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Monumentos de 7.000 anos mostram como antigos pastores enfrentaram mudanças climáticas

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 06/06/2025 às 20:25
Monumentos
Pesquisadores examinam os restos de um monumento de plataforma, o maior tipo de monumento estudado. Geralmente, foram criados em uma única sessão, por vários indivíduos. Crédito: Universidade Estadual de Ohio
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Pesquisadores revelam como monumentos de 7.000 anos no sul da Arábia ajudaram pastores a manter laços sociais em meio à desertificação.

No sul da Arábia, uma nova pesquisa revelou detalhes surpreendentes sobre a forma como antigos pastores adaptaram suas práticas de construção de monumentos durante milhares de anos.

Com base em um estudo publicado na revista PLOS One, arqueólogos analisaram 371 monumentos de pedra na região de Dhofar, em Omã, descobrindo como essas estruturas refletiam a resiliência humana frente às mudanças ambientais e sociais.

Adaptação às mudanças climáticas

Há 7.000 anos, o sul da Arábia era muito diferente de hoje. Durante o Período Úmido do Holoceno, a região recebia mais chuvas e conseguia sustentar grandes grupos de pessoas e seus rebanhos. Os primeiros monumentos datam de 7.500 a 6.200 anos antes do presente. Naquela época, as condições permitiam grandes reuniões, e os monumentos eram construídos em um único episódio por grupos numerosos.

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Porém, à medida que o clima se tornou cada vez mais seco, a região foi se transformando em um deserto. Os grandes agrupamentos humanos se dispersaram, e os monumentos passaram a ser construídos por pequenos grupos em várias etapas, muitas vezes ao longo de anos.

Tecnologia flexível e resiliência social

Segundo a principal autora do estudo, Joy McCorriston, professora de antropologia na Universidade Estadual de Ohio, os monumentos demonstram a flexibilidade tecnológica desses pastores do deserto. Mesmo diante das mudanças climáticas, o papel dos monumentos como símbolo de identidade social permaneceu constante.

“Esses monumentos são marcos da pertença social humana”, afirmou McCorriston. “À medida que esses grupos se tornaram menores e mais espalhados pelo deserto, as interações das pessoas com os monumentos consolidavam um senso de fazer parte de uma sociedade maior.”

Uma visão ampla de milhares de anos

Diferente de pesquisas anteriores, que analisavam apenas períodos ou locais específicos, a nova pesquisa apresentou uma visão holística, conectando as mudanças nos monumentos às transformações na vida das pessoas ao longo de milênios.

O modelo desenvolvido pelos pesquisadores pode até mesmo ser adaptado para estudar a resiliência social em outras regiões, como o Saara, a Mongólia ou os altos Andes.

O peso das pedras conta a história

Um dos aspectos centrais do estudo foi a análise do volume e do tamanho das pedras usadas na construção. Nos primeiros monumentos neolíticos, as plataformas continham pedras grandes, exigindo trabalho coletivo significativo. De acordo com McCorriston, para erguer essas pedras, seriam necessários pelo menos sete homens fortes. Como esses monumentos eram erguidos em um único evento, só podiam ser construídos em uma época em que grandes grupos conseguiam se reunir.

Além disso, esses grandes monumentos serviam como locais de encontro. Durante essas reuniões, as comunidades podiam reunir seus rebanhos, realizar sacrifícios de animais e promover festividades, fortalecendo os laços sociais e culturais.

Transformação para grupos menores

Com a progressiva desertificação, os grandes encontros se tornaram inviáveis. Os grupos passaram a se deslocar constantemente, em busca de água e pastagens para os animais. Mesmo assim, a tradição de construir monumentos continuou, adaptando-se à nova realidade.

Nessa fase, os monumentos tornaram-se menores, com o uso de pedras de dimensões mais modestas. Ainda eram construídos em um único episódio, principalmente para sepultamentos, mas com uma escala reduzida, refletindo a diminuição dos grupos de trabalho disponíveis.

Os trilitos acretivos ganham espaço

Com o agravamento da aridez, os monumentos de acréscimo se tornaram mais comuns. Diferente das construções únicas do passado, essas estruturas eram erguidas de forma gradual, em várias etapas ao longo de muitos anos. Um exemplo desse tipo são os trilitos acretivos, caracterizados por volumes menores de pedra e poucas pedras grandes.

Essas construções permitiam que os pastores continuassem a fortalecer seus laços sociais, mesmo com as limitações impostas pelo ambiente. Cada nova visita ao monumento representava uma oportunidade para adicionar uma nova camada à estrutura, mantendo viva a conexão com a comunidade.

Monumentos como registros sociais

Segundo McCorriston, esses monumentos funcionavam como pontos de memória. “Eles vêm a um monumento e acrescentam sua parte, que é um elemento replicado do todo. Isso ajudou as pessoas a manter uma comunidade, mesmo com aqueles que raramente veem”, explicou.

Embora não seja possível determinar exatamente as mensagens transmitidas por esses monumentos, fica claro que eles carregavam significados compreendidos pelas pessoas que partilhavam o mesmo contexto cultural. Além disso, algumas dessas estruturas podem ter servido como indicadores de informações ambientais importantes, que seriam úteis para outros grupos no futuro.

Informações ambientais e redes sociais

Os monumentos podem ter sinalizado condições locais cruciais. “As pessoas precisariam saber se choveu aqui no ano passado, se as cabras comeram toda a grama, se os pastores usaram essa tecnologia para ajudar a absorver o risco de estar em um ambiente inerentemente variável e arriscado”, disse McCorriston.

Além disso, essas comunidades dependiam de suas redes sociais para trocar recursos valiosos. As trocas envolviam não apenas gado, mas também parceiros de casamento e materiais raros, como conchas, cornalina, ágata e metal.

O trabalho destaca como os monumentos desempenharam um papel essencial na preservação das conexões sociais em um mundo em constante transformação. “Nosso modelo destaca a dependência de monumentos para preservar conexões e se adaptar socialmente a um mundo em transformação”, concluiu McCorriston.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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