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Geólogos encontram família vivendo há décadas isolada a 240 km de qualquer civilização na floresta da Sibéria — sem energia, sem rádio e sem saber da 2ª Guerra ou da chegada do homem à Lua

Publicado em 02/11/2025 às 07:07
Sibéria, Floresta, Florestas, Família
Imagem: Ilustração artística feita por IA
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Isolados por mais de meio século, os Lykov viveram na taiga siberiana sem contato com o mundo moderno — sobrevivendo à fome, ao frio e à solidão movidos apenas pela fé e pela autossuficiência

A taiga siberiana é uma das últimas grandes regiões selvagens da Terra — uma imensidão de florestas frias, rios violentos e montanhas cobertas de neve durante a maior parte do ano. Foi nesse cenário inóspito, em 1978, que um grupo de geólogos soviéticos fez uma descoberta surpreendente. Enquanto sobrevoavam uma área remota próxima à fronteira com a Mongólia, os pilotos notaram uma clareira retangular com sinais de cultivo, isolada a mais de 240 quilômetros do povoado mais próximo.

A tripulação ficou intrigada. Não havia registros de assentamentos naquela parte da floresta. Ainda assim, as marcas no solo indicavam a presença humana. Movidos pela curiosidade, os quatro cientistas decidiram investigar.

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A cabana esquecida pelo século XX

Seguindo a rota indicada pelos pilotos, os geólogos caminharam por uma trilha estreita, cruzaram riachos e encontraram uma pequena construção de madeira.

O abrigo era escuro e quase imperceptível entre as árvores. Quando se aproximaram, um homem idoso, descalço e assustado, surgiu na porta. Era Karp Osipovich Lykov. Atrás dele, duas mulheres choravam e faziam o sinal da cruz.

A cena parecia de outro tempo. Com o passar dos dias, os cientistas descobriram que aquela família vivia ali há décadas, completamente isolada da civilização.

Karp era um “Velho Crente”, seguidor de uma vertente ortodoxa perseguida desde o século XVII.

Durante as campanhas ateístas da União Soviética, nos anos 1930, o irmão de Karp foi morto por um grupo armado.

Temendo o mesmo destino, ele fugiu com a esposa, Akulina, e os dois filhos pequenos para dentro da floresta. A cada ano, o grupo se afastava mais, até perder qualquer contato com o mundo.

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A propriedade rural da família Lykov vista de um avião de reconhecimento soviético, 1980.

Infância na solidão absoluta nas florestas

Na taiga nasceram mais duas crianças: Dmitry e Agafia. Nenhum deles conheceu a vida fora da mata. Sem escola, eletricidade ou qualquer contato humano, aprenderam a ler apenas com a Bíblia e livros de oração, usando galhos de bétula como penas.

Eles não sabiam o que eram guerras, satélites ou governos. O tempo se media pelo sol, pelas colheitas e pelos rituais religiosos.

O cotidiano girava em torno do plantio, da oração e da sobrevivência ao frio. As histórias contadas à noite eram sempre as mesmas, cheias de símbolos espirituais.

Fome, frio e resistência

A família vivia no limite. As roupas eram confeccionadas a partir do linho que eles mesmos cultivavam. Quando as panelas de metal se deterioraram, passaram a usar recipientes feitos com casca de árvore.

Nos anos 1950, as colheitas começaram a falhar. Em 1960, uma nevasca precoce destruiu toda a plantação.

Sem alimentos, comeram raízes, couro e até casca de árvore. Para poupar os filhos, Akulina deixou de se alimentar e morreu de fome em 1961.

O que salvou os sobreviventes foi um único grão de centeio que germinou na horta. A partir dele, conseguiram reconstruir lentamente o cultivo, multiplicando as sementes com extremo cuidado.

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Os Lykovs viviam nesta cabana de madeira construída à mão, iluminada por uma única janela e aquecida por um fogão a lenha que produzia muita fumaça.

