Com mais de 2.700 aeronaves, o Brasil tem a segunda maior frota de aviões agrícolas do mundo. Veja como a aviação de precisão movimenta o agro com tecnologia e combate a pragas em larga escala.
Nos céus silenciosos do interior do Brasil, uma frota invisível à maior parte da população desempenha um dos papéis mais estratégicos do agronegócio: os aviões agrícolas, que diariamente cruzam plantações de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar para proteger, nutrir e potencializar a produtividade no campo. Com mais de 2.700 aeronaves registradas até o início de 2025, o Brasil se consolidou como a segunda maior frota de pulverização agrícola do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. Esse exército aéreo do agro é composto por turboprops de última geração, modelos nacionais como o Embraer Ipanema e helicópteros adaptados para missões específicas, operando com altíssima precisão, agilidade e tecnologia embarcada.
A aviação agrícola brasileira não é apenas uma solução logística — ela é parte fundamental de uma agricultura moderna, sustentável e tecnificada, com impacto direto na segurança alimentar global e na balança comercial do país.
Aviação agrícola: o que é, como funciona e por que é estratégica
A aviação agrícola é o uso de aeronaves para aplicação aérea de insumos no campo: fertilizantes, defensivos agrícolas, bioinsumos, sementes e até controle biológico de pragas. Também é utilizada em operações de combate a incêndios, semeadura em áreas remotas e manejo ambiental.
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O principal diferencial da pulverização aérea é a velocidade e a cobertura em larga escala. Um único avião pode tratar até 500 hectares por dia, com distribuição uniforme e redução significativa do pisoteio do solo — algo comum em aplicações terrestres.
Além disso, os aviões modernos contam com GPS agrícola, sensores de altura, vazão controlada por software e tecnologias de agricultura de precisão, que reduzem o uso de insumos, evitam sobreposição e minimizam impacto ambiental.
Hoje, o setor é responsável por cerca de 35% da pulverização realizada no Brasil, sendo essencial em regiões com alta umidade, solos alagadiços ou grandes extensões produtivas — como o MATOPIBA, o Centro-Oeste e o Oeste da Bahia.
A segunda maior frota de pulverização do mundo
Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), o Brasil tinha em 2021 2.432 aeronaves agrícolas registradas — sendo 2.409 aviões de asa fixa e 23 helicópteros. Desde então, o número não parou de crescer.
No início de 2025, o país alcançou 2.722 aeronaves, consolidando-se como a segunda maior frota agrícola do planeta, superando potências agrícolas como Austrália, Argentina e Canadá. A liderança global ainda é dos Estados Unidos, com cerca de 3.600 aeronaves.
Esse crescimento é impulsionado pelo avanço tecnológico, pela expansão das áreas cultivadas e pela demanda por produtividade com sustentabilidade. O campo brasileiro se tornou altamente dependente de soluções aéreas para manter a competitividade.
O protagonismo do Embraer Ipanema e dos turboprops no agro
Entre os modelos mais populares no Brasil está o Embraer Ipanema, aeronave agrícola nacional com mais de 1.500 unidades já produzidas desde os anos 1970. Atualmente, o modelo é fabricado pela Embraer Indústria Aeronáutica, em Botucatu (SP), e é o único avião do mundo movido a etanol com certificação para aviação agrícola.
Em 2024, foram registradas 65 novas unidades do Ipanema, número expressivo que reforça a confiança do setor em soluções nacionais adaptadas ao território brasileiro.
Além do Ipanema, turboprops de maior porte vêm ganhando espaço, como os modelos Air Tractor AT-402 e AT-802, Thrush 510G e PZL Dromader, que oferecem maior capacidade de carga e autonomia, sendo ideais para grandes propriedades e missões de múltiplas aplicações.
O uso de helicópteros também vem crescendo em nichos como bananais, cafezais e áreas montanhosas, onde o voo de asa fixa é inviável.
Agricultura de precisão e tecnologia aérea no campo
A integração da agricultura de precisão com a aviação agrícola elevou o patamar do setor no Brasil. Hoje, as aeronaves atuam com sistemas embarcados de:
- Mapeamento digital de lavoura
- Aplicação em taxa variável
- Controle eletrônico de vazão
- Rastreamento via satélite em tempo real
- Compatibilidade com dados de drones e estações meteorológicas locais
Essa sinergia tecnológica permite aplicações personalizadas por talhão, reduzindo perdas, maximizando o aproveitamento de insumos e evitando a contaminação de áreas sensíveis.
Empresas especializadas em aviação agrícola também oferecem relatórios pós-voo, com mapas de aplicação e análise de eficiência, o que fortalece o uso de dados na tomada de decisão no campo.
Impacto econômico e segurança alimentar
O avanço da frota aérea brasileira não é apenas uma curiosidade estatística — é fator determinante na produtividade agrícola nacional. A capacidade de proteger lavouras com rapidez, especialmente em cenários de pragas emergenciais, evita perdas bilionárias e assegura o abastecimento interno e externo.
Cerca de 60% das exportações agrícolas do Brasil dependem de culturas que utilizam a aviação agrícola em alguma etapa do ciclo produtivo — seja no plantio, no controle fitossanitário ou na colheita. Soja, milho, algodão, arroz e cana-de-açúcar estão entre os principais beneficiados.
Além disso, a aviação agrícola gera mais de 10 mil empregos diretos e indiretos, movimenta centros de manutenção aeronáutica, fábricas de peças e oficinas homologadas, contribuindo para o PIB da aviação geral e do setor agroindustrial.
Desafios e regulamentações
Apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta desafios regulatórios, climáticos e de imagem pública. A aplicação aérea é frequentemente alvo de críticas infundadas sobre deriva e contaminação — mesmo sendo uma das modalidades mais reguladas e fiscalizadas pela ANAC, MAPA e IBAMA.
As aeronaves devem operar com licença específica (CAVAG), pilotos com formação e habilitação agrícola (IFR ou VFR agrícola) e plano de aplicação previamente aprovado. O setor também tem adotado boas práticas ambientais e faixas de proteção, além de promover iniciativas de educação e diálogo com comunidades rurais.
Outra preocupação crescente é a formação de novos pilotos agrícolas. O setor demanda profissionais altamente especializados, com experiência em baixas altitudes, manobras em áreas restritas e domínio técnico de equipamentos embarcados. Iniciativas como o SINDAG e escolas de aviação rural têm sido fundamentais para formar novas gerações.
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