Em “Comandante” (2023), a trama real e surpreendente do capitão Salvatore Todaro é contada em detalhes. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele arriscou a vida da tripulação para resgatar inimigos naufragados. Em meio ao caos do combate naval, Todaro escolheu a empatia, inspirando gerações
Poucos momentos na história naval da Segunda Guerra Mundial são tão surpreendentes e dramáticos quanto o episódio de um comandante italiano que, em meio ao caos e ao risco de ataques aéreos britânicos, decidiu colocar a vida de sua tripulação em perigo para resgatar náufragos inimigos.
Esse é o pano de fundo do filme italiano “Comandante” (2023), baseado no livro de Sandro Veronesi e dirigido por Edoardo de Angelis.
A produção cinematográfica revive uma trama real e emocionante sobre guerra, moralidade e coragem, levando o público a conhecer a vida a bordo do submarino italiano Comandante Cappellini durante o conflito bélico mais devastador da história.
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Salvatore Todaro e a ousadia no comando do Cappellini
Inspirado na verdadeira história do comandante italiano Salvatore Todaro, o filme revela os intensos desafios enfrentados pelo oficial e sua tripulação a bordo do submarino Cappellini em plena Guerra Aeronaval do Atlântico, em 1940.
Todaro, nascido em 1908 e conhecido por sua cultura e caráter distintivo, é retratado no filme pelo ator Pierfrancesco Favino.
Em uma época onde o lema de guerra se sobrepunha a quaisquer normas de humanidade, Todaro demonstrou um tipo de bravura que ia além do campo de batalha, arriscando-se para salvar vidas mesmo daqueles que, em tese, eram seus inimigos.
Durante uma patrulha nas proximidades da Ilha da Madeira, o submarino Cappellini interceptou o navio mercante belga Kabalo.
O navio, que transportava materiais bélicos para as forças britânicas, navegava sem qualquer iluminação, o que o tornava um alvo em potencial.
Mesmo equipado com armamento próprio, o Kabalo foi rapidamente abatido pelo Cappellini, que utilizou tiros de canhão para afundá-lo.
Todaro, no entanto, fez algo inesperado: ordenou o resgate de 26 sobreviventes do navio belga. Essa decisão de salvamento, em pleno cenário de guerra, foi contra os princípios militares da época, expondo o próprio submarino a perigos adicionais.
Rebocando as embarcações salva-vidas dos náufragos, o Cappellini passou três dias navegando na superfície até deixá-los em segurança na Ilha de Santa Maria, em Portugal.
O “Dom Quixote do Mar” e o segundo resgate
A atitude humanitária de Salvatore Todaro logo se repetiu. Em outra missão, ele atacou e afundou o navio mercante Shakespeare, mas também resgatou os náufragos.
Estes foram levados para Cabo Verde, em mais uma manobra arriscada que colocava em xeque os protocolos de combate da época.
Embora Todaro fosse altamente respeitado por sua tripulação e por parte de seus pares, seu comportamento no campo de batalha incomodou Karl Dönitz, o almirante e comandante das forças de submarinos da Alemanha nazista.
Para Dönitz, as ações de Todaro eram impulsivas e inapropriadas para um cenário de guerra; ele chegou a apelidar o comandante italiano de “Dom Quixote do Mar”, em uma clara referência ao idealismo considerado inapropriado para o teatro de operações.
Desafios e tensão a bordo do submarino
O longa “Comandante” consegue traduzir a atmosfera sufocante e cheia de tensão que permeava o submarino Cappellini.
As cenas intensas retratam o impacto psicológico da guerra sobre a tripulação, destacando os dilemas morais e éticos de seu comandante. Em meio ao conflito, Todaro emerge como um líder carismático e decidido, cuja ética se sobrepõe à brutalidade da guerra.
Segundo Veronesi, autor da obra original, Todaro possuía uma visão de mundo única, que o fazia questionar as normas militares que, na época, incentivavam a eliminação completa do inimigo sem qualquer compaixão.
Conforme o filme, essa liderança singular de Todaro inspirou respeito e fidelidade de seus subordinados, ainda que suas atitudes muitas vezes desafiassem as regras militares convencionais.
Reconhecimento póstumo e homenagem pela Marinha Italiana
Apesar das controvérsias e críticas que recebeu, Salvatore Todaro foi condecorado pela Marinha Italiana e sua coragem foi lembrada por gerações seguintes.
A força naval do país o homenageou batizando duas embarcações com seu nome: a corveta F550 e o submarino S 526, em reconhecimento ao seu legado e aos feitos heroicos que o tornaram uma figura icônica.
Para o público italiano e internacional, a trajetória de Todaro simboliza o conflito entre as obrigações militares e os valores humanitários.
Em uma época marcada por extremismos, Todaro optou por ações que muitos de seus contemporâneos julgariam imprudentes, mas que, na verdade, revelam um tipo raro de heroísmo.
Produção de impacto e a crítica à segunda guerra
O filme, dirigido por Edoardo de Angelis e lançado em 2023, destaca a brutalidade da guerra, enquanto contrasta com os valores morais de um comandante que desafiou as normas para salvar vidas.
De Angelis trabalhou junto ao roteirista Sandro Veronesi para trazer uma perspectiva detalhada e emocional sobre o papel de Todaro durante a Segunda Guerra.
O enredo explora não apenas a ação de combate, mas também a complexidade da tomada de decisões no cenário naval, em que a vida humana, frequentemente, é tratada como uma simples estatística.
“Comandante” não se limita a ser apenas uma história de guerra; ele é um convite à reflexão sobre a humanidade que pode existir em meio à crueldade do conflito.
Conforme a produção, o ambiente de guerra evidencia tanto os piores quanto os melhores aspectos da humanidade, trazendo à tona a coragem, a empatia e a resiliência de Todaro.
Uma história que ecoa até hoje
A história do comandante italiano Salvatore Todaro levanta questões sobre ética e moralidade na guerra.
Será que é possível manter princípios humanitários em meio a um conflito devastador? O legado de Todaro sugere que sim, mesmo que isso signifique desafiar os superiores e arriscar a própria vida e a de sua tripulação.