Depósito colossal de urânio no norte da China pode mudar o equilíbrio global de poder energético, garantindo autossuficiência a Pequim e reposicionando o país como potência estratégica no mercado nuclear internacional
A China acaba de revelar uma descoberta que pode redefinir a geopolítica energética global. Neste primeiro semestre de 2025, o governo chinês anunciou oficialmente a identificação de uma mega reserva de 30 milhões de toneladas de urânio na região de Jingchuan, no Deserto de Ordos, na província autônoma da Mongólia Interior. Segundo a Futura Sciences e a Global Times, trata-se de uma das maiores jazidas já localizadas no mundo, e a primeira do tipo em uma região formada por arenito eólico.
A descoberta foi confirmada pela China Geological Survey, subordinada ao Ministério de Recursos Naturais, que afirma que a reserva “elevará significativamente a segurança energética do país” e poderá abastecer as necessidades nucleares chinesas por gerações. Com 11 reatores em construção e 29 novos planejados, a China agora se aproxima de uma inédita independência na produção de combustível nuclear, reposicionando-se como player dominante no setor.
Uma mina monumental sob as dunas de Ordos
Enterrado sob camadas de areia em uma das regiões mais inóspitas do país, o depósito descoberto em Jingchuan representa um feito tanto geológico quanto tecnológico. A área faz parte da Bacia de Ordos, uma vasta região rica em recursos fósseis e minerais, mas até então inexplorada em profundidade para urânio.
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A Futura Sciences aponta que tecnologias de ponta como LiDAR geológico, sensores subterrâneos e perfuração remota foram essenciais para localizar o urânio sob o arenito. A dificuldade de acesso e as condições desérticas dificultavam qualquer exploração convencional até então.
Segundo o comunicado oficial da China Geological Survey, esta é a primeira descoberta de um depósito ultragrande de urânio em ambiente de arenito eólico do mundo, abrindo novas possibilidades para exploração em outras áreas semelhantes da China, como as bacias de Tarim e Junggar.
O impacto imediato da descoberta é a autossuficiência estratégica: com o novo depósito, a China reduz sua dependência de exportações de países como Cazaquistão, Austrália e Canadá, que até então dominavam o mercado de urânio natural.
Segundo a Nuclear Energy Agency, o consumo de urânio da China tende a explodir nas próximas décadas, acompanhando a expansão agressiva do parque nuclear chinês. Hoje, o país opera 56 reatores comerciais e lidera o mundo em novas construções.
Com a nova reserva, Pequim ganha uma vantagem competitiva em acordos climáticos, segurança energética e nas futuras disputas geopolíticas em torno de recursos críticos.
Impacto global e redesenho do mercado de urânio
A entrada da China como produtora massiva de urânio poderá mexer diretamente com os preços internacionais e desestabilizar a posição de líderes tradicionais como Cazaquistão (Kazatomprom), Canadá e Namíbia.
Segundo o Global Times, a descoberta chinesa vem em um momento de realinhamento no setor: empresas estatais russas como a Rosatom já começaram a transferir posições em jazidas para holdings chinesas, antecipando o novo cenário de concentração asiática de poder.
Além do domínio técnico, a China ganha um trunfo diplomático. Controle sobre o urânio significa poder de barganha, tanto nas negociações sobre mudanças climáticas quanto na definição das futuras rotas comerciais de energia limpa.
Com a crescente pressão internacional pela redução de carbono, o urânio, por mais controverso, continua sendo um pilar essencial da energia de baixa emissão. E a China já vinha se posicionando como líder global em energia solar e eólica.
Agora, com uma base sólida em energia nuclear abastecida internamente, Pequim pode oferecer pacotes híbridos de tecnologia limpa para países em desenvolvimento, criando novos vínculos comerciais e diplomáticos com economias emergentes.
Especialistas alertam que o avanço chinês pode acelerar o desenvolvimento de cadeias de suprimento nucleares alternativas, enfraquecendo o peso regulatório ocidental em mercados como o da África, Ásia Central e América do Sul.