O avião hipersônico X-15 dos EUA atingiu Mach 6.7, superou mísseis, fez história e foi cancelado sem explicação. Conheça o sucessor do SR-71 Blackbird.
Durante a Guerra Fria, os céus deixaram de ser apenas o limite para se tornar o novo campo de batalha entre as superpotências. Nesse contexto, os Estados Unidos lançaram mão de projetos militares revolucionários, entre eles dois aviões lendários: o SR-71 Blackbird, o mais rápido avião de reconhecimento já construído, e o ainda mais veloz X-15, um avião hipersônico experimental que atingiu impressionantes Mach 6.7 (7.273 km/h). O que poucos sabem é que, apesar de seus feitos extraordinários, ambos foram aposentados sem explicações públicas claras — especialmente avião hipersônico da NASA – X-15, que teve seu fim selado silenciosamente com o avanço dos satélites.
SR-71 Blackbird: o avião que voava mais rápido que um míssil
Projetado pela divisão Skunk Works da Lockheed, o SR-71 Blackbird surgiu como resposta direta à necessidade de vigilância estratégica dos Estados Unidos sobre territórios hostis. Voando a altitudes superiores a 26 mil metros e alcançando velocidades próximas a Mach 3.3 (aproximadamente 3.540 km/h), ele era mais rápido que qualquer míssil da época.
Seu design era tão avançado que o próprio casco expandia durante o voo devido ao calor gerado pela fricção atmosférica. Por esse motivo, o Blackbird vazava combustível quando em solo — sua estrutura foi projetada para “fechar” completamente apenas em alta velocidade.
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Com sua capacidade de escapar de qualquer ameaça detectada, o SR-71 tornou-se um ícone da aviação hipersônica, operando por décadas sem nunca ser abatido em combate, mesmo realizando missões em territórios altamente vigiados como a União Soviética, Coreia do Norte e China.
O X-15: o avião hipersônico da NASA que ultrapassou todos os limites
Se o SR-71 parecia inatingível, o X-15 foi além. Desenvolvido pela NASA, U.S. Air Force e North American Aviation, o X-15 foi um avião-foguete experimental projetado para testar os limites do voo em alta velocidade e grande altitude.
Em 3 de outubro de 1967, o piloto William J. “Pete” Knight atingiu Mach 6.7 (7.273 km/h), estabelecendo um recorde absoluto de velocidade para aeronaves tripuladas com propulsão própria — um recorde que ainda hoje não foi oficialmente superado por nenhum avião tripulado convencional.
Mas apesar desse feito histórico, o programa foi encerrado poucos anos depois, praticamente sem alarde. O que aconteceu com o avião hipersônico da NASA?
Como funcionava o X-15 – avião hipersônico da NASA
Diferente do SR-71, que decolava e pousava como qualquer jato, o X-15 era carregado até a estratosfera por um bombardeiro B-52 modificado e liberado em altitude. Em seguida, acionava seu motor-foguete XLR99, alimentado por amônia anidra e oxigênio líquido.
Era uma verdadeira cápsula hipersônica. Dependendo do voo, o X-15 atingia entre 80 e 108 km de altitude, entrando brevemente na borda do espaço, o que rendeu a alguns pilotos condecorações oficiais como astronautas.
Com estrutura em liga de titânio e aço Inconel X, o avião resistia a temperaturas altíssimas. Porém, cada voo tinha duração extremamente curta: de 8 a 12 minutos em média, sendo quase todos em trajetórias suborbitais.
A corrida espacial e o fim do X-15
O programa X-15 estava anos à frente do seu tempo. Mas ironicamente, ele caiu vítima do próprio sucesso — ou melhor, da mudança de paradigma na corrida tecnológica global. Com o avanço dos satélites espiões e a priorização de projetos como o ônibus espacial e as missões Apollo, o X-15 foi considerado obsoleto para os objetivos estratégicos da época.
Além disso, a dificuldade de controle, o custo altíssimo de operação e um acidente fatal em 1967, que matou o piloto Michael Adams durante uma missão, reforçaram a ideia de que voos tripulados a velocidades extremas não seriam mais prioritários.
