 500 milhões e presença em 25 países.
A marca era tão forte que passou a influenciar o comportamento cultural. A sexta-feira virou “dia de Blockbuster”, sinônimo de diversão em casa. As campanhas publicitárias eram massivas, as promoções atrativas e o sistema de fidelidade incentivava o retorno dos clientes.
Mas, mesmo no auge, sinais de alerta começaram a aparecer. O mundo estava mudando — e a Blockbuster não parecia interessada em acompanhar essa transformação.
A proposta da Netflix: a chance que a Blockbuster rejeitou
Em 1997, nascia uma pequena empresa chamada Netflix, criada por Reed Hastings e Marc Randolph. O modelo inicial era simples: aluguel de DVDs pelo correio, com uma grande vantagem sobre a concorrência — sem taxas de atraso.
O serviço era cômodo, especialmente para quem morava longe das lojas físicas da Blockbuster. Em 2000, a Netflix ainda era pequena, mas tinha ambição. Foi então que Reed Hastings propôs uma parceria.
A oferta era a seguinte: vender a Netflix para a Blockbuster por US$ 50 milhões, com a condição de que a Netflix administrasse a presença digital da Blockbuster, enquanto esta cuidaria das operações físicas.
A resposta? Uma risada. Executivos da Blockbuster acharam a proposta um absurdo. Para eles, a Netflix era insignificante diante da potência da rede física. A ideia de aluguel via internet parecia exótica e inviável para a maioria dos consumidores.
Esse momento ficou marcado como o ponto de virada no declínio da Blockbuster. A empresa que dominava o mercado não enxergou a inovação à sua frente — e isso custaria caro.
O início do fim: dívidas, má gestão, o que aconteceu com a Blockbuster e a ascensão do streaming
A partir de 2004, o cenário começou a mudar drasticamente. A Netflix, que havia sido rejeitada, continuou crescendo com seu modelo de assinatura mensal por correio. Em 2007, lançou o streaming de filmes pela internet, uma inovação que mudaria tudo.
Enquanto isso, a Blockbuster enfrentava problemas financeiros graves. A Viacom se desfez da empresa em 2004, tornando-a independente novamente. Mas o mercado já não era mais o mesmo.
A Blockbuster tentou reagir. Em 2004, lançou o serviço Blockbuster Online, para competir com a Netflix no aluguel online. Criou também um sistema de assinatura mensal e chegou a remover as odiadas taxas de atraso. Mas foi tarde demais.
A gestão da empresa passou a ser criticada por decisões erráticas e falta de visão estratégica. A infraestrutura pesada, com milhares de lojas e funcionários, não era compatível com o novo cenário digital. A Blockbuster era um gigante lento tentando correr contra uma startup ágil e visionária.
Além disso, com a chegada de novos concorrentes como Amazon Prime Video, Hulu e iTunes, a Blockbuster perdeu espaço no que um dia foi seu território absoluto.
A falência: fim da Blockbuster como rede global
Em 2010, a situação se tornou insustentável. Com dívidas de quase US$ 1 bilhão, a Blockbuster entrou com pedido de falência nos Estados Unidos. Mais de 6 mil lojas já haviam sido fechadas até então.
O que restou da marca foi comprado pela Dish Network, operadora de TV por assinatura, por cerca de US$ 320 milhões. A intenção era usar o nome Blockbuster para promover um serviço de vídeo sob demanda, chamado Blockbuster On Demand. Mas a iniciativa não teve fôlego.
Ao longo dos anos seguintes, o nome Blockbuster foi desaparecendo aos poucos. Em 2013, a Dish anunciou o fechamento das últimas lojas próprias e o encerramento dos serviços por correspondência. O que um dia foi um império do entretenimento físico se transformou em pó.
Hoje, só resta uma única loja Blockbuster no mundo, localizada em Bend, no estado do Oregon (EUA). A unidade é mantida por uma franquia local, que virou ponto turístico, vendendo produtos nostálgicos da era do VHS e DVDs. Um verdadeiro memorial de uma marca que definiu uma geração.
O legado e a lição que fica
O fim da Blockbuster é considerado um dos maiores casos de miopia corporativa da história moderna. Uma empresa que tinha todos os recursos para liderar a revolução digital — base de clientes, marca consolidada, estrutura global — preferiu ignorar a mudança.
A história virou case de estudo em universidades, MBAs e livros sobre inovação. Em especial, a decisão de recusar a compra da Netflix por apenas US$ 50 milhões, em 2000, é considerada uma das maiores oportunidades perdidas do setor de tecnologia e entretenimento.
A Netflix, que começou como uma modesta empresa de entrega de DVDs, tornou-se um império global do streaming, com mais de 260 milhões de assinantes em 190 países e produções originais que venceram Oscars, Emmys e Golden Globes.
Já a Blockbuster virou sinônimo de resistência à mudança. Sua queda é lembrada como um alerta para empresas de todos os setores: nenhuma marca está a salvo da obsolescência, por maior que ela seja.