Brasil acelera em eólica offshore com 103 pedidos no Ibama, mostrando potencial para expandir a energia limpa e fortalecer a matriz energética nacional de forma sustentável.
O Brasil vive, portanto, um momento decisivo na expansão da energia eólica offshore, visto que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) registrou 103 pedidos de licenciamento ambiental para complexos instalados no mar.
Essa movimentação demonstra que o país acelera sua aposta no aproveitamento dos ventos marítimos. Que possuem grande potencial para contribuir de forma significativa na matriz energética nacional.
Ademais, a capacidade total solicitada ultrapassa 244 gigawatts (GW), um número impressionante que supera em mais de sete vezes toda a geração eólica atualmente em operação no Brasil.
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Essa fase representa, assim, uma verdadeira revolução energética, em que o Brasil começa a sair da tradição da energia eólica onshore, aquela produzida em terra firme, para se posicionar entre os países que buscam aproveitar os ventos constantes e fortes encontrados em alto-mar. Contudo, o avanço enfrenta desafios regulatórios e técnicos que o país precisa superar para explorar plenamente esse potencial.
Vale destacar que essa nova etapa na geração eólica está inserida em um contexto mais amplo de transição energética global.
Na qual países buscam reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e aumentar a participação de fontes renováveis. Por isso, o Brasil, por sua riqueza natural e diversidade de recursos, tem papel fundamental nesse cenário, especialmente com o crescimento da eólica offshore.
Um histórico da energia eólica no Brasil
A trajetória da energia eólica no Brasil começou, portanto, há pouco mais de duas décadas, acompanhando uma tendência mundial de diversificação da matriz energética em prol das fontes renováveis. Inicialmente, o foco esteve nos parques eólicos terrestres, principalmente no Nordeste, região reconhecida pela qualidade e constância dos ventos.
Ao longo dos anos, o país construiu uma base sólida, tornando-se uma referência mundial na produção de energia eólica onshore. Com uma capacidade instalada que ultrapassa 16 GW atualmente.
Esse crescimento resultou, portanto, de políticas públicas que incentivaram o setor, como os leilões de energia e os programas de apoio financeiro para a instalação dos parques.
Além disso, o sucesso da energia eólica em terra serviu de base para o desenvolvimento do conhecimento técnico, da cadeia produtiva e da mão de obra especializada. Que agora começam a impulsionar a expansão offshore.
Porém, embora o Brasil tenha avançado muito nessa área, o aproveitamento da energia eólica offshore. Ainda estava no início, sobretudo devido às complexidades técnicas e custos mais elevados.
Isso porque a instalação de turbinas em ambientes marítimos exige estruturas mais robustas, tecnologias específicas para suportar ventos fortes e a corrosão da água salgada, além de uma logística complexa para construção e manutenção.
Tudo isso torna o investimento inicial mais caro, mas com potencial compensação em termos de maior eficiência e produção contínua.
Por que o Brasil acelera na energia eólica offshore?
O grande interesse atual por essa fonte tem explicação, portanto, na combinação de fatores ambientais, econômicos e políticos. O Brasil possui um dos maiores litorais do mundo, com ventos favoráveis e áreas marítimas ainda pouco exploradas para geração de energia.
O Nordeste, por exemplo, destaca-se com mais da metade dos pedidos de licenciamento ambiental para parques offshore, refletindo o potencial natural da região.
Além do potencial natural, o contexto global de descarbonização e a busca por fontes limpas e renováveis fortalecem a aposta na energia eólica offshore. Países europeus, Estados Unidos e China já investem pesado nesse segmento, e o Brasil começa a alinhar suas políticas para seguir essa tendência.
Nesse sentido, a aprovação da primeira licença prévia federal para um parque eólico offshore, emitida pelo Ibama no litoral do Rio Grande do Norte, marca um avanço institucional que demonstra que o país cria as condições para estruturar esse mercado.
A legislação aprovada recentemente reforça a segurança jurídica ao estabelecer regras claras para o licenciamento ambiental, além de definir limites para exploração, protegendo áreas sensíveis como unidades de conservação, rotas de navegação e blocos de petróleo e gás. Dessa forma, essas medidas evitam conflitos e garantem que o desenvolvimento da energia offshore ocorra com responsabilidade ambiental e social.
O crescimento do setor offshore também atende à necessidade do Brasil de ampliar sua capacidade energética para acompanhar o desenvolvimento econômico e a demanda crescente. Por isso, a energia eólica offshore pode oferecer uma geração mais constante e previsível, o que ajuda a equilibrar a matriz energética, composta atualmente em grande parte por hidrelétricas, que sofrem com as variações climáticas.
