Pesquisadores documentam pela primeira vez bagres escalando cachoeiras no Rio Aquidauana, revelando estratégias únicas de migração e reprodução durante a estação chuvosa.
Em novembro de 2024, policiais da Polícia Militar Ambiental do Mato Grosso do Sul presenciaram uma cena inesperada no Rio Aquidauana.
Milhares de bagres-bombus tentaram escalar cachoeiras de até quatro metros de altura.
O episódio ocorreu logo no início da estação chuvosa e surpreendeu até os mais experientes observadores. O mais importante é que se tratava de um fenômeno natural raro, documentado pela primeira vez com riqueza de detalhes.
-
Exército dos EUA aposta em foguete guiado com 98% de confiabilidade e amplia estoque estratégico
-
Novo método dos EUA promete aumentar em até 15% a produção de petróleo de xisto e recuperar parte dos 90% deixados para trás
-
Se os Estados Unidos desligarem o GPS, mais de 6 bilhões de dispositivos civis perderiam sinal imediato em todo o planeta
-
Avanço nuclear da China forçou CIA e Índia a missão secreta no Himalaia cujo fracasso radioativo ficou oculto por 40 anos
Uma semana depois, cientistas brasileiros chegaram ao local para acompanhar de perto o comportamento dos peixes.
Eles observaram que os bagres seguiam um padrão diário: durante a tarde, permaneciam escondidos sob pedras e em poças sombreadas.
Quando o sol baixava, iniciavam a escalada pelas rochas escorregadias, em um movimento coletivo impressionante.
Técnicas de escalada registradas pela primeira vez
As imagens capturadas mostraram como os bagres usavam barbatanas e sucção para vencer a correnteza.
O estudo, publicado no Journal of Fish Biology, descreveu a abertura das nadadeiras pares combinada a movimentos laterais e uso da cauda.
Essa técnica, segundo os pesquisadores, cria um efeito semelhante à sucção, que permite ao peixe se prender a superfícies lisas.
Além disso, os cientistas destacaram que o comportamento foi registrado em grupos grandes, algo ainda mais incomum.
A descoberta forneceu novos detalhes sobre o esquivo bagre-bombus-laranja-e-preto, uma espécie pouco estudada devido à raridade e à preferência por rios de fluxo rápido.
Durante as observações, também foram identificadas três espécies adicionais tentando realizar a mesma escalada, sugerindo que o hábito não é exclusivo de um único peixe.
Relação com a desova e a estação chuvosa
A principal hipótese para explicar a escalada é a migração rio acima para reprodução. Os pesquisadores identificaram tanto machos quanto fêmeas, em sua maioria adultos.
O período coincidiu com o início da estação chuvosa, quando diversas espécies de peixes iniciam a jornada de desova.
Portanto, a associação entre o esforço da escalada e o ciclo reprodutivo parece consistente com outros padrões já conhecidos.
Esse detalhe reforça o valor da descoberta para a biologia da conservação.
Ao compreender melhor os movimentos e necessidades da espécie, os cientistas podem indicar medidas para preservar o habitat. Afinal, a sobrevivência desses peixes depende diretamente da integridade dos rios e de suas rotas naturais.
Importância para a conservação dos rios
O estudo alerta que comportamentos tão específicos podem estar ameaçados por alterações ambientais.
A fragmentação de habitats e o represamento de rios, por exemplo, representam riscos reais para espécies migratórias. Porque sem o livre acesso a corredeiras e cachoeiras, fenômenos como o registrado no Rio Aquidauana podem simplesmente desaparecer.
Além das imagens impressionantes, a pesquisa trouxe uma mensagem clara: proteger os sistemas fluviais é essencial para garantir a continuidade de espécies raras.
Ao documentar esse movimento inédito, os pesquisadores reforçam a urgência em manter os rios livres, permitindo que ciclos de vida tão extraordinários continuem acontecendo.