Construção da nova ferrovia que ligará Rio de Janeiro a Vitória promete mudar a logística entre os estados, mas o impacto vai muito além da infraestrutura. Descubra como esse projeto pode transformar mercados e potencializar novas oportunidades para o Brasil.
Um ambicioso projeto ferroviário promete transformar a logística e a integração entre o Sudeste e o Espírito Santo.
Trata-se da Estrada de Ferro 118 (EF-118), uma nova linha férrea que vai conectar o Rio de Janeiro à capital capixaba, Vitória.
O governo federal prevê o lançamento do edital da obra ainda em 2025, com investimento estimado em R$ 3,38 bilhões.
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O anúncio oficial foi feito pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, durante uma participação no programa “Bom Dia, Ministro”, transmitido pelo Canal Gov, quando respondeu a uma pergunta feita pelo jornal A Gazeta.
Segundo o ministro, a ferrovia fará parte do Anel Ferroviário do Sudeste, um conjunto de linhas que pretende melhorar a malha ferroviária entre os estados mais industrializados do país, facilitando o escoamento de cargas e aproximando mercados estratégicos.
Projeto conecta grandes malhas ferroviárias e impulsiona a economia
A nova ferrovia deve se tornar uma rota estratégica ao ligar dois importantes sistemas já existentes: a malha da MRS Logística, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), operada pela Vale.
Ao interligar esses sistemas, a EF-118 vai permitir maior fluidez no transporte de minério de ferro, grãos, combustíveis e produtos industrializados.
De acordo com o ministro Renan Filho, o projeto tem como objetivo facilitar o transporte ferroviário entre o Espírito Santo, o Rio de Janeiro e, por consequência, São Paulo, promovendo uma alternativa mais sustentável e eficiente em relação ao transporte rodoviário.
Ainda segundo ele, o leilão para a concessão da ferrovia está previsto para ocorrer até dezembro de 2025, em um esforço conjunto com a Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário, comandada por Leonardo Ribeiro.
Detalhes do traçado e divisão em trechos da ferrovia
A EF-118 será construída em três segmentos principais, com responsabilidades distintas de execução. A expectativa é que o novo corredor ferroviário tenha mais de 570 quilômetros de extensão.
Veja os detalhes:
• Trecho Norte (ou Ramal de Anchieta): compreende cerca de 80 km entre Santa Leopoldina e Anchieta, ambos no Espírito Santo. Esse trecho será construído pela mineradora Vale como contrapartida pela renovação antecipada da concessão da EFVM.
A empresa já anunciou um investimento de R$ 6 bilhões nesse trecho específico.
• Trecho Central: terá aproximadamente 170 quilômetros e vai conectar o Porto do Açu, em São João da Barra (RJ), a Anchieta (ES). Esse trajeto é considerado vital para o transporte de mercadorias destinadas à exportação via porto.
• Trecho Sul: com cerca de 325 quilômetros, ligará São João da Barra a Nova Iguaçu (RJ). Este trecho é considerado um projeto brownfield — ou seja, reutilizará linhas existentes da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Sua execução depende de acionamento posterior pelo governo federal, sendo tratado como um investimento adicional.
Obra na ferrovia integra pacote de investimentos com recursos de indenizações
O governo federal também planeja iniciar, ainda em 2025, as obras de duplicação da BR-262, rodovia que liga Vitória (ES) a Belo Horizonte (MG).
Parte dos recursos virá do acordo judicial firmado após o rompimento da barragem de Mariana, ocorrido em 2015, um dos maiores desastres ambientais do país.
Essa iniciativa sinaliza a intenção do governo em usar compensações por tragédias passadas para impulsionar o desenvolvimento da infraestrutura nacional, tornando mais seguras e modernas as rotas de transporte no Sudeste.
Integração ferroviária pode revolucionar o transporte de cargas
Além de beneficiar diretamente os estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, a nova ferrovia deve gerar impacto positivo em todo o Brasil.
A maior integração ferroviária pode reduzir custos logísticos, aumentar a competitividade da indústria nacional e reduzir as emissões de carbono ao substituir o transporte rodoviário por trilhos.
De acordo com especialistas em logística, a ferrovia tende a se tornar uma das principais alternativas ao transporte por caminhões, cuja dependência tornou-se um gargalo em diversas cadeias produtivas, especialmente em tempos de aumento do diesel e congestionamento rodoviário.
O Porto do Açu, por exemplo, deve se beneficiar diretamente da conexão com a nova ferrovia. O terminal é considerado um dos mais promissores do país e vem se consolidando como um hub logístico para exportações de petróleo, gás e minério.
Panorama atual das ferrovias no Brasil
Segundo dados atualizados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Brasil possui cerca de 30 mil quilômetros de ferrovias, mas apenas 15 mil estão em operação plena.
O restante sofre com abandono, falta de manutenção ou obsolescência.
O governo federal tenta reverter esse cenário com programas de concessão e autorizações para o setor privado, como o Programa Pro Trilhos, lançado em 2021. Desde então, mais de 80 pedidos de construção de novas linhas férreas foram protocolados, totalizando um potencial de 20 mil quilômetros adicionais.
No entanto, desafios como licenciamento ambiental, desapropriações e financiamento ainda dificultam a expansão mais célere do modal ferroviário. A EF-118, por sua vez, é tratada como um dos projetos prioritários por já contar com estudos avançados e apoio da iniciativa privada.
Impactos socioeconômicos esperados
A construção da EF-118 também pode gerar milhares de empregos diretos e indiretos, especialmente nas fases de obras e operação.
Além disso, cidades como Anchieta, Santa Leopoldina e São João da Barra poderão experimentar crescimento econômico com a chegada da infraestrutura ferroviária.
Com maior mobilidade e redução de custos logísticos, pequenos e médios produtores da região Sudeste também terão mais competitividade no mercado interno e externo. O turismo regional também pode ser impulsionado, com projetos futuros de uso compartilhado das ferrovias para passageiros em rotas turísticas.
Você acredita que a nova ferrovia vai, de fato, reduzir a dependência do Brasil das rodovias ou ainda há muitos desafios pela frente? Comente sua opinião!