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O estádio de futebol com 40 mil lugares que pode ser desmontado, embalado e enviado para outro país em dois meses: conheça o incrível Estádio 974

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 28/05/2025 às 12:15
O estádio de futebol com 40 mil lugares que pode ser desmontado, embalado e enviado para outro país em dois meses: conheça o incrível Estádio 974
Foto: CANVA + Adobe + IA
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O Estádio 974 é o primeiro estádio de futebol do mundo totalmente desmontável. Com 40 mil lugares, pode ser embalado e reconstruído em outro país em apenas dois meses. Entenda como funciona.

Na história das Copas do Mundo, estádios costumam ser erguidos como marcos permanentes. Alguns se transformam em ícones nacionais, enquanto outros viram “elefantes brancos”, abandonados logo após o apito final. Mas o Estádio 974, construído no Catar para a Copa do Mundo da FIFA em 2022, é uma exceção radical. Ele foi pensado desde o primeiro parafuso para ser temporário, desmontável e reutilizável em outro país. Com capacidade para 40 mil espectadores, ele é o primeiro estádio de futebol do mundo que pode ser inteiramente desmontado e transferido, como se fosse um gigantesco kit de engenharia modular.

Em um planeta cada vez mais preocupado com o uso racional de recursos, o Estádio 974 se tornou um símbolo global de inovação, sustentabilidade e inteligência construtiva. Sua proposta não é durar, mas servir, desmontar e ressurgir onde for necessário. Essa mentalidade rompe com décadas de projetos megalomaníacos e representa uma alternativa real para países com menos recursos, que desejam sediar grandes eventos sem comprometer seu orçamento ou território com estruturas permanentes.

Por que o nome “Estádio 974”?

A escolha do nome “974” tem um duplo significado — e nenhum deles é estético. O número representa o código de discagem internacional do Catar e também o total exato de contêineres marítimos utilizados na construção da arena. Cada um desses 974 contêineres coloridos tem papel funcional: eles compõem vestiários, bares, sanitários, corredores e salas técnicas. Em vez de revestimentos convencionais, o estádio exibe sua estrutura como parte do conceito visual, revelando a lógica industrial que sustenta sua existência.

Esse modelo de construção reduziu significativamente o uso de concreto, facilitou a montagem e tornou a logística de desmontagem perfeitamente viável. O projeto demonstra que um estádio não precisa ser uma obra imutável para ser eficiente, bonito e funcional. Pode ser inteligente, transitório e útil mais de uma vez.

Localização estratégica: perto do porto e do futuro

O Estádio 974 foi construído em Ras Abu Aboud, uma região costeira de Doha com vista para o Golfo Pérsico. O terreno fica ao lado de um importante porto comercial, fator decisivo para a escolha do local. Como os contêineres foram transportados por navio, a proximidade com a infraestrutura marítima facilitou a logística da obra e garantiu que a desmontagem, quando ocorresse, também pudesse ser feita com agilidade.

Além disso, a localização permite ventilação natural abundante, reduzindo a necessidade de sistemas de ar-condicionado — um desafio comum no clima extremamente quente e úmido do Catar. Esse detalhe permitiu que o Estádio 974 fosse o único da Copa sem climatização artificial.

A construção do Estádio 974: inovação desde o primeiro tijolo

O projeto do Estádio 974 foi assinado pelo escritório Fenwick Iribarren Architects, especializado em arquitetura esportiva, e supervisionado pelo Supreme Committee for Delivery & Legacy, o comitê organizador do Catar 2022. A construção levou cerca de três anos e contou com engenheiros e especialistas em montagem modular.

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Ao contrário de um estádio tradicional, que exige toneladas de concreto armado, fundações profundas e estruturas fixas, o Estádio 974 foi construído com componentes modulares transportáveis, incluindo torres metálicas, suportes de aço e os famosos contêineres reaproveitados. Tudo foi projetado para ser encaixado, parafusado e facilmente desmontado, sem necessidade de demolição.

Essa abordagem não só acelerou o tempo de obra como reduziu drasticamente o desperdício. Segundo o Comitê Organizador, o projeto utilizou menos materiais do que qualquer outro estádio da Copa, gerando uma pegada ecológica 40% inferior à média internacional para arenas esportivas.