Aspectos técnicos e econômicos que desafiam a expansão
Embora o potencial seja grande, a energia eólica offshore exige investimentos significativos em tecnologia e infraestrutura. Estudos indicam que os custos para implantar parques no mar podem ser até três vezes maiores que os de parques terrestres. Isso ocorre devido à complexidade na instalação das turbinas, à necessidade de fundações especiais no leito marinho e à logística para transporte e manutenção dos equipamentos.
Outro desafio envolve o desenvolvimento da infraestrutura portuária e industrial para fabricação, montagem e transporte das turbinas, que geralmente são de grande porte. Isso exige, portanto, parcerias público-privadas e atração de investimentos internacionais, criando um ambiente propício para a inovação tecnológica e a geração de empregos.
A consolidação do mercado dependerá também da realização de leilões específicos para energia eólica offshore, que o governo precisa organizar para garantir previsibilidade e atratividade aos investidores. Além disso, a integração dessa nova fonte à rede elétrica nacional deve ser planejada para evitar sobrecargas e garantir a segurança do fornecimento.
Além disso, a formação de profissionais especializados se torna fundamental para o sucesso dos projetos. A operação e manutenção das turbinas offshore demandam conhecimento técnico aprofundado, que envolve desde engenheiros até técnicos em manutenção elétrica e mecânica. Portanto, investimentos em educação e treinamento tornam-se, assim, prioridades para o desenvolvimento sustentável do setor.
A importância do Ibama no processo
O Ibama desempenha um papel central na regulação ambiental dos projetos de energia eólica offshore. O órgão analisa os pedidos de licenciamento, que envolvem uma série de estudos e avaliações ambientais para garantir que os impactos se minimizem. Esse processo inclui monitoramento de ecossistemas marinhos, proteção à fauna, avaliação do impacto visual e cuidado com a atividade pesqueira local.
A emissão da primeira licença prévia para um projeto offshore no Brasil não apenas marca um avanço regulatório, mas também indica que o Ibama está estruturado para lidar com os desafios ambientais desses empreendimentos. Isso traz maior segurança para os investidores, que podem planejar seus projetos com base em diretrizes claras.
O Ibama também exige que os projetos contemplem programas de monitoramento ambiental contínuo e planos de descomissionamento das instalações após o término da vida útil. Essas obrigações reforçam, portanto, o compromisso com a sustentabilidade e a preservação dos recursos naturais, aspectos essenciais para o desenvolvimento equilibrado do setor.
Energia eólica offshore como vetor para o futuro sustentável
Além de ampliar a capacidade de geração de energia limpa no Brasil, a energia eólica offshore pode se tornar um componente fundamental para a transição energética global. Uma das possibilidades é a produção de hidrogênio verde, que se gera a partir da eletricidade produzida pelas turbinas eólica offshore. Esse combustível é considerado promissor para substituir fontes fósseis em setores difíceis de descarbonizar, como o transporte marítimo e a indústria pesada.
O Brasil, com seu enorme potencial renovável, pode se tornar um exportador estratégico de hidrogênio verde para a Europa e outras regiões que buscam reduzir suas emissões. Isso coloca o país numa posição de destaque, integrando o mercado internacional de energias limpas e atraindo investimentos para desenvolver tecnologias avançadas.
A energia eólica offshore também poderá estimular o desenvolvimento de novas cadeias produtivas no Brasil, como a fabricação de componentes específicos para turbinas, além da criação de polos industriais e logísticos no entorno dos portos utilizados para transporte e instalação dos equipamentos. Dessa forma, isso poderá gerar milhares de empregos diretos e indiretos, impulsionando a economia local.
Um olhar para o futuro da energia no Brasil
O momento é de expectativa e otimismo, mas também de atenção. O Brasil acelera em eólica offshore em meio a um cenário de desafios regulatórios e técnicos que o país ainda precisa superar. O Congresso Nacional tem papel fundamental para aprovar um marco regulatório sólido e desburocratizado, que evite interferências alheias ao tema e crie um ambiente estável para os investidores.
Além disso, o setor privado, em parceria com órgãos públicos e institutos de pesquisa, precisa avançar em inovação tecnológica, formação de mão de obra especializada e desenvolvimento de infraestrutura. Isso garantirá, portanto, que o potencial offshore seja explorado com responsabilidade e eficiência, gerando benefícios econômicos e ambientais para o país.
Assim, o Brasil caminha para consolidar uma matriz energética cada vez mais diversificada e limpa, contribuindo para a segurança energética e para o combate às mudanças climáticas. Portanto, a energia eólica offshore surge como um importante vetor dessa transformação, sinalizando que o país está pronto para acelerar rumo a um futuro sustentável.