A chegada dos geólogos

Quando os cientistas chegaram, ficaram impressionados com a engenhosidade dos Lykov. Dmitry era capaz de caminhar longas distâncias na neve sem sapatos e construir ferramentas rudimentares com madeira e ferro velho.

Agafia, a caçula, se destacava pela energia e curiosidade. Karp, já envelhecido, mantinha-se firme nas regras religiosas, aceitando quase nada do que os visitantes ofereciam.

Durante muito tempo, eles aceitaram apenas sal, um item que faltava há quarenta anos. Depois, permitiram receber cobertores, sementes e uma lanterna. A televisão dos geólogos os deixou fascinados, mas preferiram se concentrar nas orações.

Tristeza após o reencontro com o mundo

O reencontro com a civilização, contudo, veio tarde demais. Em 1981, apenas três anos após a descoberta, três dos quatro filhos morreram. Savin e Natalia, debilitados pela dieta pobre, tiveram falência dos rins.

Dmitry contraiu pneumonia após ajudar os visitantes e recusou ser levado de helicóptero. Morreu na cabana, fiel à crença de não deixar a taiga.

Restaram apenas o velho Karp e Agafia. O governo soviético tentou convencê-los a se mudar, oferecendo abrigo e tratamento. Eles se negaram.

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Uma foto da imprensa russa mostra Karp Lykov (segundo à esquerda) com Dmitry e Agafia, acompanhados por um geólogo soviético.

A escolha de permanecer

Agafia fez uma breve viagem para conhecer o mundo moderno. Voltou em choque com o barulho, a pressa e a poluição das cidades. Disse que, apesar das dificuldades, preferia o silêncio e o ar puro da floresta.

Em 1988, Karp morreu dormindo. Agafia o enterrou sozinha, com ajuda dos amigos geólogos, e decidiu continuar vivendo exatamente como antes.

A última sobrevivente das florestas

Com o passar dos anos, Agafia se tornou uma figura quase lendária. Mesmo idosa, manteve a rotina de rezar, plantar e seguir o calendário religioso da família.

Por causa da idade avançada, passou a aceitar ajuda externa. Voluntários começaram a levar alimentos, ferramentas e remédios.

Um empresário russo construiu uma nova casa de madeira para ela enfrentar o inverno com mais segurança.

Ainda assim, Agafia nunca deixou a taiga. Continua vivendo no mesmo pedaço de floresta onde nasceu, cercada pelo silêncio e pelas lembranças da família.

Fé e isolamento como destino

A história dos Lykov desperta fascínio porque representa um limite extremo da fé e da resistência humana. Eles abriram mão de conforto, convivência e alimento em nome de suas crenças.

Durante quase meio século, viveram invisíveis ao mundo moderno, sobrevivendo apenas com o que a natureza oferecia.

Quando finalmente foram encontrados, pareciam vindos de outro século — pessoas que atravessaram o tempo sem participar dele.

A fé que os isolou também os manteve vivos. Cada gesto, cada oração e cada colheita eram um ato de sobrevivência espiritual e física.

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A fidelidade de Agafia a história da família

Hoje, Agafia é a última representante dessa escolha radical. Sua permanência na floresta não é apenas resistência, mas também continuidade.

Ela mantém o mesmo ritmo que o pai criou: acordar cedo, rezar, cuidar da horta e do fogo. Mesmo com o peso dos anos, continua convencida de que aquele isolamento é o caminho certo.

Na cabana dos Lykov, o tempo parece suspenso. As estações mudam, a neve cobre as montanhas, mas a rotina permanece igual.

Agafia se tornou símbolo de uma vida guiada pela fé e pela renúncia. Sua decisão de ficar, apesar de tudo, é a expressão mais pura da fidelidade — à família, à tradição e à própria convicção.

A taiga mudou. O mundo mudou. Mas o pedaço de floresta onde vive a última Lykov continua guardando a mesma essência: a de uma história que desafia o tempo e a solidão, mostrando até onde um ser humano pode ir para permanecer fiel a si mesmo.

Com informações de Smithsonianmag.

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Romário Pereira de Carvalho

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