Jogos realizados e o encerramento da missão

Durante a Copa do Mundo de 2022, o Estádio 974 foi palco de sete partidas, incluindo jogos da fase de grupos e um confronto eliminatório. Uma das partidas mais lembradas ocorreu nas oitavas de final, quando a seleção brasileira venceu a Coreia do Sul por 4 a 1. O jogo foi acompanhado por milhares de torcedores e marcou a despedida do estádio dos gramados internacionais.

Cumprida sua função, o estádio foi imediatamente desativado, como previsto desde o início. Sem deixar ruínas, sem necessidade de reformas, sem custo de manutenção. Apenas silêncio, empilhamento de contêineres e a promessa de um novo destino.

Como o estádio pode ser desmontado e enviado para outro país?

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A desmontagem do Estádio 974 segue uma sequência logística minuciosa, mas bem mais simples do que a de uma arena convencional. O processo envolve a remoção dos sistemas elétricos e hidráulicos, a separação das estruturas metálicas e o empilhamento dos contêineres em navios cargueiros.

Esse procedimento é possível graças ao uso exclusivo de materiais modulados, pré-fabricados e numerados. Cada peça tem uma função exata e pode ser reinstalada no mesmo padrão ou adaptada a um novo terreno. Em até dois meses, todo o estádio pode ser reconstruído em outro país com as mesmas funcionalidades.

O Catar sinalizou que a estrutura poderá ser doada, vendida ou redistribuída a países em desenvolvimento que desejam ter acesso a uma arena FIFA sem construir do zero. Possíveis interessados incluem países da África, América Central e Ásia, onde há demanda crescente por centros esportivos de médio porte.

Um novo modelo de estádio de futebol para o século XXI

O Estádio 974 não é apenas desmontável. Ele é adaptável, reutilizável e financeiramente viável, algo raríssimo no mundo dos megaeventos esportivos. Ao eliminar os custos de manutenção pós-Copa e permitir a redistribuição de sua estrutura, ele estabelece um novo padrão de legado.

Mais do que um projeto técnico, o estádio representa uma mudança de mentalidade. Ele questiona por que se constroem estruturas de bilhões que serão utilizadas por poucas semanas e depois abandonadas. Ele responde ao problema crônico dos “elefantes brancos” com eficiência, inteligência e respeito ao meio ambiente.

O impacto global e a repercussão internacional

A iniciativa foi amplamente elogiada por organizações internacionais, urbanistas e arquitetos. O jornal britânico The Guardian classificou o Estádio 974 como “uma resposta direta ao desperdício estrutural de eventos globais”. Já a CNN Internacional descreveu a arena como “o primeiro experimento real de sustentabilidade esportiva em larga escala”.

Entidades como a FIFA e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) também destacaram o projeto como uma das mais relevantes inovações da Copa de 2022. A própria GSAS, organização que certifica construções sustentáveis no Oriente Médio, atribuiu nota máxima à arena.

Críticas e pontos de interrogação

Apesar da inovação, o projeto não escapou de críticas. Parte da imprensa internacional questionou o alto investimento público em um estádio que foi usado apenas por sete jogos. Outros apontaram a falta de transparência quanto ao destino final da arena, que até hoje não teve sua nova localização oficialmente confirmada.

Além disso, assim como outras obras da Copa do Catar, o Estádio 974 foi construído em meio a polêmicas sobre condições de trabalho precárias, com denúncias de violações de direitos humanos envolvendo trabalhadores migrantes — um problema que atingiu todo o cronograma de obras do torneio.

Estádio 974 não é um estádio comum. Ele é uma ideia transformadora. Um símbolo de que é possível pensar grande, construir com inteligência e planejar com propósito. Ao nascer com a certeza de que seria desmontado, ele mostrou que a grandeza de uma obra não está na sua permanência, mas no impacto que ela causa — e na forma como desafia o status quo.

Talvez daqui a alguns anos, ele esteja de pé em outro país, com outras cores, outros jogos e outras vozes nas arquibancadas. Mas a mensagem que ele deixou no Catar já ecoa pelo mundo inteiro: é possível reinventar o esporte sem destruir o planeta.

Fontes oficiais utilizadas

  • FIFA.com (Estádios oficiais Catar 2022)
  • Supreme Committee for Delivery & Legacy (Catar 2022)
  • ArchDaily (análise estrutural do projeto)
  • BBC News (série especial sobre infraestrutura da Copa)
  • CNN Internacional (reportagens de sustentabilidade esportiva)
  • GSAS – Global Sustainability Assessment System

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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