Sistema ChillWise™ combina concreto celular leve e microcápsulas térmicas para resfriar casas sem energia, usando apenas cinzas de casca de arroz e resíduos agrícolas.
Pesquisadores filipinos transformaram resíduos agroindustriais em uma inovação que promete revolucionar o conforto térmico em países tropicais. O ChillWise™, sistema desenvolvido no Centro de Pesquisa em Engenharia de Recursos Sustentáveis para Tecnologias de Construção (SuRER-CT) da MSU-IIT, usa cinzas de casca de arroz e cinzas volantes para criar painéis passivos que resfriam ambientes sem eletricidade, alcançando até 95% de economia energética.
O projeto é liderado pela Dra. Maria Sheila K. Ramos e nasce como uma alternativa eficiente, ecológica e de baixo custo ao ar-condicionado tradicional.
Tecnologia passiva feita com resíduos agrícolas
O ChillWise™ combina três elementos centrais que atuam de forma complementar. O concreto celular leve (LFC) contém bolhas de ar que funcionam como isolante térmico natural, reduzindo a transferência de calor. Já as microcápsulas de mudança de fase (mPCMs) armazenam calor quando a temperatura interna ultrapassa 32 °C e o liberam à medida que o ambiente esfria, mantendo a temperatura estável sem consumo elétrico. Por fim, o uso de cinza de casca de arroz e cinza volante substitui parte do cimento e elimina o uso de plásticos derivados do petróleo, reduzindo custos e emissões de carbono.
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Esses painéis armazenam calor durante o dia e o liberam à noite, o que suaviza as variações térmicas e diminui a necessidade de refrigeração artificial. Tudo isso acontece sem fios, sem eletricidade e sem emissões.
Origem e desenvolvimento
O sistema surgiu das pesquisas do SuRER-CT, que buscavam reaproveitar resíduos agroindustriais para tornar a construção civil mais sustentável. Três casas protótipo foram construídas para comparação: uma com concreto convencional, outra com LFC e uma terceira com LFC combinado a mPCM. Os testes, realizados segundo a norma ASTM C518, confirmaram a eficiência térmica do ChillWise™, que atingiu condutividade de apenas 0,1239 W/m·K — contra 2,5 W/m·K do concreto tradicional — e reduziu o consumo energético em até 95,04%.
A equipe também envolveu arquitetos, engenheiros de energia e especialistas em economia circular para garantir a viabilidade econômica e escalabilidade do produto em diferentes contextos construtivos.
Resultados experimentais comprovam eficiência
Os experimentos confirmaram a superioridade do ChillWise™. Mantendo constantes os parâmetros de área (72,15 m²), diferença de temperatura (7,4 K) e espessura do painel (0,1524 m), o concreto convencional apresentou ganho de calor de 3,7148 J/s. O LFC reduziu esse valor para 0,1972 J/s, enquanto o ChillWise™ atingiu apenas 0,1841 J/s. A diferença representa uma economia de 95,04% em relação ao concreto comum e uma melhoria adicional de 6,63% sobre o LFC padrão.
Esses números demonstram que a combinação de isolamento térmico, microcápsulas de PCM e materiais sustentáveis não apenas reduz o calor, mas também oferece desempenho mensurável em condições tropicais extremas, tudo sem recorrer a sistemas de resfriamento ativos.
O que o diferencia de outras soluções
A inovação do ChillWise™ está em unir isolamento e armazenamento térmico em um único painel. Enquanto muitos sistemas utilizam cápsulas sintéticas ou à base de combustíveis fósseis, o ChillWise™ encapsula o sal hidratado Na₂SO₄·10H₂O em cinzas de casca de arroz — um resíduo amplamente disponível em regiões agrícolas. Esse composto é incorporado a uma fibra de baixo carbono com cinzas volantes e pozolanas naturais, resultando em um painel que resfria, reaproveita resíduos e reduz emissões.
Seu design modular e não estrutural permite aplicação em paredes existentes ou em novas construções, tornando-o ideal para habitações sociais, escolas públicas e obras comunitárias em climas quentes. A proposta é acessível, local e adaptável — uma tecnologia feita para populações que mais sofrem com o calor extremo.
Planos para o futuro
O desenvolvimento do ChillWise™ segue três eixos principais: expansão industrial, validação prática e certificação técnica. A fase de escala industrial envolve a criação de moldes pré-fabricados e parcerias com setores de arroz e energia para coleta de resíduos em grande volume. Os testes de campo incluem sua instalação em casas populares, escolas rurais e armazéns frigoríficos, a fim de avaliar o desempenho real em diferentes condições.
O processo de homologação busca garantir a proteção intelectual e o cumprimento das normas locais e internacionais. Reconhecido pelos prêmios DOST–BPI 2023 e Dyson 2024, o projeto ganhou visibilidade global e atrai novas parcerias para ampliação de sua aplicação comercial.
Um passo para a justiça climática
O ChillWise™ vai além da eficiência energética: ele representa um avanço na adaptação das construções humanas às mudanças climáticas. Em regiões onde o calor já ultrapassa 50 °C, o acesso a tecnologias de refrigeração é um fator de sobrevivência, mas o ar-condicionado ainda é inacessível para milhões de pessoas. O sistema filipino propõe uma solução de baixo custo que reduz a dependência de equipamentos elétricos, diminui as emissões e melhora o bem-estar térmico.
Entre suas contribuições mais relevantes estão:
- Redução do consumo de energia, ao eliminar a necessidade de resfriamento ativo;
- Aproveitamento de resíduos agrícolas, agregando valor a materiais antes descartados;
- Diminuição da pegada de carbono, por usar menos cimento e eliminar plásticos derivados de petróleo;
- Melhoria do conforto térmico e da saúde, especialmente de crianças e idosos;
- Apoio à economia circular, estimulando cadeias produtivas locais baseadas em reaproveitamento e sustentabilidade;
- Avanço na justiça climática, por levar soluções reais a comunidades vulneráveis.
Conclusão: inovação que age hoje
Mais do que uma tecnologia, o ChillWise™ é uma resposta direta às necessidades de um planeta cada vez mais quente. Sua abordagem prática e acessível alia ciência de materiais, sustentabilidade e responsabilidade social. Ao transformar resíduos em conforto térmico e eficiência energética, a inovação filipina redefine o papel da construção civil na luta contra o aquecimento global.
O projeto demonstra que é possível adaptar as moradias humanas ao novo clima sem recorrer a soluções caras e poluentes. Com ele, a refrigeração deixa de ser privilégio e se torna direito — um direito garantido por inteligência, pesquisa e compromisso ambiental.



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