Sem nenhuma cerimônia, o avião hipersônico dos EUA que atingiu Mach 6.7 foi retirado de operação em 1968. Não houve comunicado oficial de cancelamento — apenas uma mudança de foco silenciosa para sistemas não tripulados.
Comparando as duas lendas: SR-71 vs. X-15
Característica | SR-71 Blackbird | X-15 |
---|---|---|
Velocidade máxima | Mach 3.3 (~3.540 km/h) | Mach 6.7 (~7.273 km/h) |
Altitude máxima | 26.000 m | Até 108.000 m |
Propulsão | Turbojatos | Motor-foguete |
Missões | Reconhecimento militar | Pesquisa espacial e de voo hipersônico |
Duração do programa | 1966–1998 | 1959–1968 |
Unidades construídas | 32 | 3 |
Sobrevivência em combate | Nunca abatido | Um acidente fatal |
Apesar do SR-71 Blackbird ser mais conhecido, o X-15 ainda detém os recordes de velocidade e altitude para aeronaves tripuladas com propulsão própria.
A volta dos hipersônicos?
Décadas depois da aposentadoria do X-15, o mundo assiste a um novo renascimento dos aviões hipersônicos. China, Rússia e Estados Unidos estão investindo pesadamente em mísseis e veículos capazes de atingir Mach 5 ou mais. No entanto, todos os projetos atuais são não tripulados — exatamente o oposto do que o X-15 representava.
Entre os novos projetos secretos dos EUA estão o SR-72, sucessor não oficial do SR-71, que pretende atingir Mach 6 com propulsão mista (turbojato e scramjet), e o X-37B, avião espacial não tripulado que realiza missões secretas em órbita.
Mesmo assim, nenhum deles chegou a superar o feito do X-15 com piloto humano a bordo.
Por que o X-15 ainda é insuperável?
O feito do X-15 continua sendo motivo de reverência por engenheiros e pilotos em todo o mundo. Não apenas por sua velocidade, mas pela tecnologia envolvida nos anos 1960, sem os computadores avançados e softwares de controle atuais.
A estrutura do X-15 suportava temperaturas superiores a 650°C, sem o uso de materiais compostos modernos. Seu sistema de navegação era mecânico, e o controle de voo exigia altíssimo nível de habilidade do piloto.
A missão de Pete Knight em Mach 6.7 é considerada um dos voos mais desafiadores da história — até hoje não reproduzido em ambiente operacional por nenhuma outra aeronave tripulada.
O legado silencioso da engenharia hipersônica
O X-15 pode ter sido silenciosamente enterrado nos arquivos da Guerra Fria, mas seu impacto ecoa até hoje. Muito do que se sabe sobre aerodinâmica hipersônica, controle em altitudes extremas e materiais resistentes a altíssimas temperaturas vem do programa experimental.
Além disso, o projeto X-15 serviu de base para a criação do programa espacial tripulado da NASA, influenciando diretamente o desenvolvimento de veículos como o ônibus espacial Columbia e sistemas de reentrada atmosférica.
Uma era que desapareceu antes do tempo
O que torna o caso do X-15 tão marcante não é apenas seu desempenho impressionante, mas o fato de que ele foi encerrado sem justificativa oficial, apesar de representar um avanço inédito. Em vez de ampliar o programa, os EUA o deixaram para trás, optando pelo foco em satélites e missões automatizadas.
Hoje, em uma era em que o mundo volta a falar de aviões hipersônicos, o X-15 ressurge como uma lenda quase esquecida — e um lembrete do que já foi feito com muito menos tecnologia e recursos.
Enquanto isso, o SR-71 Blackbird segue sendo venerado como um ícone da Guerra Fria, embora também tenha sido aposentado antes de qualquer ameaça real conseguir abatê-lo. Juntos, os dois representam o ápice da engenharia de voo dos Estados Unidos — e talvez, o fim de uma era onde a velocidade era a maior arma.