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Imagens inéditas revelam fundo da Antártida devastado por âncoras e expõem risco ambiental ignorado por navios de turismo

Escrito por Caio Aviz
Publicado em 15/06/2025 às 01:38
Fundo do mar da Antártida com sulcos causados por âncoras e esponjas marinhas danificadas
Imagem mostra sulcos deixados por âncoras de navios no fundo da Antártida, evidenciando os danos irreversíveis à fauna marinha local.
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Marcas de âncoras esmagam fauna marinha e expõem fragilidade dos ecossistemas antárticos diante da falta de regulamentação internacional

Pela primeira vez na história, pesquisadores conseguiram registrar com riqueza de detalhes os estragos provocados por navios no fundo do mar da Antártida.

As evidências foram obtidas entre dezembro de 2022 e março de 2023, no auge do verão austral, por uma equipe internacional de cientistas da ONG Kolossal (EUA), da Universidade Memorial de Newfoundland (Canadá) e do Instituto Nacional de Pesquisa da Nova Zelândia. Os dados inéditos foram publicados em 8 de junho de 2025 na revista científica Frontiers in Conservation Science.

O estudo revelou que sulcos, esponjas esmagadas e organismos marinhos desaparecidos foram diretamente causados pela ancoragem de grandes embarcações em águas rasas e frágeis. O local afetado fica na Península Antártica, considerada uma das áreas mais sensíveis e aquecidas do continente.

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Pesquisa inédita revela impacto direto da atividade humana

Durante mais de 62 horas de filmagens submersas, os pesquisadores documentaram danos extensos em áreas com profundidades entre 70 e 82,5 metros.

As imagens, captadas por câmeras submarinas, mostraram sulcos no leito oceânico e a destruição de colônias de esponjas bentônicas. Além disso, foram registradas regiões inteiras onde a fauna desapareceu por completo.

De acordo com os cientistas, a comparação entre os locais impactados e áreas vizinhas intocadas deixa claro que a ação humana foi responsável pelas alterações. A recuperação dos ecossistemas pode levar séculos, devido à lentidão no crescimento dos organismos antárticos.

Crescimento do turismo acelera a degradação marinha

Segundo a IAATO (Associação Internacional de Operadoras de Turismo na Antártida), o número de embarcações na região cresceu de 51 navios em 2013–2014 para 77 na temporada de 2023–2024. Esse aumento coloca pressão direta sobre o frágil fundo marinho.

Em março de 2023, por exemplo, oito embarcações lançaram âncoras simultaneamente em uma baía conhecida como Yankee Harbour. A área, próxima à Península Antártica, é ponto de parada frequente de navios turísticos.

O mais preocupante, no entanto, é que nem todas as operações de ancoragem são reportadas. Isso dificulta ainda mais o controle e a preservação ambiental, já que os impactos podem estar sendo subestimados.

Ecossistema polar pode levar séculos para se recuperar

De acordo com Paulo Sumida, oceanógrafo e diretor do Instituto Oceanográfico da USP, o impacto sobre os organismos da Antártida pode ser mais duradouro do que em regiões tropicais. Isso ocorre, sobretudo, devido à taxa extremamente lenta de crescimento dos animais marinhos polares.

Embora um estudo de janeiro de 2022 já tivesse apontado que um fundo oceânico afetado por um navio naufragado há 77 anos no Pacífico ainda não se recuperou totalmente, o fato é que, portanto, os danos causados por âncoras na Antártida também podem, assim, se prolongar por várias gerações.

A fauna bentônica local é crucial para a filtragem da água, o sequestro de carbono e o equilíbrio do ecossistema. Sua destruição pode comprometer funções essenciais do ambiente marinho polar.

Medidas sustentáveis são urgentes, afirmam especialistas

Para conter o avanço da degradação, os cientistas propõem a criação de áreas de exclusão para ancoragem, protegendo os pontos mais vulneráveis. Além disso, defendem o uso de novas tecnologias que dispensem o uso de âncoras tradicionais.

Segundo os pesquisadores, é fundamental iniciar o mapeamento completo das áreas já afetadas e mensurar a extensão dos danos. Com isso, será possível planejar políticas de preservação mais eficazes.

Eles alertam que, sem regulamentação internacional urgente, os impactos podem se agravar ainda mais nas próximas temporadas de turismo.

Antártida sob risco exige ação global imediata

O estudo publicado em junho de 2025 é um alerta claro sobre os riscos que a expansão da atividade humana representa para regiões ainda consideradas intocadas.

A exploração sem controle, especialmente em locais tão frágeis como o fundo do mar da Antártida, portanto, exige uma resposta coordenada entre países, operadoras de turismo e entidades ambientais.

Por isso, a criação de regras internacionais para limitar a ancoragem, fiscalizar operações turísticas e preservar a biodiversidade polar tornou-se urgente.

A pergunta agora é: o que deve ser prioridade — manter o crescimento do turismo antártico ou preservar o ecossistema polar para as futuras gerações? Deixe sua opinião!

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Escrevo sobre o mercado offshore, petróleo e gás, vagas de emprego, energias renováveis, mineração, economia, inovação e curiosidades, tecnologia, geopolítica, governo, entre outros temas. Buscando sempre atualizações diárias e assuntos relevantes, exponho um conteúdo rico, considerável e significativo. Para sugestões de pauta e feedbacks, faça contato no e-mail: avizzcaio12@gmail.com.

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